São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 2008

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Lula ameaça retomar compulsório de bancos

Presidente afirma que BC "tomará de volta" recursos liberados para estimular crédito e que não estão chegando às empresas

Na Índia, brasileiro afirma que países emergentes terão de fazer "revolta dos bagrinhos" para mudar sistema financeiro mundial

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A NOVA DÉLI

Diante da escassez de liquidez, que qualificou como a preocupação mais imediata do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o Banco Central poderá "tomar de volta" o dinheiro injetado nos mercados financeiros. O recado foi endereçado aos bancos que continuam a reter os recursos, dificultando a concessão de empréstimos.
Em uma de suas intervenções na reunião de cúpula do Ibas (grupo formado por Índia, Brasil e África do Sul), em Nova Déli, o presidente já havia afirmado que os bancos estavam "escondendo" o dinheiro.
""Não podem esconder. O Banco Central vai acompanhar isso", disse. "O dinheiro disponibilizado pelo Banco Central é o compulsório remunerado e, portanto, é a uma taxa de mercado. Ninguém pode dizer que está faltando dinheiro no Brasil para financiamento."
Depois, afirmou que seriam tomadas medidas de pressão para que os bancos deixassem de reter recursos -o presidente lembrou que já foram injetados R$ 100 bilhões no mercado. "O Banco Central vai ter que tomar uma atitude e tomar o dinheiro de volta", disse. "Vai ter que pegar o compulsório outra vez, porque o Banco Central só vai liberar o dinheiro na medida em que houver a concessão dos empréstimos."
Desde a semana passada, o BC vem relaxando a cobrança de algumas modalidades do recolhimento compulsório, a parcela dos depósitos bancários que ficam depositados na instituição. A medida, destinada a aumentar a liquidez no mercado, pode injetar mais de R$ 100 bilhões de reais na economia.
Quanto a uma possível ajuda do governo a empresas que sofreram perdas após apostarem na continuidade da queda do dólar, o presidente disse que não haverá um plano especial. "As empresas que apostaram dinheiro e perderam têm de arcar com as suas responsabilidades. O Brasil está disposto a criar condições para emprestar dinheiro pelas regras do mercado", ressaltou Lula.
O presidente disse não saber quantas empresas estão em dificuldades devido à aposta em derivativos cambiais, como as anunciadas nos últimos dias por Votorantim, Aracruz e Sadia. O assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, disse que as informações que chegaram ao Planalto dão conta de pelo menos 200.
Lula negou que haverá um resgate das empresas em situação de risco. "O governo não ajudará empresas. O governo emprestará dinheiro, através dos bancos, para quem tiver condições de pegar dinheiro emprestado", disse.
Mais cedo, o ministro do Desenvolvimento Indústria e Comércio, Miguel Jorge, havia dito que o governo agiria para evitar que houvesse quebras entre as empresas que fizeram apostas erradas no câmbio, "mas não a qualquer preço". Ainda não houve casos que exigiram a intervenção do governo, disse o ministro.
"Vamos analisar caso a caso. Até agora não foi necessário porque foram empresas grandes, que têm fôlego para absorver os prejuízos", disse Miguel Jorge. Para ele, o que houve não foi investimento, mas especulação. "Elas poderiam ter ganhado, mas muitas delas perderam e agora vão pagar por terem feito este jogo", disse.

"Revolta dos bagrinhos"
Na conclusão da terceira cúpula do Ibas, o grupo formado por Brasil, Índia e África do Sul, a única idéia ventilada ainda é cercada de indagações: a possível substituição do dólar pelas moedas locais em suas relações comerciais, algo que já ocorre entre Brasil e Argentina.
O presidente Lula arrancou gargalhadas durante a sessão do Ibas que discutiu a crise, ao dizer que é preciso uma "revolta dos bagrinhos" dos países emergentes para reformar o sistema financeiro mundial.
O primeiro passo da "revolta" pretendida por Lula será uma encontro de ministros da área econômica e dos presidentes dos BCs dos três países, que deve ocorrer em breve.

O jornalista viajou a convite do India Brand Equity Foundation



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