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São Paulo, terça-feira, 16 de dezembro de 2003

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OPINIÃO ECONÔMICA

Emprego e crescimento

BENJAMIN STEINBRUCH

Crescimento econômico e emprego sempre andam juntos. É impossível falar de um sem lembrar do outro. Por essa razão, muitas vezes transmite-se uma visão equivocada a respeito do efeito do primeiro sobre o segundo.
A expansão da economia conduz sempre ao aumento do emprego, mas não necessariamente no mesmo ritmo e no mesmo momento. Pode haver crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) sem a elevação correspondente do emprego.
Veja-se o que ocorre nos Estados Unidos, onde a recuperação da economia tem sido muito forte nos últimos meses. No terceiro trimestre deste ano, a expansão das atividades alcançou uma taxa anual impressionante, de 8,2%. Ficaram para trás os tempos da recessão, que, aliás, foi muito curta -durou de março a novembro de 2001. Apesar disso, o crescimento dos postos de trabalho tem sido decepcionante. Existem ainda cerca de 9 milhões de trabalhadores oficialmente desempregados nos Estados Unidos. O índice de desemprego, a despeito da reação vigorosa da economia, apresentou apenas um pequeno declínio, passando de 6,4% em junho para 5,9% em novembro.
Veja-se também o exemplo da Índia, para citar um país do bloco dos emergentes. A moderna economia indiana, muito focada na produção, no desenvolvimento e na exportação de softwares, tem mostrado excepcional dinamismo. Cresceu 31% nos últimos cinco anos, incluído 2003, quando a expansão foi de 7%. Mesmo com esse ritmo, o crescimento do emprego foi inferior a 1% ao ano de 1999 até agora.
Essas duas experiências, de um país superdesenvolvido e de outro em desenvolvimento, comprovam a idéia brilhantemente expressada aqui neste mesmo espaço, na semana passada, pelo economista Gesner Oliveira: "Nenhum programa de geração de empregos pode repousar exclusivamente sobre o crescimento da economia".
Mesmo em economias em forte recuperação, que já saíram da recessão há muito tempo, o emprego não cresce no ritmo desejado. As empresas conseguem aumentar a produção durante muito tempo apenas com ganhos de produtividade e redução de ociosidade. Em outras palavras, as empresas industriais e de serviços, neste período de intensa competitividade, há muito já aprenderam fórmulas de produzir mais sem contratar pessoal.
O problema brasileiro não se resolve apenas com o crescimento da economia, que certamente virá em 2004. Para que surjam muitos novos postos de trabalho é necessário que haja investimentos. Depois que se vive um prolongado período de estagnação ou baixo índice de crescimento, fica difícil convencer as empresas a acreditar na nova fase, mudar de atitude e passar a investir. Todas procuram ocupar a capacidade ociosa e tornar seus empregados mais produtivos enquanto isso for possível. Por essa razão, a recuperação do emprego geralmente não é instantânea e, dependendo da duração do crescimento de produção, pode nunca ocorrer. A fase da contratação efetiva de novos trabalhadores só começa quando todos os agentes econômicos se convencem de que o crescimento será duradouro, ou sustentável, como preferem os economistas.
Neste ano, por exemplo, haverá no Brasil um pequeno crescimento (pequeno demais, na verdade) da economia. Em outubro, todos saudamos a volta do aumento do nível de emprego na indústria paulista. Foi um sinal de mudança de tendência, mas o número de contratações ainda está muito aquém do necessário. Para crescer de forma duradoura e gerar muitas vagas de trabalho, a economia precisa de estímulos por demais conhecidos, como disponibilidade de crédito a baixo custo, redução da carga fiscal e investimento público.
Será necessário especialmente alavancar setores intensivos em mão-de-obra, utilizando recursos externos que, felizmente, estão fartos e baratos no mercado internacional. Voltarei a esse tema.


Benjamin Steinbruch, 50, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e presidente do conselho de administração da empresa.

E-mail - bvictoria@psi.com.br


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