São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2008

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2009 terá inadimplência e menos crédito, diz Werlang

Volume de empréstimos deve crescer apenas 15%

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Menos crédito e mais inadimplência. Em 2009, bancos, empresas, consumidores e governo terão meses difíceis, na avaliação de Sérgio Werlang, vice-presidente-executivo do Itaú e ex-diretor do Banco Central. O ritmo de aumento do volume de empréstimos deverá cair da média atual de 34% ao ano para menos da metade -15% ao ano- e a previsão dele é de um crescimento da economia de apenas 2%.
"O crédito irá se acomodar em um outro patamar. Ainda continuará crescendo, mas bem menos", disse à Folha.
Isso porque, argumenta, o sistema financeiro que surgirá depois da crise atual nos mercados terá um poder de alavancagem menor, fazendo com que o Brasil e o mundo se adaptem a um novo nível de crescimento econômico.
A previsão de Werlang está em linha com as recentes declarações à Folha do presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Fábio Barbosa, e vai contra o discurso do governo. Para Barbosa, como as linhas de financiamento em dólar secaram, aumentou a demanda por empréstimos em reais e houve um congestionamento no mercado doméstico, o que faz com que o dinheiro disponível não seja suficiente para atender a todos. Isso, mesmo com a injeção de recursos do governo nos últimos meses.
Além disso, o prazo das operações de crédito encurtou e o custo subiu, em descompasso com a demanda do setor produtivo, que precisa de empréstimos mais longos.
A Folha apurou que a equipe econômica se irritou com as declarações de Barbosa. No Ministério da Fazenda e no Banco Central, há o temor de que essas "teses" aterrorizem os empresários e os consumidores, fazendo com que eles cancelem investimentos e comprem menos. Por isso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem insistido no discurso de estímulo ao consumo. Uma tentativa de reverter o pessimismo.
Para Werlang, essa é uma polêmica que se resolverá com a divulgação dos números oficiais do mercado de crédito pelo Banco Central. Outubro, diz, será um mês atípico e registrará a queda abrupta das linhas externas. "Mas, a partir daí, o estoque vai continuar subindo num ritmo menor."

Inflação
Responsável pela implementação do regime de metas de inflação no Brasil, Werlang afirmou que, além de um novo nível de crédito e de crescimento, a equipe econômica precisará administrar também inflação ainda em alta.
Na análise dele, o Banco Central terá que aceitar um IPCA (índice referência para o governo) no ano que vem de em torno de 5,5%, ainda acima da meta de 4,5%. "Não tem problema. Deixa a inflação em 5,5%. Ainda estará abaixo da de 2008. E os BCs no mundo todo não estão fazendo isso?", questiona. A projeção do mercado financeiro é encerrar este ano com inflação de 6,4%, enquanto o Banco Central projeta 6%.
Nesse cenário, a expectativa dele é que o BC brasileiro só corte a taxa de juros no segundo trimestre do ano que vem. "Até lá, o BC deverá monitorar o impacto da crise mundial no país." Apesar do baque na performance econômica, ele diz que o Brasil ainda vai passar relativamente bem pela crise.
"O ano de 2009 será difícil para o Brasil. A desaceleração que está vindo no mundo é forte, bem forte", diz, ressaltando que, a partir de 2010, o país poderá recuperar parte do crescimento perdido, retomando um patamar próximo de 4%.
Mesmo após abandonar o discurso excessivamente otimista diante da crise e admitir impacto no crescimento da economia brasileira em 2009, a equipe econômica aposta em uma elevação da produção nacional (PIB) de 3,7% no ano que vem, podendo chegar até a 4%.
A expectativa do governo é que os gastos públicos em investimentos irão evitar um recuo maior no PIB de 2009.
A disposição do governo de gastar mais está em linha com a proposta feita por ministros de Fazenda que participaram do encontro do G20 (países ricos mais os emergentes) na semana retrasada.
Para Werlang, no entanto, o Brasil não tem condições de fazer "de jeito nenhum" esse tipo de política fiscal expansionista. "Isso se aplica aos países que têm uma relação poupança/ PIB elevada [acima de 30% do PIB]. No Brasil, está na casa dos 22%. Essa política só levaria a uma piora fiscal e reduziria a velocidade com que o país chegaria a uma taxa de juros real compatível com crescimento sustentável de longo prazo."


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