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É um dia histórico para o mundo, diz Lula
Presidente ressalta a coesão e a unanimidade na tomada de decisões pelo G20, que definiu como "um clube de amigos"
Segundo Lula, após a crise,
"todo mundo tomou um chá
de humildade" e percebeu
que os problemas serão
resolvidos se houver união
ANDREA MURTA
ENVIADA ESPECIAL A WASHINGTON
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avaliou ontem em
Washington que "a geografia
política do mundo ganhou uma
nova dimensão" ao final da cúpula do G20. "Há seis meses era
impossível imaginar que o G20
tomaria, por unanimidade, as
decisões que tomou para cuidar
melhor do sistema financeiro
internacional, para cuidar da
Rodada Doha e para definir coletivamente o que é preciso fazer na economia do mundo",
disse o presidente à imprensa.
"Este é um dia histórico para
a política mundial. O G8 virou
um clube de amigos. Não tem
mais nenhuma lógica tomar
decisões sobre economia sem
levar em conta este fórum [dos
20 países]."
Lula disse que o resultado
mais importante é a tomada de
uma decisão coesa sobre a necessidade de uma melhor administração do sistema financeiro. O presidente elogiou a
nova "maturidade" das discussões. "Depois da crise, todo
mundo tomou um chá de humildade e percebeu que os problemas serão resolvidos se estivermos juntos."
Horas antes, Lula havia criticado o que chamou de "medidas paliativas" dos países ricos
e cobrou ações firmes para conter a situação. "[É preciso] resolver o problema crônico das
políticas econômicas americana e européia. Não adianta soltar US$ 1,5 trilhão nos EUA se
esse dinheiro não chega à ponta", afirmou.
Segundo o presidente, esse é
o valor que o presidente dos
EUA, George W. Bush, disse,
durante o jantar, ter injetado
na economia americana. "Mas
só US$ 250 milhões chegaram
aos consumidores. O dinheiro
que os bancos centrais injetaram nos EUA e na Europa precisa chegar à ponta", disse Lula.
O brasileiro afirmou que o
jantar a chefes de Estado, anteontem à noite, oferecido pelo
presidente americano, deu o
tom das duas sessões plenárias
na manhã de ontem, com a ênfase na responsabilidade dos
países desenvolvidos. "A melhor solução para evitar que a
crise se alastre é que os países
ricos resolvam os problemas."
Desemprego
Questionado sobre o nível de
desemprego na Europa, Lula
não descartou temores de que
efeito semelhante ocorra no
Brasil. "Se a crise se aprofundar, e as exportações caírem, a
crise pode chegar a todos os
países."
A resposta do governo brasileiro, afirmou, é explorar o potencial do mercado interno e
manter os investimentos que já
estavam previstos. "O que pode
acontecer de pior é que uma
crise que começou por causa da
especulação venha a criar problemas no setor produtivo de
quem precisa crescer. A economia brasileira pode não crescer
tudo o que gostaríamos, mas
não pode deixar de crescer porque o povo precisa trabalhar."
Lula disse que insistiu, durante o jantar com Bush, na necessidade de maior regulamentação no sistema financeiro.
"Disse para o Bush: a vida inteira, quando eu era metalúrgico,
para comprar uma televisão eu
precisava trabalhar 40 horas
extras por mês. Não é justo que
alguém fique bilionário sem
produzir uma única folha de
papel, um único emprego, um
único salário. Por isso é preciso
uma regulamentação séria."
Menos de 24 horas antes, em
discurso, o presidente Bush rejeitou explicitamente a pressão
pelo aumento da regulamentação do sistema financeiro, voltando a louvar o livre mercado.
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