São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

A sensação térmica do PIB de 2009


Medida do PIB deve ficar meio alterada no ano que vem, mas ritmo trimestral deve cair para um terço do atual

A MEDIDA da atividade econômica deve provocar ruídos políticos em 2010, qualquer que seja o tamanho do tombo. Economistas, governo e até nós, jornalistas, damos chutes ponderados ou apenas fazemos propaganda política sobre o andamento do PIB em 2009.
Será 2%, como estimam os mais desiludidos? Ou 4,5%, como dizem o pessoal do governo e governistas?
Mas o que significam tais números?
Mesmo quando bem medido, o PIB já é uma lingüiça com gorduras ou bolhas de ar enganadoras. De um ano para outro, de resto, as peculiaridades da série estatística do PIB podem fazer com que as marcações desse termômetro divirjam da temperatura "real" da economia. A sensação térmica pode ser de mais frio ou calor e contrariar o termômetro.
O ano que vem será mais frio, é inevitável, mas a medida do PIB pode ficar alterada pelo forte crescimento deste ano que se encerra. Como 2009 já tem pré-campanha, isso dará pano para manga quando as candidaturas saírem do armário.
Aurélio Bicalho, do Itaú, comenta no "Informativo Econômico Semanal" do banco que seus pares estimam o PIB crescendo entre 2% e 3% em 2009 (contra algo entre 5% e 5,5% neste ano) -sim, 2% é bem possível. Bicalho observa que, ao ritmo anual de 2%, o PIB cresceria 0,45% trimestre contra trimestre -a medida trimestral capta melhor a "sensação térmica". Ou seja, a percepção vai ser algo parecida com a do segundo trimestre de 2006, quando se sentia o efeito da puxada de juros que o BC promovera para abater o crescimento e a inflação de 2004. Trata-se de um ritmo equivalente a um terço do atual.
Mas não há dados confiáveis para bem avaliar o que foi feito e o que será da economia brasileira depois que o país passou pelo moedor de carne da crise mundial. As informações mais recentes são de setembro, agora fósseis do período cambriano. As de outubro vão estar estremecidas demais pelo choque brutal da crise.
O que é cada vez mais consensual é que a capacidade de consumo e de financiamento globais da economia vão declinar devido ao péssimo ambiente externo. As exportações podem cair, os fluxos de investimento e financiamento externo vão cair, o investimento produtivo ficará mais caro, a capacidade de importar diminuirá. O real vai se desvalorizar -não teremos condições de bancar as importações que completavam a oferta doméstica insuficiente nem teremos o farto financiamento pré-crise. Nosso déficit externo, enfim, vai mostrar a cara no câmbio.
Os mais pessimistas, como Marcelo Carvalho, do Morgan Stanley, comparam a situação a um período estagflacionário, opinião mais radical mas parecida com a de Alexandre Schwartsman, do Santander. A avaliação do pessoal do Itaú vai nessa linha, mas é menos dramática. Quase todos parecem concordar que haverá um "deslocamento para a direita" da curva do gráfico que relaciona níveis de produção e de preços: para uma mesma taxa de crescimento, os preços ficariam em patamar mais alto. Ou seja, entramos num período em que a relação entre ritmo da atividade e preços se deteriora: ou ficamos mais pobres agora ou mais adiante, por causa de preços mais altos. Mesmo para um ritmo menor do PIB, a inflação pode subir.

vinit@uol.com.br


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