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Bernanke diz que economia demora a se recuperar e indica novo corte de juros
FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
O presidente do Federal Reserve (banco central dos EUA),
Ben Bernanke, não poderia ter
escolhido dia pior para fazer
um discurso realista. Os índices
que medem as ações despencaram ainda mais com a fala do
chefe da política monetária
norte-americana na hora do almoço, no tradicional Clube
Econômico de Nova York.
Ele falou que a economia vai
demorar para reagir. O crédito
continuará represado. O Fed
pode cortar mais os juros. E a
única notícia positiva é que a
crise é tão grave que, pelo menos, o preço da gasolina vai
continuar a cair. O discurso
sombrio é quase uma cartilha
sobre o que se pode esperar. Eis
os trechos mais relevantes:
1) Economia demora a reagir:
"A estabilização dos mercados
financeiros é um primeiro passo crítico, mas, mesmo com os
mercados estabilizados como
nós esperamos que eles se estabilizem, uma recuperação econômica ampla não acontecerá
imediatamente. A atividade
econômica estava em desaceleração mesmo antes da recente
intensificação da crise";
2) Setor imobiliário e crédito
represado: "O mercado imobiliário continua a ser uma fonte
primária de fragilidade na economia real bem como nos mercados financeiros, e nós temos
visto redução de atividade em
gastos de consumo, investimentos em negócios e mercado
de trabalho. Os mercados de
crédito vão demorar um pouco
para descongelar";
3) Petróleo e commodities:
"As influências limitantes sobre a atividade econômica, porém, serão compensadas de alguma forma pelos efeitos favoráveis dos preços baixos de petróleo e outras commodities";
4) Corte nos juros: "Na semana passada, numa ação sem
precedentes, com outros cinco
importantes bancos centrais e
em resposta às implicações do
aprofundamento da crise sobre
as perspectivas para a economia, o Fed de novo relaxou seu
instrumento de política monetária. Continuaremos a usar todas as ferramentas à nossa disposição para melhorar o funcionamento e a liquidez do
mercado, para reduzir as pressões em importantes mercados
de crédito e financiamento".
Lehman não teve opção
Depois de seu discurso, Bernanke abriu para uma sessão de
perguntas e respostas. Teve de
enfrentar a questão que assombra a todos: o governo errou ao
não socorrer o banco de investimento Lehman Brothers, cuja concordata em 15 de setembro causou o estalo da fase mais
aguda da atual crise?
Bernanke respondeu que
não. Primeiro, argumentou que
o incomoda a idéia de que algumas instituições financeiras
são grandes demais para quebrar. "Não quero ver este país
chegar ao ponto em que tenhamos seis grandes bancos e que o
mercado de crédito seja restrito a eles basicamente. Nós precisamos ter... diversidade."
O chefe do Fed disse que não
tinha a liberdade nem os meios
para socorrer o Lehman como
no caso do Bear Stearns, em
março, num acordo de venda
para o JPMorgan Chase por
US$ 29 bilhões. Também disse
ter sido diferente a oferta de
US$ 85 bilhões para a AIG depois da quebra do Lehman. Essas operações, disse, podem dar
retorno ao governo.
No caso do Lehman, disse,
"não havia mecanismo, não havia opção, não havia um conjunto de regras, não havia recursos de financiamento para
nos permitir enfrentar a situação. Naquele caso... simplesmente não havia garantia suficiente um empréstimo".
Também na tentativa de
acalmar os mercados, o presidente George W. Bush deu declarações sobre a crise, ontem
de manhã. "As decisões que tomamos para ampliar a liquidez
e assegurar os instrumentos financeiros são fortes e são temporárias (...) O governo só vai
comprar uma quantidade de
ações em bancos individualmente. Esses bancos serão controlados de maneira privada."
Como se tornou costume, os
mercados ignoraram a fala e
continuaram em queda livre.
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