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Para instituições estrangeiras, expansão do Brasil poderá ficar em apenas 2,5%
DO ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
Há um consenso cada vez
mais sólido sobre o futuro da
economia brasileira entre analistas, banqueiros e operadores
de mercado: o PIB vai crescer
apenas de 2,5% a 3% no ano que
vem, se a recessão não for muito profunda nos EUA.
Esse foi o cenário exposto
ontem num evento para 120
pessoas da Câmara de Comércio Brasileira-Americana, em
Nova York. A tese do "descasamento" do Brasil da crise externa está totalmente esquecida e
nem sequer foi mencionada.
Lisa Schineller, diretora da
Standard & Poor's, empresa de
classificação de risco, disse que
suas previsões para a economia
brasileira são de um crescimento de 2,8% para 2009. Até
pouco mais de um mês atrás,
nas previsões da S&P, o PIB do
Brasil iria crescer aproximadamente 4% no ano que vem.
A previsão do JPMorgan é
idêntica à da S&P, uma alta de
2,8%. Cassio Calil, diretor do
JPMorgan e com larga experiência em mercados emergentes fala que houve uma contínua reavaliação para baixo nas
previsões que seu banco fez para o Brasil. "No início deste ano
falávamos num PIB de 4% em
2009. Reduzimos para 3% e
agora estamos em 2,8%. A dinâmica dos últimos fatos é que foram determinantes", afirma.
John Welch, ex-diretor do
Bear Stearns na área de análise
para América Latina, fala que a
faixa de crescimento da economia brasileira para 2009 está
ainda incerta, mas dentro da
faixa de 2,5% a 2,8%. "Poderá
ser menor, mas tudo depende
de como será de fato o tamanho
da recessão nos EUA. Um ponto importante é como serão as
reações dos governos a respeito
do comércio internacional. Se
houver mais protecionismo, será uma catástrofe semelhante à
da década de 30", afirma.
Durante o seminário "A crise
global e o seu impacto sobre o
futuro da economia brasileira"
promovido pela Câmara de Comércio Brasileira-Americana,
foi mencionado o fato de a Argentina ter intenção de promover um aumento na tarifa que
os países do Mercosul cobram
de produtos importados. "Esse
tipo de atitude é o que pode levar a mais protecionismo dos
países. Fechados, será mais difícil sair da crise", diz Welch.
Uma das únicas vozes discordantes no debate de ontem foi a
do brasilianista Albert Fishlow,
da Universidade Columbia, de
Nova York. Para ele, o Brasil
tem potencial para crescer entre 3,5% e 4%. "Para o Brasil, de
alguma forma, este é um momento positivo. Havia uma
percepção de que a economia
estava ficando superaquecida.
Agora, haverá um desaquecimento natural por causa da situação externa", avalia.
Entre os grandes pontos de
interrogação sobre o Brasil levantados ontem no seminário,
quatro foram mais mencionados de forma recorrente.
Primeiro, como os bancos
pequenos no país vão se comportar diante do aperto de crédito que deve ser prolongado.
Segundo, como o Banco Central reagirá no ajuste da taxa de
juros. Terceiro, se o governo federal tomará este momento como uma oportunidade para
cortar seus gastos de maneira
eficaz. Por fim, o valor real de
mercado que as principais empresas brasileiras terão ao longo da crise em comparação com
suas concorrentes no exterior.
"Acho que as instituições
não-bancárias em geral não estão se capitalizando como deveriam neste momento. Como
a extensão desta crise deve ser
longa, isso fará a diferença mais
adiante", afirma Cassio Calil.
O toque de bom humor do dia
ficou por conta do otimismo de
Fishlow. Depois de falar sobre
as oportunidades positivas para o Brasil em meio à crise, concluiu que o país poderá se sair
melhor do que entrou. "E o presidente Lula poderá pensar em
terceiro mandato", disse. Apesar de algumas risadas, nenhum dos colegas de Fishlow à
mesa concordou com esse desfecho.
(FERNANDO RODRIGUES)
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