São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bernanke diz que economia demora a se recuperar e indica novo corte de juros

FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

O presidente do Federal Reserve (banco central dos EUA), Ben Bernanke, não poderia ter escolhido dia pior para fazer um discurso realista. Os índices que medem as ações despencaram ainda mais com a fala do chefe da política monetária norte-americana na hora do almoço, no tradicional Clube Econômico de Nova York.
Ele falou que a economia vai demorar para reagir. O crédito continuará represado. O Fed pode cortar mais os juros. E a única notícia positiva é que a crise é tão grave que, pelo menos, o preço da gasolina vai continuar a cair. O discurso sombrio é quase uma cartilha sobre o que se pode esperar. Eis os trechos mais relevantes:
1) Economia demora a reagir: "A estabilização dos mercados financeiros é um primeiro passo crítico, mas, mesmo com os mercados estabilizados como nós esperamos que eles se estabilizem, uma recuperação econômica ampla não acontecerá imediatamente. A atividade econômica estava em desaceleração mesmo antes da recente intensificação da crise";
2) Setor imobiliário e crédito represado: "O mercado imobiliário continua a ser uma fonte primária de fragilidade na economia real bem como nos mercados financeiros, e nós temos visto redução de atividade em gastos de consumo, investimentos em negócios e mercado de trabalho. Os mercados de crédito vão demorar um pouco para descongelar";
3) Petróleo e commodities: "As influências limitantes sobre a atividade econômica, porém, serão compensadas de alguma forma pelos efeitos favoráveis dos preços baixos de petróleo e outras commodities";
4) Corte nos juros: "Na semana passada, numa ação sem precedentes, com outros cinco importantes bancos centrais e em resposta às implicações do aprofundamento da crise sobre as perspectivas para a economia, o Fed de novo relaxou seu instrumento de política monetária. Continuaremos a usar todas as ferramentas à nossa disposição para melhorar o funcionamento e a liquidez do mercado, para reduzir as pressões em importantes mercados de crédito e financiamento".

Lehman não teve opção
Depois de seu discurso, Bernanke abriu para uma sessão de perguntas e respostas. Teve de enfrentar a questão que assombra a todos: o governo errou ao não socorrer o banco de investimento Lehman Brothers, cuja concordata em 15 de setembro causou o estalo da fase mais aguda da atual crise?
Bernanke respondeu que não. Primeiro, argumentou que o incomoda a idéia de que algumas instituições financeiras são grandes demais para quebrar. "Não quero ver este país chegar ao ponto em que tenhamos seis grandes bancos e que o mercado de crédito seja restrito a eles basicamente. Nós precisamos ter... diversidade."
O chefe do Fed disse que não tinha a liberdade nem os meios para socorrer o Lehman como no caso do Bear Stearns, em março, num acordo de venda para o JPMorgan Chase por US$ 29 bilhões. Também disse ter sido diferente a oferta de US$ 85 bilhões para a AIG depois da quebra do Lehman. Essas operações, disse, podem dar retorno ao governo.
No caso do Lehman, disse, "não havia mecanismo, não havia opção, não havia um conjunto de regras, não havia recursos de financiamento para nos permitir enfrentar a situação. Naquele caso... simplesmente não havia garantia suficiente um empréstimo".
Também na tentativa de acalmar os mercados, o presidente George W. Bush deu declarações sobre a crise, ontem de manhã. "As decisões que tomamos para ampliar a liquidez e assegurar os instrumentos financeiros são fortes e são temporárias (...) O governo só vai comprar uma quantidade de ações em bancos individualmente. Esses bancos serão controlados de maneira privada."
Como se tornou costume, os mercados ignoraram a fala e continuaram em queda livre.


Texto Anterior: Venda trimestral cai nos EUA após 16 anos
Próximo Texto: Vinicius Torres Freire: Está na hora do pacotão brasileiro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.