São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 2008

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Para instituições estrangeiras, expansão do Brasil poderá ficar em apenas 2,5%

DO ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Há um consenso cada vez mais sólido sobre o futuro da economia brasileira entre analistas, banqueiros e operadores de mercado: o PIB vai crescer apenas de 2,5% a 3% no ano que vem, se a recessão não for muito profunda nos EUA.
Esse foi o cenário exposto ontem num evento para 120 pessoas da Câmara de Comércio Brasileira-Americana, em Nova York. A tese do "descasamento" do Brasil da crise externa está totalmente esquecida e nem sequer foi mencionada.
Lisa Schineller, diretora da Standard & Poor's, empresa de classificação de risco, disse que suas previsões para a economia brasileira são de um crescimento de 2,8% para 2009. Até pouco mais de um mês atrás, nas previsões da S&P, o PIB do Brasil iria crescer aproximadamente 4% no ano que vem.
A previsão do JPMorgan é idêntica à da S&P, uma alta de 2,8%. Cassio Calil, diretor do JPMorgan e com larga experiência em mercados emergentes fala que houve uma contínua reavaliação para baixo nas previsões que seu banco fez para o Brasil. "No início deste ano falávamos num PIB de 4% em 2009. Reduzimos para 3% e agora estamos em 2,8%. A dinâmica dos últimos fatos é que foram determinantes", afirma.
John Welch, ex-diretor do Bear Stearns na área de análise para América Latina, fala que a faixa de crescimento da economia brasileira para 2009 está ainda incerta, mas dentro da faixa de 2,5% a 2,8%. "Poderá ser menor, mas tudo depende de como será de fato o tamanho da recessão nos EUA. Um ponto importante é como serão as reações dos governos a respeito do comércio internacional. Se houver mais protecionismo, será uma catástrofe semelhante à da década de 30", afirma.
Durante o seminário "A crise global e o seu impacto sobre o futuro da economia brasileira" promovido pela Câmara de Comércio Brasileira-Americana, foi mencionado o fato de a Argentina ter intenção de promover um aumento na tarifa que os países do Mercosul cobram de produtos importados. "Esse tipo de atitude é o que pode levar a mais protecionismo dos países. Fechados, será mais difícil sair da crise", diz Welch.
Uma das únicas vozes discordantes no debate de ontem foi a do brasilianista Albert Fishlow, da Universidade Columbia, de Nova York. Para ele, o Brasil tem potencial para crescer entre 3,5% e 4%. "Para o Brasil, de alguma forma, este é um momento positivo. Havia uma percepção de que a economia estava ficando superaquecida. Agora, haverá um desaquecimento natural por causa da situação externa", avalia.
Entre os grandes pontos de interrogação sobre o Brasil levantados ontem no seminário, quatro foram mais mencionados de forma recorrente.
Primeiro, como os bancos pequenos no país vão se comportar diante do aperto de crédito que deve ser prolongado. Segundo, como o Banco Central reagirá no ajuste da taxa de juros. Terceiro, se o governo federal tomará este momento como uma oportunidade para cortar seus gastos de maneira eficaz. Por fim, o valor real de mercado que as principais empresas brasileiras terão ao longo da crise em comparação com suas concorrentes no exterior.
"Acho que as instituições não-bancárias em geral não estão se capitalizando como deveriam neste momento. Como a extensão desta crise deve ser longa, isso fará a diferença mais adiante", afirma Cassio Calil.
O toque de bom humor do dia ficou por conta do otimismo de Fishlow. Depois de falar sobre as oportunidades positivas para o Brasil em meio à crise, concluiu que o país poderá se sair melhor do que entrou. "E o presidente Lula poderá pensar em terceiro mandato", disse. Apesar de algumas risadas, nenhum dos colegas de Fishlow à mesa concordou com esse desfecho. (FERNANDO RODRIGUES)



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