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De saída do FMI, Rato afirma que dólar pode ter queda ainda maior
Dirigente diz que moeda está supervalorizada, e o euro, próximo do equilíbrio
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Já na porta de saída da instituição que comandou pelos últimos três anos e meio e que
deixa em meio à maior crise de
sua existência, o diretor-geral
do Fundo Monetário Internacional (FMI) deu um último rugido. O dólar pode cair mais,
sim, disse Rodrigo de Rato, em
encontro com um grupo de jornalistas para um café da manhã
ontem em Washington.
"Nós ainda vemos espaço para uma desvalorização maior"
nos próximos anos, afirmou o
espanhol, depois de definir a
moeda americana como "supervalorizada" e o euro como
"muito próximo" de seu ponto
de equilíbrio. Suas declarações
influenciaram o mercado internacional, fazendo a moeda do
grupo de países da União Européia fechar o dia mais uma vez
em alta em relação ao dólar.
A fala de ontem do ainda dirigente do FMI contrasta com o
que ele disse em pelo menos
três ocasiões recentes, em entrevistas aos diários econômicos "Financial Times" e "Wall
Street Journal" e em um evento em Madri, de que a moeda
norte-americana havia atingido seu patamar mínimo. É feita
na véspera do encontro bianual
do Fundo com sua instituição-irmã, o Banco Mundial, e de
reunião paralela do G7 que
também deve discutir o tema.
Sobre os efeitos da crise imobiliária americana na economia
mundial, disse que "os riscos
aumentaram, e os desequilíbrios globais pioraram", mas
descartou a hipótese de recessão. "O crescimento [da economia] vai desacelerar, mas não
num ritmo importante", disse.
"Existem vários elementos que
dão suporte aos EUA."
No evento, tanto o Bird como
o FMI estarão sob nova direção, e as próprias instituições,
seu futuro e seu papel deverão
ser tema das discussões. O primeiro, agora sob a batuta de
Robert Zoellick, tenta se reerguer do escândalo que derrubou Paul Wolfowitz e revê sua
política de empréstimos em
condições privilegiadas para
países de economia emergente
como o Brasil e a China.
O segundo, já sob a sombra
do francês Dominique Strauss-Kahn, que assume suas funções
no fim do mês, tenta ser relevante num contexto em que
seus principais devedores quitaram os débitos e querem que
seja aprovado um novo sistema
de cotas que lhes dê voz mais
ativa nas decisões do Fundo.
Sobre sua saída, o diretor-geral pediu licença para usar uma
expressão em espanhol: "Deixo
Washington com 'muy buen sabor de boca'", respondeu, quando indagado sobre o balanço
que fazia na cidade -"buen sabor de boca" pode ser traduzido
como "com boas recordações".
Conhecido por sua sisudez,
Rato parecia bem-humorado
ontem. Ao se dirigir à frente das
mesas de café da manhã e encontrar os gravadores dos jornalistas já colocados em seu
púlpito, brincou: "Isso aqui parece vitrine da RadioShack", referindo-se ao nome de uma rede popular de eletrônicos nos
EUA. Nos pouco mais de 60 minutos que se seguiram, jogaria
2 deles ao chão. Sem querer.
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