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OPINIÃO ECONÔMICA
Emprego e crescimento
BENJAMIN STEINBRUCH
Crescimento econômico e
emprego sempre andam juntos. É impossível falar de um sem
lembrar do outro. Por essa razão,
muitas vezes transmite-se uma
visão equivocada a respeito do
efeito do primeiro sobre o segundo.
A expansão da economia conduz sempre ao aumento do emprego, mas não necessariamente
no mesmo ritmo e no mesmo momento. Pode haver crescimento
do PIB (Produto Interno Bruto)
sem a elevação correspondente do
emprego.
Veja-se o que ocorre nos Estados Unidos, onde a recuperação
da economia tem sido muito forte
nos últimos meses. No terceiro trimestre deste ano, a expansão das
atividades alcançou uma taxa
anual impressionante, de 8,2%.
Ficaram para trás os tempos da
recessão, que, aliás, foi muito curta -durou de março a novembro
de 2001. Apesar disso, o crescimento dos postos de trabalho tem
sido decepcionante. Existem ainda cerca de 9 milhões de trabalhadores oficialmente desempregados nos Estados Unidos. O índice de desemprego, a despeito da
reação vigorosa da economia,
apresentou apenas um pequeno
declínio, passando de 6,4% em junho para 5,9% em novembro.
Veja-se também o exemplo da
Índia, para citar um país do bloco
dos emergentes. A moderna economia indiana, muito focada na
produção, no desenvolvimento e
na exportação de softwares, tem
mostrado excepcional dinamismo. Cresceu 31% nos últimos cinco anos, incluído 2003, quando a
expansão foi de 7%. Mesmo com
esse ritmo, o crescimento do emprego foi inferior a 1% ao ano de
1999 até agora.
Essas duas experiências, de um
país superdesenvolvido e de outro
em desenvolvimento, comprovam
a idéia brilhantemente expressada aqui neste mesmo espaço, na
semana passada, pelo economista
Gesner Oliveira: "Nenhum programa de geração de empregos
pode repousar exclusivamente sobre o crescimento da economia".
Mesmo em economias em forte
recuperação, que já saíram da recessão há muito tempo, o emprego não cresce no ritmo desejado.
As empresas conseguem aumentar a produção durante muito
tempo apenas com ganhos de produtividade e redução de ociosidade. Em outras palavras, as empresas industriais e de serviços, neste
período de intensa competitividade, há muito já aprenderam fórmulas de produzir mais sem contratar pessoal.
O problema brasileiro não se resolve apenas com o crescimento
da economia, que certamente virá em 2004. Para que surjam
muitos novos postos de trabalho é
necessário que haja investimentos. Depois que se vive um prolongado período de estagnação ou
baixo índice de crescimento, fica
difícil convencer as empresas a
acreditar na nova fase, mudar de
atitude e passar a investir. Todas
procuram ocupar a capacidade
ociosa e tornar seus empregados
mais produtivos enquanto isso for
possível. Por essa razão, a recuperação do emprego geralmente
não é instantânea e, dependendo
da duração do crescimento de
produção, pode nunca ocorrer. A
fase da contratação efetiva de novos trabalhadores só começa
quando todos os agentes econômicos se convencem de que o crescimento será duradouro, ou sustentável, como preferem os economistas.
Neste ano, por exemplo, haverá
no Brasil um pequeno crescimento (pequeno demais, na verdade)
da economia. Em outubro, todos
saudamos a volta do aumento do
nível de emprego na indústria
paulista. Foi um sinal de mudança de tendência, mas o número de
contratações ainda está muito
aquém do necessário. Para crescer de forma duradoura e gerar
muitas vagas de trabalho, a economia precisa de estímulos por
demais conhecidos, como disponibilidade de crédito a baixo custo, redução da carga fiscal e investimento público.
Será necessário especialmente
alavancar setores intensivos em
mão-de-obra, utilizando recursos
externos que, felizmente, estão
fartos e baratos no mercado internacional. Voltarei a esse tema.
Benjamin Steinbruch, 50, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e presidente do conselho de administração da empresa.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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