São Paulo, sexta-feira, 16 de outubro de 2009

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Eike diz que "no momento" desiste da Vale

Empresário recua após repercussão negativa de suas investidas para obter controle da maior empresa privada do país

Eike nega ter feito as críticas a mando do governo ou em sintonia com os setores oficiais que querem mudar o comando da Vale

MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL

Após insistir sem sucesso para adquirir o controle da Vale, o empresário Eike Batista disse ontem ter desistido da compra da mineradora. "No momento, desisti", afirmou ele à Folha.
O recuo de Eike, empresário mais rico do Brasil, decorre, em parte, da repercussão negativa -e, segundo ele, extremamente injusta- de suas entrevistas recentes. Eike não descartou a compra da Vale em algum outro momento.
"Meus comentários foram de cunho técnico/profissional, sem nenhuma espécie de conotação política", disse ele, em entrevista por e-mail. "Não sou um político, mas um empresário interessado na excelência. Jamais discuti o futuro da Vale ou a performance de sua administração."
No último final de semana, Eike fez coro ao governo ao criticar a gestão da Vale, presidida por Roger Agnelli, e ao sugerir a substituição do executivo por Sérgio Rosa, presidente da Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, muito ligado ao governo petista.
"Manifestei o nome de Sergio Rosa dentro do contexto da pergunta. De como via a hipótese de compartilhar o controle da Vale, uma vez que só tenho participação majoritária nas empresas do meu grupo", afirmou Eike. "Respondi que não via maiores problemas em sentar no conselho, opinar sobre as diretrizes da empresa e ter um Sérgio Rosa, por exemplo, como presidente."

Pressão menor
O recuo de Eike ocorreu no mesmo dia em que arrefeceram os ataques oficiais para derrubar Agnelli -executivo indicado pelo Bradesco para comandar a maior empresa privada do país. O banco divide o controle da mineradora juntamente com fundos de pensão de estatais (entre as quais a Previ), o BNDESpar e a japonesa Mitsui.
Eike negou ter feito as críticas a mando do governo ou em sintonia com os setores oficiais que querem derrubar Agnelli.
O empresário, no entanto, admitiu ter conversado sobre o tema com Sérgio Rosa. "Falei com ele apenas na oportunidade em que fiz a sondagem informal ao Bradesco, uma vez que os demais acionistas têm direito de preferência na venda de ações do bloco de controle." Na entrevista publicada no último domingo pelo jornal "Estado de S. Paulo", Eike disse que estaria disposto a comprar uma fatia da Vale mesmo se fosse para deixá-la nas mãos de Rosa, umbilicalmente ligado ao PT e adversário de Agnelli na Vale.
Eike, no entanto, não vê na declaração que deu qualquer conotação política. E creditou a confusão toda ao acaso. "Meu interesse pela participação do Bradesco veio à tona na mesma ocasião em que determinadas críticas à administração da Vale foram veiculadas pela imprensa. Tudo não passou de mera coincidência", argumentou.
O empresário disse que seu interesse na Vale é meramente comercial, "sem qualquer cunho político". E que suas observações sobre a companhia mineradora refletem apenas um cálculo empresarial.
"As pessoas esquecem que um investimento de bilhões, como o do caso presente, precisa se pagar. Sem a perspectiva do retorno adequado, não há justificativa para a realização de investimento do gênero", disse Eike.

Encontro com Lula
Ele admitiu ter conversado recentemente com o presidente Lula, mas não sobre o assunto Vale. "Conversei com o presidente em Nova York sobre o Brasil em geral e o futuro promissor que nos aguarda."
Apesar de seu recuo na intenção de comprar a Vale, Eike afirmou que suas observações sobre as operações da Vale, todas técnicas e voltadas para a excelência, segundo ele, continuam válidas.
"Por um acaso estou errado ao dizer que a projetada compra da Xstrata poderia ter quebrado a Vale ou que a empresa deveria deixar de exportar, apenas, matéria-prima no lugar de produtos de valor agregado?", afirmou.
Foi uma referência à suposta resistência de Agnelli a investir em siderurgia no Brasil, optando por exportar matéria-prima sem valor agregado. Foi, ainda, uma referência ao fato de a Vale ter feito uma proposta para comprar a gigante de mineração Xstrata, sediada na Suíça.


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