São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2008

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FMI pede mais gastos e menos impostos

Instado a ser mais atuante, Fundo sugere política fiscal "agressiva"


Para Strauss-Kahn, diretor-gerente, crise atual dará mais impulso às propostas de reformular a atuação da entidade e do Banco Mundial


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Instado pelos membros do G20 a ter um papel mais ativo na solução da crise econômica mundial e na prevenção de futuras crises, o Fundo Monetário Internacional (FMI) apresentou ontem sua receita: para o primeiro caso, que os governos gastem mais e cortem impostos; para o segundo, um papel maior de supervisão global para a entidade multilateral.
O modelo foi apresentado por seu diretor-gerente, o francês Dominique Strauss-Kahn, que participou da reunião dos líderes ontem, em Washington. "Há algum lugar para política monetária em algumas partes do mundo, não em todas, e outra ferramenta tradicional é a política comercial", disse o francês em entrevista coletiva na sede do Fundo, na noite de ontem, sobre a crise. "Mas as duas não são suficientes, e a recuperação não virá sozinha."
Para que isso aconteça, recomendou DSK, como é chamado o diretor-gerente do FMI, é preciso uma utilização mais agressiva da política fiscal. "Se há um momento na história econômica moderna em que o estímulo fiscal deve ser utilizado é agora", afirmou. "A inflação está perto de zero no mundo hoje, alguns acham que há até risco de deflação, então não há riscos de usar política fiscal."
Pelos cálculos do FMI, cada pacote de estímulo fiscal de 1% do PIB (Produto Interno Bruto) resulta num crescimento igual da economia. "Alguns argumentam que quando você tem um estímulo fiscal desse tamanho, o crescimento da economia é menor", afirmou Strauss-Kahn. "Isso é verdade quando o estímulo acontece num só país. Se a ação é coordenada, o resultado pode ser muito maior."
É por isso que o Fundo está recomendando uma ação conjunta dos países, de implantar pacotes fiscais que combinem aumento dos gastos e corte nos impostos de até 2% do PIB. Se forem coordenados por região, resultarão num salto de 2% da economia, disse Strauss-Kahn.
"É claro que a questão não é só de estímulo, mas qual o tipo e qual é o mais efetivo", disse o diretor-gerente. "Não há um modelo único para todos os países."

Novo papel do FMI
Sobre o futuro da entidade, ele disse que prevê que "nosso papel de supervisão é um papel que certamente vai aumentar." A previsão chega num momento em que a necessidade de o FMI ser reformado e repensar seu papel na economia global foi citada pelo comunicado final do G20 e repetida por George W. Bush. "Nós deveríamos reformar as instituições financeiras internacionais", disse o presidente dos EUA.
Para Bush, entidades como o FMI e o Banco Mundial "são muito importantes, mas eram baseadas na ordem econômica de 1944. E nós concordamos que, para refletir melhor as realidades da economia global de hoje, deveriam modernizar as estruturas de governança."
Sobre isso, Strauss-Kahn mostrou-se parcialmente cético. "Muito tem sido dito sobre isso, comparações com Bretton Woods, mas confesso que ouço esse discurso há tempos, sem resultados concretos, como logo após a crise asiática" dos anos 90. A diferença agora, para Strauss-Kahn, é que o processo de reforma começou "enquanto estamos no meio da crise". Assim, ele acha que o processo tem mais chances de dar certo.


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