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Exportadora toma calote e busca seguro
Com a crise financeira, seguradoras registram aumento de até 122% no número de sinistros até o terceiro trimestre
Empresas têm enfrentado atraso em pagamentos e sinistros em embarques realizados para os Estados Unidos e o Reino Unido
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Empresas exportadoras de
diversas áreas têm sofrido calotes de clientes estrangeiros, em
razão do agravamento da crise
internacional. Apesar de não
haver levantamentos sobre o
volume total dos não-pagamentos, seguradoras que cobrem os valores a receber dessas exportações registraram
aumento no número de sinistros de até 122% entre janeiro e
setembro deste ano, em relação
ao mesmo período de 2007.
"Temos tido grandes sinistros em exportações feitas aos
Estados Unidos e ao Reino Unido", diz Fernando Blanco, presidente da seguradora Coface,
líder desse mercado no Brasil.
É o caso da Incepa. Com 40%
de sua produção voltada à exportação, a fabricante de pisos
e azulejos cerâmicos deixou de
receber de um distribuidor
americano, em 2007. Acionou a
Coface e conseguiu receber o
percentual segurado.
Outra indústria alimentícia,
que prefere não se identificar,
também não recebeu pela venda de um contêiner de US$ 50
mil para um distribuidor espanhol. Apesar de essa carga específica não estar segurada,
usou o sistema de cobrança da
seguradora Crédito y Caución e
conseguiu reaver parte do dinheiro, após cinco meses.
"Estima-se que no máximo
5% das exportações brasileiras
estejam seguradas", diz José
Augusto de Castro, vice-presidente da AEB (Associação de
Comércio Exterior do Brasil).
"Temos recebido muitos relatos de não-pagamentos, também de empresas que não usam
seguros, principalmente das
que vendem aos Estados Unidos, onde a crise se originou."
Segundo Castro, o problema
deve começar a aparecer como
atrasos e dívidas a receber nos
próximos balanços. "Dependendo do nível de inadimplência e do valor, o calote poderá
afetar a atividade", diz Castro.
"Hoje, no entanto, estamos
preocupados com a retração financeira e do mercado."
De todo modo, as empresas
brasileiras tentam se proteger.
A Crédito y Caución registrou
aumento de 30% na procura
por seus seguros nos últimos
três meses. As exportadoras
que mais buscam seguro são
fornecedores de material de
construção e móveis, fabricantes de máquinas e ferramentas,
papel e celulose e têxteis.
"Numa situação como a
atual, as exportadoras têm mais
receio de vender a clientes baseados em outros países", diz
Jesùs Cano, presidente da Crédito y Caución no Brasil. "Mesmo quando há histórico de bom
pagamento, a situação do comprador no fim de 2007 ou mesmo há dois meses mudou."
Na seguradora Euler Hermes, a situação não é diferente.
De janeiro a outubro, a procura
pelo serviço foi 50% superior
ante igual período de 2007. Se
for considerado apenas o período de agosto a outubro, o aumento na demanda foi de 80%.
"Quase todos os exportadores têm problemas de default
[falta de pagamento] ou atraso", diz Gilson Bochernitsan,
presidente da Euler Hermes no
Brasil. "Aumentaram significativamente as notificações de
atrasos nos recebimentos."
Além das exportações, os calotes no mercado interno têm
colocado as seguradoras em estado de atenção. A Coface, por
exemplo, não faz mais seguros
que envolvam varejistas do setor de eletroeletrônicos. "Temos mais de R$ 600 milhões de
risco nesse segmento", diz
Blanco. "Vivemos uma mistura
de excesso de exposição com
falta de informação no setor."
Para Marcelo Elias, diretor
da corretora Marsh, o histórico
do setor, no qual os varejistas
trabalham muito alavancados e
houve grandes quebras, como a
da G. Aronson e da Arapuã, pesa na hora da desconfiança.
Barril de pólvora
Mesmo com a injeção de R$ 4
bilhões na indústria automobilística, a situação dos recebimentos na área está longe de
ser tranqüila. "O setor automotivo não teve sinistros, mas recebemos informações sobre alguns atrasos de pagamentos de
distribuidores", diz Blanco.
"Como nosso trabalho é ficar
sentado em cima de um barril
de pólvora, estamos tentando
esvaziar o barril."
De acordo com Blanco, em
vez de passar as análises depois
dos sinistros, a seguradora comunica aos clientes as ameaças
que correm previamente, compartilhando o risco.
Com a receita de seguros de
crédito 60% maior do que em
2007, a Coface reduziu os volumes segurados. Antes, segurava
até 80% do crédito a receber.
Agora, segura 60%. "Entre junho e outubro, negamos 39
apólices", diz Blanco.
A Coface também aumentou
em 10% o valor cobrado pelo
produto, mas o reajuste poderá
chegar a 25%, dependendo do
setor e da qualidade da carteira
dos clientes. As concorrentes
também praticaram aumentos.
"Ao mesmo tempo em que há
mais demanda por seguro de
crédito, as seguradoras estão
mais restritivas", diz Elias.
Mesmo com o aumento dos
riscos e dos sinistros, a perspectiva de crescimento tem
atraído novos competidores,
como a Fator Seguradora e o
grupo JMalucelli.
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