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ETERNO REGRESSO
Em nota, Fundo elogia política econômica do governo, mas alerta para o baixo volume de reservas do BC
País melhora, mas ainda é vulnerável, diz FMI
LEONARDO SOUZA
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O FMI (Fundo Monetário Internacional) elogiou o desempenho
da política econômica do governo
brasileiro, mas alertou que o país
continua vulnerável.
"Apesar dos recentes sucessos,
o Brasil continua vulnerável a
mudanças negativas no sentimento do mercado", disse ontem
a diretoria do FMI, em nota divulgada em Washington sobre a renovação do programa de ajuda financeira ao país.
"Em razão disso, as autoridades
se comprometeram em 2004 a
continuar fazendo progressos no
que toca às vulnerabilidades centrais, como a grande necessidade
de financiamento externo e o nível relativamente baixo de reservas líquidas, hoje em cerca de US$
17 bilhões", informou o comunicado do Fundo.
O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Bernard
Appy, encarregado pelo governo
de explicar os termos do acordo,
disse que essa era "uma avaliação
do Fundo". Segundo ele, para o
governo, o país avançou nos indicadores macroeconômicos neste
ano. Mas reconheceu que o Brasil
ainda precisa da ajuda do FMI.
"Claro que nenhum país do
mundo está 100% protegido de
eventuais crises. Se nós estivéssemos imunes, não seria necessária
a prorrogação do acordo", disse.
Pelo novo programa, o país terá
direito a sacar ao longo de 2004
US$ 6,6 bilhões em dinheiro novo. Somando a parcela de US$ 8,2
bilhões liberada desde o mês passado pelo atual acordo, o total do
empréstimo é de US$ 14,8 bilhões.
Appy afirmou, contudo, que o
governo não pretende utilizar esse dinheiro. Segundo a carta de
intenções do programa de ajuda
financeira enviada pelo governo
brasileiro ao FMI, a extensão do
acordo "é parte de uma estratégia
para o Brasil prescindir de novos
programas de apoio do Fundo".
O plano do governo "visa prover um seguro contra o impacto
de uma eventual deterioração do
cenário internacional".
O novo acordo tem prazo de 15
meses. Além dos novos recursos,
o governo vai postergar o pagamento de US$ 5,5 bilhões da atual
dívida que venceria em 2005.
Crescimento e inflação
As projeções do FMI e do governo de crescimento para o Brasil
são praticamente as mesmas. O
governo fala em 0,5% e o Fundo
em 0,6% para este ano. Para 2004,
foi mantido o número oficial do
governo, de 3,5%.
No caso da inflação, os números
do governo são projeção central
de 9,5% para este ano (portanto,
acima da meta oficial de 8,5%) e
de 5,5% para 2004. Mas, como o
acordo prevê bandas de tolerância, a inflação poderia ir até 12%
neste ano e a 8% no ano que vem.
No acordo, o governo diz que,
"em vista da convergência da inflação para a meta, espera-se que
haja espaço para que se continue a
relaxar a política monetária", ou
seja, para cortar mais os juros básicos da economia (Selic).
Apesar de apontar vulnerabilidades na economia brasileira, o
diretor-gerente do FMI, Horst
Köhler, fez elogios à política conduzida pelo governo Lula. "A reação do novo governo às pressões
do mercado tem sido ambiciosa e
corajosa, combinando disciplinas
fiscal e monetária com uma firme
política social que tem por objetivo reduzir a pobreza e fortalecer a
rede da seguridade social", afirmou Köhler. Para o Fundo, a extensão do acordo é um "componente importante" para que o
país, no futuro, possa deixar de
depender da ajuda da instituição.
O novo acordo mantém as principais metas do programa atual. A
mais importante delas é a realização de um superávit primário
equivalente a 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto -soma de toda a riqueza produzida pelo país).
Depois, a de manter o nível das reservas líquidas internacionais em
pelo menos US$ 5 bilhões. O país
precisa cumprir essas duas metas
para poder sacar as parcelas do
novo empréstimo.
O governo incluiu no acordo
vários "parâmetros estruturais",
indicações, não obrigatórias, do
que o Executivo pretende realizar.
Um deles é implementar a nova
Lei de Falências, em discussão na
Câmara dos Deputados, até o final de junho.
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