São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 2008

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Venda trimestral cai nos EUA após 16 anos

Resultados fracos da economia levam Bolsa de NY ao pior pregão desde o crash de 1987; ações perderam cerca de US$ 1,1 tri só ontem

Relatório do Fed aponta corte de investimento de empresas; preocupação atual é com o aumento da taxa de desemprego

Timothy A. Clary/France Presse
O presidente do Fed, Ben Bernanke (à esquerda), e Jan Hopkins, presidente do Clube Econômico de Nova York, antes de palestra

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Os EUA encerraram em setembro um ciclo de mais de 16 anos de trimestres consecutivos de vendas em elevação. A notícia voltou a derreter o mercado de ações, e a Bolsa de Nova York registrou o seu pior pregão desde o crash de 1987.
No total, os investidores norte-americanos viram evaporar cerca de US$ 1,1 trilhão de suas ações ontem, o equivalente a quase a totalidade do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil.
No mercado financeiro, a hipótese de que os EUA entrarão em uma forte recessão já se converteu em certeza. Há enorme dúvida também sobre a eficácia do pacote do Tesouro norte-americano de injeção direta de capital nos bancos.
O Departamento de Comércio divulgou ontem que as vendas comerciais caíram 1,2% no mês passado, quase o dobro do esperado. Foi o terceiro mês consecutivo de queda, algo inédito desde 1992, quando o índice começou a ser medido.
A reação do mercado a esse novo marco da crise foi péssima. A Bolsa de Nova York impôs novamente severas perdas aos investidores, praticamente anulando os ganhos da segunda, quando houve euforia com o pacote de socorro aos bancos.
Sofreram mais impacto justamente as ações de empresas diretamente ligadas ao consumo. Os papéis dos bancos e das companhias do setor de commodities também retrocederam fortemente.
O índice Dow Jones da Bolsa de Nova York despencou 7,87%. O S&P 500 caiu 9,03%, e a Bolsa eletrônica Nasdaq fechou em queda de 8,47%. Nos últimos 12 meses, o Dow Jones já recuou 38,66%.
No pregão de ontem da Bolsa de Valores de Nova York, enquanto nove ações caíam, apenas uma subia. A proporção na Nasdaq foi de 8 para 1.

Resultados ruins
Algumas das principais cadeias de lojas dos EUA, como a Target, anunciaram, na semana passada, queda no faturamento em setembro. As vendas do Wal-Mart cresceram, mas abaixo do esperado. As ações das empresas do setor caíram fortemente ontem.
A rede de pizzaria Domino's anunciou anteontem queda de vendas nas lojas americanas de 6,1% no terceiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado. O resultado foi parcialmente compensado por um faturamento maior fora dos EUA, que se expandiu em 5,4%.
A tendência de redução acontece às vésperas dos últimos meses do ano, quando o comércio consegue a maior parcela de suas receitas anuais.
No setor de commodities, as ações das petrolíferas ExxonMobil e Chevron caíram 10,4% e 9,2%, respectivamente. Na semana passada, o preço do galão (3,8 litros) de gasolina vendida nos postos nos EUA recuou US$ 0,33 -para US$ 3,15. Foi a maior queda semanal desde que o governo começou a acompanhar esses preços.
Relatório do Fed (o BC dos EUA) conhecido como "Livro Bege" também revelou que as companhias cortaram o volume de investimentos produtivos em todo o país em setembro e que empresas e consumidores continuam encontrando dificuldades para tomar crédito. Os dados do Fed também reforçaram as notícias de queda no consumo das famílias.

Emprego e renda
A preocupação agora é com o aumento do desemprego e a redução no rendimento das famílias. Mais de 760 mil vagas foram eliminadas neste ano, e a taxa de desemprego tende a subir acima dos 6,1% atuais.
Nos últimos ciclos de recessão nos EUA, o rendimento médio das famílias caiu entre 3% e 7%, e normalmente foram necessários três anos para uma recuperação. No ano passado, o rendimento médio das famílias norte-americanas foi de US$ 50,2 mil, já abaixo da média de 2000 (US$ 50,6 mil).
No Estado de Nova York, outro indicador mostrou que a produção industrial caiu para o nível mais baixo desde 2001.


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