São Paulo, terça-feira, 16 de outubro de 2007

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Nobel de Economia vai para 3 americanos

Professores desenvolveram estudo científico para a criação de regras sobre situações em que há conflito de interesses econômicos

Conhecimento é usado para melhorar os resultados em negociações como leilões de privatização e programas de remuneração de executivos

DA REPORTAGEM LOCAL
DO "FINANCIAL TIMES"

Três economistas americanos levaram ontem o Prêmio Nobel de Economia por desenvolver as bases da teoria sobre como criar regras de negociações entre empresas, governos e indivíduos de forma a obter o melhor resultado possível para o maior número de pessoas, independentemente dos interesses particulares de cada participante. Os ganhadores compartilharão um prêmio de 10 milhões de coroas suecas (cerca de US$ 1,57 milhão).
Mais velho cientista a receber um Nobel, o professor Leonard Hurwicz, 90, da Universidade de Minnesota, desenvolveu a chamada teoria do desenho de mecanismos, que estuda essas regras de otimização de negociações, no começo dos anos 60. Nascido na Rússia, mas naturalizado americano, Hurwicz foi mais tarde seguido, em trabalhos separados, pelos professores Eric Maskin, 57, de Princeton, e Roger Myerson, 56, da Universidade de Chicago, também premiados.
O estudo do desenho de mecanismos permitiu a criação de regras de negociação envolvendo interesses econômicos divergentes, como em leilões de privatização, programas de remuneração de executivos ou na incidência de impostos.
No caso de um leilão de privatização, o objetivo pode ser levantar o maior valor possível por um ativo, criar competição, estimular o investimento ou diminuir o custo para o usuário de um determinado serviço, como aconteceu na semana passada com o leilão de concessão de rodovias no Brasil.
Já para as empresas, o programa de bônus alinharia o interesse do acionista de obter o maior rendimento do capital investido com o dos executivos, fazendo com que o corpo dirigente trabalhe acima de tudo para receber a maior participação no lucro no final do ano, em detrimento de eventuais outros interesses, como a manutenção do próprio emprego e a qualidade de vida, entre outros.
A teoria parte do princípio de que os interesses dos agentes participantes de uma negociação são diversos e é impossível saber com precisão qual o grau de disposição, envolvimento e necessidades particulares de cada um. Mesmo assim, é possível criar regras que levem a atingir o mais próximo possível o dado objetivo. A criação dessas regras é matéria de estudo do tal desenho de mecanismos.
Um dos problemas básicos da economia é que os mercados são eficientes, mas funcionam melhor apenas sob algumas suposições bastante extremas. Caso as informações detidas pelos compradores e vendedores sejam privadas -por exemplo, o limite do que uma pessoa estaria disposta a pagar por alguma coisa-, o comércio pode entrar em colapso.
Um exemplo da espécie de problema que a teoria é capaz de avaliar ocorre regularmente quando compradores e vendedores mentem sobre seus motivos ou suas situações econômicas. Uma empresa pode alegar que só está disposta a prestar um determinado serviço por US$ 200, quando na verdade obteria lucro ao fornecê-lo por US$ 150. Outra poderia alegar que está disposta a comprar no máximo por US$ 100, quando na verdade iria até os US$ 170.
Nesse exemplo, o comércio é certamente possível na faixa de preços entre os US$ 150 e os US$ 170, mas talvez não venha a acontecer porque tanto o comprador quanto o vendedor têm incentivos para ocultar suas verdadeiras posições.
Um dos usos futuros da teoria será no ramo da política ambiental, em que os mecanismos de regulamentação serão essenciais para a prevenção do aquecimento global.


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