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MERCADO DE CAPITAIS
Total de janeiro a novembro deste ano soma R$ 9,5 bi, 56,6% menos do que os R$ 21,9 bi de 2002
Juros altos travam emissão de papéis de empresas, diz CVM
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Os juros altos travaram o mercado de capitais em 2003. Segundo a CVM (Comissão de Valores
Mobiliários), a emissão de papéis
de empresas -ações, debêntures
e outros- somou R$ 9,5 bilhões
de janeiro a novembro deste ano.
O valor nesses 11 meses é 56,6%
menor do que os R$ 21,9 bilhões
de todo o ano de 2002.
Neste ano, só ocorreram 23 lançamentos. Como comparação,
em 2000, por exemplo, o total de
emissões de papéis foi de R$ 42,8
bilhões, com 260 emissões.
Para Luiz Leonardo Cantidiano,
presidente da CVM, os juros elevados desestimularam as empresas a buscar recursos no mercado
de capitais.
Com boa rentabilidade, os títulos de renda fixa (cuja remuneração é atrelada à taxa de juros) ocuparam o espaço dos papéis de empresas. Um dos problemas que
explicam a retração do mercado,
disse ele, é o déficit elevado do setor público, que faz o governo absorver boa parte da poupança do
país por meio da venda de títulos.
"O problema que o mercado teve é decorrência da situação macroeconômica. Ao longo do ano,
teve taxa alta de inflação, taxa de
juros alta, déficit fiscal [do governo] grande. Com isso, o governo
se apropriou de grande parte da
poupança."
Cantidiano avalia que, por causa do desaquecimento econômico, caiu em 2003 a necessidade de
as companhias captarem recursos
para novos investimentos.
"O principal problema foram os
juros altos. As empresas, para
concorrerem com o governo, teriam de pagar juros que iriam sufocá-las. Elas não têm condições
de concorrer com os títulos do governo. Além disso, têm capacidade ociosa e não precisam investir,
não tinham necessidade de recursos", afirmou.
Próximo ano será melhor
Os números da CVM confirmam isso. De janeiro a novembro, só três empresas lançaram
ações na Bolsa. As emissões totalizaram R$ 135 milhões. Em 2002,
ocorreram seis emissões, no valor
de R$ 1,1 bilhão. Houve queda de
87,7% de um ano para o outro.
No caso das debêntures, papéis
de empresas que remuneram a
uma taxa fixa, a retração foi de
59,7%. Em 2002, foram captados
R$ 15,4 bilhões. Até novembro, a
cifra foi de R$ 6,2 bilhões.
Apesar do fraco desempenho
do mercado de capitais, Cantidiano disse estar esperançoso. Acredita que 2004 será um ano melhor, com a queda dos juros e a
maior estabilidade da economia.
"Se tiver um ambiente macroeconômico bom, com controle dos
gastos públicos, inflação sob controle e redução das taxas de juros,
as perspectivas serão melhores."
Segundo Cantidiano, a demanda do governo para financiar seu
déficit será menor, sobrando mais
recursos para aplicações em
ações, debêntures e outros papéis
de companhias.
Ele previu ainda o aumento da
poupança interna com a reforma
previdenciária. Parte desse aumento seria absorvido também
pelo mercado de capitais.
Cantidiano afirmou ainda que o
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) deve ser mais ativo na promoção do mercado de capitais,
estimulando o lançamento de papéis que podem ser adquiridos
pelo banco.
Na sexta-feira, Carlos Lessa,
presidente do banco, havia dito
que os juros altos impediram o
maior dinamismo do BNDES no
mercado de capitais neste ano.
Fiscalização
Em relação à fiscalização, Cantidiano quer que a CVM tenha liberdade para quebrar o sigilo
bancário de pessoas e empresas
investigadas em casos de lavagem
de dinheiro e movimentação irregular com ações.
Para ele, a lei já autoriza a quebra, mas o Banco Central entende
que não. Por causa do impasse, a
CVM pedirá parecer à Procuradoria da Fazenda Nacional.
Também com o objetivo de melhorar a fiscalização, a CVM está
criando um sistema informatizado que cruzará dados de movimentação de ações, ordens de
compra e venda de corretoras e
notícias em tempo real. O sistema
permitirá acompanhar mais de
perto as movimentações irregulares e os possíveis casos de informação privilegiada.
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