São Paulo, sexta-feira, 16 de novembro de 2007

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Economista diz que críticas podem ter sido causa de saída

Gervásio Rezende contesta a existência de trabalho escravo no meio rural

"Tenho feito críticas às políticas de crédito, fundiária e trabalhista. Isso, talvez, esteja incomodando muita gente", afirma

DA SUCURSAL DO RIO

O economista Gervásio Rezende disse que suas críticas às políticas para a área rural podem ter motivado a nova direção do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) a afastá-lo.
"Sou um técnico independente. Tenho feito críticas contundentes às políticas de crédito, fundiária e trabalhista. Isso, talvez, esteja incomodando muita gente. Talvez não queiram um técnico com esse perfil", afirmou.
Rezende contesta a existência de trabalho escravo no meio rural, contrariando o entendimento do governo. O combate ao trabalho escravo é um dos pilares da atuação do Ministério do Trabalho e Emprego desde o governo Fernando Henrique Cardoso, e 192 empresários e empresas (a maioria do setor agrícola) autuados estão sem acesso a crédito oficial, impedidos de vender para a Petrobras.
Procurado ontem pela reportagem, Fabio Giambiagi não quis comentar publicamente o caso, sob a alegação de que quer sair de forma elegante. Regis Bonelli e Otávio Tourinho não foram localizados.
Os quatro pesquisadores são críticos do excesso de gastos do governo, o que contraria o pensamento do novo presidente do Ipea, Marcio Pochmann, que se define desenvolvimentista.
Ao assumir a presidência do Ipea, no dia 14 de agosto último, Pochmann defendeu o aumento do contingente de servidores públicos e disse que o Estado brasileiro é "raquítico".
Rezende e Bonelli são aposentados e continuavam prestando serviços ao Ipea como colaboradores, sem contrato formal. Rezende tem bolsa de pesquisa paga pelo CNPq e deve continuar o trabalho de pesquisa agrícola na UFF (Universidade Federal Fluminense), da qual é professor.
A direção do Ipea pediu a Rezende e a Bonelli que esvaziassem as salas que ocupam porque os convênios que os mantinham lá teriam sido considerados irregulares pela procuradoria do órgão. Como não existe contrato formal, a alegação foi recebida como uma desculpa para o afastamento.
Bonelli foi diretor de pesquisa do Ipea, diretor-executivo do BNDES e diretor-geral do IBGE. Rezende foi funcionário de carreira do Ipea e diretor da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), no governo Fernando Henrique Cardoso.
O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho, e a assessoria de imprensa do banco não foram localizados ontem, nem Roberto Mangabeira Unger, do Núcleo de Assuntos Estratégicos, a quem o Ipea é vinculado.
(ELVIRA LOBATO)

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