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VINICIUS TORRES FREIRE
Xepa no fundão dos bancões
"Crash" da Bolsa de NY faz 20 anos; presente de bancões dos EUA é fazer a xepa da crise de crédito deste ano
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VAI FAZER 20 anos, na sexta-feira, que a Bolsa de Nova
York tomou um tombo inédito. Foi o "crash" de 1987. Temeu-se,
por uns dias, pelo apocalipse do capital. Não rolou. O Japão murcharia,
o comunismo levaria a breca, as mil
flores da China floresceriam no pântano maoísta, o tempo passa, o tempo voa, mas Wall Street continuaria
numa boa. O Fed injetou adrenalina
no mercado quando necessário, nos
anos 90 houve um salto de produtividade nos EUA e tudo foi turbinado
ainda por bolhas financeiras, déficit
público e dívida externa.
Para comemorar os 20 anos do
"crash", Citigroup, Bank of America
e JP Morgan anunciaram um fundão de, especula-se, US$ 75 a US$
100 bilhões para limpar parte dos
detritos da crise recente, curada pela
transfusão de centenas de bilhões de
dólares de crédito fácil e barateado
do Fed e do BC Europeu.
O fundão dos bancões compraria
papéis podres, estimados entre US$
320 bilhões e US$ 400 bilhões. Os títulos estavam em veículos especiais
de investimento, negócios com derivativos de crédito que os bancos
apartam do balanço e que foram o
núcleo da crise de julho-setembro,
iniciada por calotes imobiliários. O
lucro dos bancos tomou tombos em
Wall Street devido à operação tapa-buracos, rombos deixados pelo pânico e pela fantástica fábrica de derivativos rentáveis e de baixo risco.
Trata-se, ao mesmo tempo, de
uma xepa organizada com bom marketing e de uma vacina antigripe. O
fundão financiaria a compra e/ou
revenda ("sob nova direção" e nova
embalagem) de papéis encalhados
pela crise. Pode ter papel ainda bom,
mas barato, que o fundão vai carregar até o vencimento. Assim se livra
a cara de quem precisa vender agora,
na baixa, e se embolsa o rendimento
prometido do papel. Tem muito papel infeccioso, "lixo tóxico", que até
pode passar a valer algum. Título
lastreado em crédito imobiliário de
segunda linha, os famosos "subprimes", estaria fora do negócio.
É uma tentativa de regularizar de
vez o mercado de empréstimos de
curto prazo, muitos garantidos por
ganhos da prestação de financiamentos (casa, carro, cartão de crédito, crédito de varejo) -recebíveis.
Os bancos, na verdade, estariam fazendo a si mesmos o favor de ressuscitar um negócio rendoso.
Segundo a "Bloomberg", o secretário do Tesouro dos EUA, Henry
Paulson, ex-presidente do Goldman
Sachs, ainda em setembro chamou
os bancões para, enfim, para dar um
jeito no resto da confusão que eles
mesmos ajudaram a criar, "sem querer querendo", como diria o Chávez
(o humorista mexicano).
No diplomatês financeiro, os bancões disseram que refinanciar os título ("asset backed commercial papers") tem sido "difícil", "apesar da
alta qualidade das garantias". Isso
travou desde empréstimos entre
bancos até o financiamento do varejo japonês. O dinheiro em promissórias lastreadas em dívida ainda está
22% menor em relação ao pico de
junho -encolheu US$ 250 bilhões.
Ontem, caíram os juros de "commercial papers" e a taxa dos swaps
de calote de dívida (CDS, um seguro
contra calotes). Mas teve gente a se
perguntar por que os bancos ainda
precisariam de um fundo tão grande. Estão mal das pernas ou é "para
te comer melhor"?
vinit@uol.com.br
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