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Com escassez de crédito, comércio cresce menos
Dos 10 ramos pesquisados pelo IBGE, 8 se desaceleraram
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Mesmo antes do "setembro
negro", o comércio sentiu a crise. Em agosto, as vendas na
maioria dos setores desaceleraram na esteira do crédito mais
caro e restrito. Dos dez ramos
pesquisados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), oito perderam ritmo, com destaque para veículos, material de construção e
eletrodomésticos.
"Na expectativa do agravamento da crise, que já era anunciada, os agentes econômicos
anteviram a crise, aumentaram
juros e ficaram mais seletivos
na concessão de crédito", diz
Nilo Lopes de Macedo, economista da coordenação de Indústria e Comércio do IBGE.
Na média, as vendas do varejo
subiram 9,8% na comparação
com agosto de 2007 -menos
do que 11,3% de julho.
Em relação a julho, quando o
índice ficou estável, houve expansão de 1,1% na taxa livre de
influências sazonais. Para Macedo, o bom desempenho foi
assegurado apenas pelo ramo
de supermercados, cujas vendas subiram 1,1% ante julho e
7,8% na comparação com agosto de 2007 sob efeito da queda
do preço dos alimentos. O setor
é o de maior peso no comércio
-40% do índice do IBGE.
Macedo diz que os ramos dependentes do crédito foram
mais afetados pela perspectivas
de estouro da crise. No caso de
veículos, a expansão passou de
24,8% em julho para 2,9% em
agosto. No de materiais de
construção, as vendas desaceleram de 19,3% para 2,4%.
Também perderam fôlego os
setores de móveis e eletrodomésticos -de 19,7% em julho
para 13,1% em agosto- e vestuário -8,4% para 4,3%.
Para Macedo, a restrição do
crédito tende a se agravar, e os
impactos da crise se intensificarão em setembro e outubro.
"Não há dúvida de que o comércio vai sentir o impacto da crise.
Não é preciso bola de cristal para saber isso. Só não sabemos
ainda a extensão e prolongamento desses efeitos."
Outro fator de preocupação,
diz, é a disparada do câmbio,
que pode resultar em aumento
de preços de eletroeletrônicos,
equipamentos de informática e
importados -e afetar o consumo desses produtos. Num segundo estágio, avalia, os alimentos também podem voltar
a subir com a pressão do dólar e
conter as vendas dos supermercados.
Carlos Thadeu Freitas, economista da CNC (Confederação Nacional do Comércio), diz
que o crédito já está mais caro,
escasso e com prazos menores.
Tal cenário, diz, vai segurar
as vendas do varejo, mas o bom
desempenho do ano está assegurado: "Se o comércio não
crescer mais nada até o final do
ano, já tem garantida uma alta
de 9% em 2008." Até agosto, a
expansão foi de 10,6%.
O maior impacto, afirma, virá
em 2009, quando o comércio
deve crescer 5%. "Não será uma
catástrofe porque a renda ainda
vai crescer."
Emerson Kapaz, do IDV
(Instituto para Desenvolvimento do Varejo), crê numa
freada nas vendas, que neste
ano devem avançar abaixo dos
8,5% projetados por ele inicialmente. "Com esse novo cenário, o comércio deve crescer em
torno de 7% neste ano. Esperávamos um Natal excelente, mas
também não deve ser um desastre. As vendas ainda serão
boas."
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