São Paulo, terça-feira, 16 de outubro de 2007

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De saída do FMI, Rato afirma que dólar pode ter queda ainda maior

Dirigente diz que moeda está supervalorizada, e o euro, próximo do equilíbrio

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Já na porta de saída da instituição que comandou pelos últimos três anos e meio e que deixa em meio à maior crise de sua existência, o diretor-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) deu um último rugido. O dólar pode cair mais, sim, disse Rodrigo de Rato, em encontro com um grupo de jornalistas para um café da manhã ontem em Washington.
"Nós ainda vemos espaço para uma desvalorização maior" nos próximos anos, afirmou o espanhol, depois de definir a moeda americana como "supervalorizada" e o euro como "muito próximo" de seu ponto de equilíbrio. Suas declarações influenciaram o mercado internacional, fazendo a moeda do grupo de países da União Européia fechar o dia mais uma vez em alta em relação ao dólar.
A fala de ontem do ainda dirigente do FMI contrasta com o que ele disse em pelo menos três ocasiões recentes, em entrevistas aos diários econômicos "Financial Times" e "Wall Street Journal" e em um evento em Madri, de que a moeda norte-americana havia atingido seu patamar mínimo. É feita na véspera do encontro bianual do Fundo com sua instituição-irmã, o Banco Mundial, e de reunião paralela do G7 que também deve discutir o tema.
Sobre os efeitos da crise imobiliária americana na economia mundial, disse que "os riscos aumentaram, e os desequilíbrios globais pioraram", mas descartou a hipótese de recessão. "O crescimento [da economia] vai desacelerar, mas não num ritmo importante", disse. "Existem vários elementos que dão suporte aos EUA."
No evento, tanto o Bird como o FMI estarão sob nova direção, e as próprias instituições, seu futuro e seu papel deverão ser tema das discussões. O primeiro, agora sob a batuta de Robert Zoellick, tenta se reerguer do escândalo que derrubou Paul Wolfowitz e revê sua política de empréstimos em condições privilegiadas para países de economia emergente como o Brasil e a China.
O segundo, já sob a sombra do francês Dominique Strauss-Kahn, que assume suas funções no fim do mês, tenta ser relevante num contexto em que seus principais devedores quitaram os débitos e querem que seja aprovado um novo sistema de cotas que lhes dê voz mais ativa nas decisões do Fundo.
Sobre sua saída, o diretor-geral pediu licença para usar uma expressão em espanhol: "Deixo Washington com 'muy buen sabor de boca'", respondeu, quando indagado sobre o balanço que fazia na cidade -"buen sabor de boca" pode ser traduzido como "com boas recordações".
Conhecido por sua sisudez, Rato parecia bem-humorado ontem. Ao se dirigir à frente das mesas de café da manhã e encontrar os gravadores dos jornalistas já colocados em seu púlpito, brincou: "Isso aqui parece vitrine da RadioShack", referindo-se ao nome de uma rede popular de eletrônicos nos EUA. Nos pouco mais de 60 minutos que se seguiram, jogaria 2 deles ao chão. Sem querer.


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