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ANÁLISE
Papel de Obama será decisivo
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
Ao final da cúpula do G20 em
Washington, os chefes de Estado concordaram em trabalhar
para estimular de forma coordenada suas economias e discutir uma eventual nova regulamentação para o mercado.
O pacote anunciado é ambicioso, embora não contenha
nada de muito novo ou bombástico. Seu vetor é aprofundar
sistemas regulatórios e de controle de operações financeiras
que já funcionam. E tentar padronizar as medidas para o
maior número de países.
Embora exista uma enorme
nuvem de ceticismo em relação
ao progresso dessas medidas (a
posição real da China em relação à regulação, por exemplo, é
um mistério), elas ganharam
certa relevância e apoio com a
cúpula.
Para o futuro, será fundamental ainda a posição do próximo presidente dos EUA, Barack Obama, que assumirá o
governo norte-americano no
dia 20 de janeiro.
Se adotadas, as novas regras
regulatórias afetarão diretamente os bancos, os verdadeiros "donos da crise", e até aqui
extremamente avessos a novas
regulamentações.
Paralelamente à reunião do
G20 em Washington, os bancos
se reuniram longe dali na sexta,
em Nova York. Agora descapitalizados e dependentes da ajuda estatal, eles parecem estar
concordando com qualquer
medida que possa mantê-los à
tona.
Até aqui, o Tesouro dos EUA
já injetou US$ 290 bilhões em
dinheiro público em bancos
privados e na seguradora AIG.
E prepara aportes de outros bilhões em pelo menos mais 20
instituições com problemas.
Os rombos foram provocados pela falta de regulação e por
práticas pouco ortodoxas. Como lastrear, em muitos casos,
operações de financiamento
imobiliário na proporção de
US$ 1 tido como garantia para
até US$ 35 em créditos a mutuários que sequer comprovavam sua renda.
Do encontro em Nova York,
os banqueiros reunidos no IIF
(Instituto de Finanças Internacionais, na sigla em inglês), que
representa 390 instituições,
emitiu seu comunicado. Nele,
os bancos não só assumiram "a
responsabilidade pela adoção
de regras frouxas que levaram à
atual crise" como afirmaram
que uma "reforma regulatória
(...) e novas formas de diálogo
entre os setores público e privado são essenciais para reforçar o funcionamento do sistema financeiro mundial".
Os banqueiros também recomendaram no documento a
ampliação da participação das
economias emergentes, como
Brasil e China, nas decisões e
na formatação de políticas de
órgãos multilaterais, como o
FMI e o Banco Mundial.
Como sinal desses novos
tempos, os países avançados
também parecem ter definitivamente acolhido as grandes
economias emergentes no seu
clube. Se o G8 será transformado permanentemente em G20,
ainda é algo a conferir.
O fato é que, em 2009, os
emergentes serão responsáveis
pela totalidade do crescimento
mundial (já que os avançados
estarão em recessão). E são
eles, basicamente, quem hoje
financiam, com suas reservas,
os déficits do mundo desenvolvido.
(FERNANDO CANZIAN)
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