São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2008

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É um dia histórico para o mundo, diz Lula

Presidente ressalta a coesão e a unanimidade na tomada de decisões pelo G20, que definiu como "um clube de amigos"

Segundo Lula, após a crise, "todo mundo tomou um chá de humildade" e percebeu que os problemas serão resolvidos se houver união


ANDREA MURTA
ENVIADA ESPECIAL A WASHINGTON

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avaliou ontem em Washington que "a geografia política do mundo ganhou uma nova dimensão" ao final da cúpula do G20. "Há seis meses era impossível imaginar que o G20 tomaria, por unanimidade, as decisões que tomou para cuidar melhor do sistema financeiro internacional, para cuidar da Rodada Doha e para definir coletivamente o que é preciso fazer na economia do mundo", disse o presidente à imprensa.
"Este é um dia histórico para a política mundial. O G8 virou um clube de amigos. Não tem mais nenhuma lógica tomar decisões sobre economia sem levar em conta este fórum [dos 20 países]."
Lula disse que o resultado mais importante é a tomada de uma decisão coesa sobre a necessidade de uma melhor administração do sistema financeiro. O presidente elogiou a nova "maturidade" das discussões. "Depois da crise, todo mundo tomou um chá de humildade e percebeu que os problemas serão resolvidos se estivermos juntos."
Horas antes, Lula havia criticado o que chamou de "medidas paliativas" dos países ricos e cobrou ações firmes para conter a situação. "[É preciso] resolver o problema crônico das políticas econômicas americana e européia. Não adianta soltar US$ 1,5 trilhão nos EUA se esse dinheiro não chega à ponta", afirmou.
Segundo o presidente, esse é o valor que o presidente dos EUA, George W. Bush, disse, durante o jantar, ter injetado na economia americana. "Mas só US$ 250 milhões chegaram aos consumidores. O dinheiro que os bancos centrais injetaram nos EUA e na Europa precisa chegar à ponta", disse Lula.
O brasileiro afirmou que o jantar a chefes de Estado, anteontem à noite, oferecido pelo presidente americano, deu o tom das duas sessões plenárias na manhã de ontem, com a ênfase na responsabilidade dos países desenvolvidos. "A melhor solução para evitar que a crise se alastre é que os países ricos resolvam os problemas."

Desemprego
Questionado sobre o nível de desemprego na Europa, Lula não descartou temores de que efeito semelhante ocorra no Brasil. "Se a crise se aprofundar, e as exportações caírem, a crise pode chegar a todos os países."
A resposta do governo brasileiro, afirmou, é explorar o potencial do mercado interno e manter os investimentos que já estavam previstos. "O que pode acontecer de pior é que uma crise que começou por causa da especulação venha a criar problemas no setor produtivo de quem precisa crescer. A economia brasileira pode não crescer tudo o que gostaríamos, mas não pode deixar de crescer porque o povo precisa trabalhar."
Lula disse que insistiu, durante o jantar com Bush, na necessidade de maior regulamentação no sistema financeiro. "Disse para o Bush: a vida inteira, quando eu era metalúrgico, para comprar uma televisão eu precisava trabalhar 40 horas extras por mês. Não é justo que alguém fique bilionário sem produzir uma única folha de papel, um único emprego, um único salário. Por isso é preciso uma regulamentação séria."
Menos de 24 horas antes, em discurso, o presidente Bush rejeitou explicitamente a pressão pelo aumento da regulamentação do sistema financeiro, voltando a louvar o livre mercado.


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