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2009 terá inadimplência e menos crédito, diz Werlang
Volume de empréstimos deve crescer apenas 15%
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Menos crédito e mais inadimplência. Em 2009, bancos,
empresas, consumidores e governo terão meses difíceis, na
avaliação de Sérgio Werlang,
vice-presidente-executivo do
Itaú e ex-diretor do Banco Central. O ritmo de aumento do volume de empréstimos deverá
cair da média atual de 34% ao
ano para menos da metade
-15% ao ano- e a previsão dele
é de um crescimento da economia de apenas 2%.
"O crédito irá se acomodar
em um outro patamar. Ainda
continuará crescendo, mas
bem menos", disse à Folha.
Isso porque, argumenta, o
sistema financeiro que surgirá
depois da crise atual nos mercados terá um poder de alavancagem menor, fazendo com
que o Brasil e o mundo se adaptem a um novo nível de crescimento econômico.
A previsão de Werlang está
em linha com as recentes declarações à Folha do presidente da Febraban (Federação
Brasileira de Bancos), Fábio
Barbosa, e vai contra o discurso
do governo. Para Barbosa, como as linhas de financiamento
em dólar secaram, aumentou a
demanda por empréstimos em
reais e houve um congestionamento no mercado doméstico,
o que faz com que o dinheiro
disponível não seja suficiente
para atender a todos. Isso, mesmo com a injeção de recursos
do governo nos últimos meses.
Além disso, o prazo das operações de crédito encurtou e o
custo subiu, em descompasso
com a demanda do setor produtivo, que precisa de empréstimos mais longos.
A Folha apurou que a equipe
econômica se irritou com as
declarações de Barbosa. No Ministério da Fazenda e no Banco
Central, há o temor de que essas "teses" aterrorizem os empresários e os consumidores,
fazendo com que eles cancelem
investimentos e comprem menos. Por isso, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva tem insistido no discurso de estímulo ao
consumo. Uma tentativa de reverter o pessimismo.
Para Werlang, essa é uma polêmica que se resolverá com a
divulgação dos números oficiais do mercado de crédito pelo Banco Central. Outubro, diz,
será um mês atípico e registrará a queda abrupta das linhas
externas. "Mas, a partir daí, o
estoque vai continuar subindo
num ritmo menor."
Inflação
Responsável pela implementação do regime de metas de inflação no Brasil, Werlang afirmou que, além de um novo nível de crédito e de crescimento,
a equipe econômica precisará
administrar também inflação
ainda em alta.
Na análise dele, o Banco Central terá que aceitar um IPCA
(índice referência para o governo) no ano que vem de em torno de 5,5%, ainda acima da meta de 4,5%. "Não tem problema.
Deixa a inflação em 5,5%. Ainda estará abaixo da de 2008. E
os BCs no mundo todo não estão fazendo isso?", questiona. A
projeção do mercado financeiro é encerrar este ano com inflação de 6,4%, enquanto o
Banco Central projeta 6%.
Nesse cenário, a expectativa
dele é que o BC brasileiro só
corte a taxa de juros no segundo trimestre do ano que vem.
"Até lá, o BC deverá monitorar
o impacto da crise mundial no
país." Apesar do baque na performance econômica, ele diz
que o Brasil ainda vai passar relativamente bem pela crise.
"O ano de 2009 será difícil
para o Brasil. A desaceleração
que está vindo no mundo é forte, bem forte", diz, ressaltando
que, a partir de 2010, o país poderá recuperar parte do crescimento perdido, retomando um
patamar próximo de 4%.
Mesmo após abandonar o
discurso excessivamente otimista diante da crise e admitir
impacto no crescimento da
economia brasileira em 2009, a
equipe econômica aposta em
uma elevação da produção nacional (PIB) de 3,7% no ano que
vem, podendo chegar até a 4%.
A expectativa do governo é
que os gastos públicos em investimentos irão evitar um recuo maior no PIB de 2009.
A disposição do governo de
gastar mais está em linha com a
proposta feita por ministros de
Fazenda que participaram do
encontro do G20 (países ricos
mais os emergentes) na semana retrasada.
Para Werlang, no entanto, o
Brasil não tem condições de fazer "de jeito nenhum" esse tipo
de política fiscal expansionista.
"Isso se aplica aos países que
têm uma relação poupança/
PIB elevada [acima de 30% do
PIB]. No Brasil, está na casa dos
22%. Essa política só levaria a
uma piora fiscal e reduziria a
velocidade com que o país
chegaria a uma taxa de juros
real compatível com crescimento sustentável de longo
prazo."
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