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Eike diz que "no momento" desiste da Vale
Empresário recua após repercussão negativa de suas investidas para obter controle da maior empresa privada do país
Eike nega ter feito as críticas a mando do governo ou em sintonia com os setores oficiais que querem mudar o comando da Vale
MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL
Após insistir sem sucesso para adquirir o controle da Vale, o
empresário Eike Batista disse
ontem ter desistido da compra
da mineradora. "No momento,
desisti", afirmou ele à Folha.
O recuo de Eike, empresário
mais rico do Brasil, decorre, em
parte, da repercussão negativa
-e, segundo ele, extremamente injusta- de suas entrevistas
recentes. Eike não descartou a
compra da Vale em algum outro momento.
"Meus comentários foram de
cunho técnico/profissional,
sem nenhuma espécie de conotação política", disse ele, em
entrevista por e-mail. "Não sou
um político, mas um empresário interessado na excelência.
Jamais discuti o futuro da Vale
ou a performance de sua administração."
No último final de semana,
Eike fez coro ao governo ao criticar a gestão da Vale, presidida
por Roger Agnelli, e ao sugerir
a substituição do executivo por
Sérgio Rosa, presidente da Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, muito ligado ao governo petista.
"Manifestei o nome de Sergio Rosa dentro do contexto da
pergunta. De como via a hipótese de compartilhar o controle
da Vale, uma vez que só tenho
participação majoritária nas
empresas do meu grupo", afirmou Eike. "Respondi que não
via maiores problemas em sentar no conselho, opinar sobre
as diretrizes da empresa e ter
um Sérgio Rosa, por exemplo,
como presidente."
Pressão menor
O recuo de Eike ocorreu no
mesmo dia em que arrefeceram
os ataques oficiais para derrubar Agnelli -executivo indicado pelo Bradesco para comandar a maior empresa privada do
país. O banco divide o controle
da mineradora juntamente
com fundos de pensão de estatais (entre as quais a Previ), o
BNDESpar e a japonesa Mitsui.
Eike negou ter feito as críticas a mando do governo ou em
sintonia com os setores oficiais
que querem derrubar Agnelli.
O empresário, no entanto,
admitiu ter conversado sobre o
tema com Sérgio Rosa. "Falei
com ele apenas na oportunidade em que fiz a sondagem informal ao Bradesco, uma vez que
os demais acionistas têm direito de preferência na venda de
ações do bloco de controle." Na
entrevista publicada no último
domingo pelo jornal "Estado de
S. Paulo", Eike disse que estaria
disposto a comprar uma fatia
da Vale mesmo se fosse para
deixá-la nas mãos de Rosa, umbilicalmente ligado ao PT e adversário de Agnelli na Vale.
Eike, no entanto, não vê na
declaração que deu qualquer
conotação política. E creditou a
confusão toda ao acaso. "Meu
interesse pela participação do
Bradesco veio à tona na mesma
ocasião em que determinadas
críticas à administração da Vale
foram veiculadas pela imprensa. Tudo não passou de mera
coincidência", argumentou.
O empresário disse que seu
interesse na Vale é meramente
comercial, "sem qualquer cunho político". E que suas observações sobre a companhia mineradora refletem apenas um
cálculo empresarial.
"As pessoas esquecem que
um investimento de bilhões,
como o do caso presente, precisa se pagar. Sem a perspectiva
do retorno adequado, não há
justificativa para a realização
de investimento do gênero",
disse Eike.
Encontro com Lula
Ele admitiu ter conversado
recentemente com o presidente Lula, mas não sobre o assunto Vale. "Conversei com o presidente em Nova York sobre o
Brasil em geral e o futuro promissor que nos aguarda."
Apesar de seu recuo na intenção de comprar a Vale, Eike
afirmou que suas observações
sobre as operações da Vale, todas técnicas e voltadas para a
excelência, segundo ele, continuam válidas.
"Por um acaso estou errado
ao dizer que a projetada compra da Xstrata poderia ter quebrado a Vale ou que a empresa
deveria deixar de exportar, apenas, matéria-prima no lugar de
produtos de valor agregado?",
afirmou.
Foi uma referência à suposta
resistência de Agnelli a investir
em siderurgia no Brasil, optando por exportar matéria-prima
sem valor agregado. Foi, ainda,
uma referência ao fato de a Vale
ter feito uma proposta para
comprar a gigante de mineração Xstrata, sediada na Suíça.
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