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Lula ameaça retomar compulsório de bancos
Presidente afirma que BC "tomará de volta" recursos liberados para estimular crédito e que não estão chegando às empresas
Na Índia, brasileiro afirma que países emergentes terão de fazer "revolta dos bagrinhos" para mudar sistema financeiro mundial
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A NOVA DÉLI
Diante da escassez de liquidez, que qualificou como a
preocupação mais imediata do
governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem
que o Banco Central poderá
"tomar de volta" o dinheiro injetado nos mercados financeiros. O recado foi endereçado
aos bancos que continuam a reter os recursos, dificultando a
concessão de empréstimos.
Em uma de suas intervenções na reunião de cúpula do
Ibas (grupo formado por Índia,
Brasil e África do Sul), em Nova
Déli, o presidente já havia afirmado que os bancos estavam
"escondendo" o dinheiro.
""Não podem esconder. O
Banco Central vai acompanhar
isso", disse. "O dinheiro disponibilizado pelo Banco Central é
o compulsório remunerado e,
portanto, é a uma taxa de mercado. Ninguém pode dizer que
está faltando dinheiro no Brasil
para financiamento."
Depois, afirmou que seriam
tomadas medidas de pressão
para que os bancos deixassem
de reter recursos -o presidente lembrou que já foram injetados R$ 100 bilhões no mercado.
"O Banco Central vai ter que tomar uma atitude e tomar o dinheiro de volta", disse. "Vai ter
que pegar o compulsório outra
vez, porque o Banco Central só
vai liberar o dinheiro na medida em que houver a concessão
dos empréstimos."
Desde a semana passada, o
BC vem relaxando a cobrança
de algumas modalidades do recolhimento compulsório, a parcela dos depósitos bancários
que ficam depositados na instituição. A medida, destinada a
aumentar a liquidez no mercado, pode injetar mais de R$ 100
bilhões de reais na economia.
Quanto a uma possível ajuda
do governo a empresas que sofreram perdas após apostarem
na continuidade da queda do
dólar, o presidente disse que
não haverá um plano especial.
"As empresas que apostaram
dinheiro e perderam têm de arcar com as suas responsabilidades. O Brasil está disposto a
criar condições para emprestar
dinheiro pelas regras do mercado", ressaltou Lula.
O presidente disse não saber
quantas empresas estão em dificuldades devido à aposta em
derivativos cambiais, como as
anunciadas nos últimos dias
por Votorantim, Aracruz e Sadia. O assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia,
disse que as informações que
chegaram ao Planalto dão conta de pelo menos 200.
Lula negou que haverá um
resgate das empresas em situação de risco. "O governo não
ajudará empresas. O governo
emprestará dinheiro, através
dos bancos, para quem tiver
condições de pegar dinheiro
emprestado", disse.
Mais cedo, o ministro do Desenvolvimento Indústria e Comércio, Miguel Jorge, havia dito que o governo agiria para
evitar que houvesse quebras
entre as empresas que fizeram
apostas erradas no câmbio,
"mas não a qualquer preço".
Ainda não houve casos que exigiram a intervenção do governo, disse o ministro.
"Vamos analisar caso a caso.
Até agora não foi necessário
porque foram empresas grandes, que têm fôlego para absorver os prejuízos", disse Miguel
Jorge. Para ele, o que houve não
foi investimento, mas especulação. "Elas poderiam ter ganhado, mas muitas delas perderam e agora vão pagar por terem feito este jogo", disse.
"Revolta dos bagrinhos"
Na conclusão da terceira cúpula do Ibas, o grupo formado
por Brasil, Índia e África do Sul,
a única idéia ventilada ainda é
cercada de indagações: a possível substituição do dólar pelas
moedas locais em suas relações
comerciais, algo que já ocorre
entre Brasil e Argentina.
O presidente Lula arrancou
gargalhadas durante a sessão
do Ibas que discutiu a crise, ao
dizer que é preciso uma "revolta dos bagrinhos" dos países
emergentes para reformar o
sistema financeiro mundial.
O primeiro passo da "revolta" pretendida por Lula será
uma encontro de ministros da
área econômica e dos presidentes dos BCs dos três países, que
deve ocorrer em breve.
O jornalista viajou a convite do India Brand
Equity Foundation
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