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Crescimento tira milhões das classes D e E
Cerca de 20 milhões entram na classe C em 5 anos, aponta Datafolha; movimento intensifica-se nos últimos 17 meses
Movimento sugere que,
num primeiro momento,
programas sociais elevavam
padrão de vida; hoje, impulso
vem da expansão econômica
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Nos últimos cinco anos e
com forte aceleração a partir de
meados de 2006, cerca de 20
milhões de brasileiros com
mais de 16 anos migraram para
a classe C. Eles vieram, em sua
grande maioria, da classe D/E.
Nos três primeiros anos e
seis meses de governo Lula (janeiro de 2003 a junho de 2006),
apenas 6 milhões de pessoas fizeram essa transição. Já nos últimos 17 meses (julho de 2006 a
novembro passado), que coincidem com um período de recuperação mais robusta da economia, a travessia da classe D/E
para a C envolveu cerca de 14
milhões de brasileiros.
Os números são resultado de
pesquisas Datafolha realizadas
em três momentos: outubro de
2002 (pouco antes da posse de
Lula), junho de 2006 e no final
de novembro passado.
Nos últimos cinco anos, a
classe D/E encolheu de 46% do
total da população para 26%. Já
a C cresceu de 32% para 49%,
reunindo hoje quase a metade
dos eleitores do país -125 milhões de pessoas com mais de
16 anos. A classe A/B manteve-se praticamente estável. Seu tamanho oscilou de 20% para
23% do total da população.
Para o economista-chefe da
MB Associados, Sérgio Vale, "o
movimento de ascensão da
classe D/E deve continuar,
muito apoiado na ampliação da
oferta de crédito no comércio e
no crescimento econômico".
A classificação econômica
usando as classes A/B, C e D/E
é comum no mercado publicitário e entre as empresas.
Ela visa segmentar o mercado levando em conta o poder
aquisitivo. É obtida a partir da
verificação de itens de consumo e seu número no domicílio
dos entrevistados. Apura ainda
o grau de instrução do chefe de
família e se há empregado doméstico na residência.
Esse tipo de classificação não
reflete, necessariamente, uma
melhora estrutural nas condições de vida do entrevistado.
A aceleração da transição de
membros da classe D/E para a
C sugere que, se em um primeiro momento foram os programas sociais e previdenciários
os responsáveis pela melhora
de vida dos mais pobres, agora é
o crescimento econômico que
empurra os brasileiros para
uma situação mais confortável.
O PIB (Produto Interno Bruto) do país poderá crescer acima de 5% em 2007, sustentado
por aumentos sucessivos no
consumo, na produção, nos investimentos e na renda e com
queda no desemprego.
O maior número de pessoas
que passaram a ter melhora
econômica e mais acesso a bens
e produtos pertence a famílias
com renda de até dois salários
mínimos (R$ 760).
Nessa faixa de renda, os indicadores que classificam a classe
D/E encolheram, nos últimos
cinco anos, de 80% do total para 49%. Já a classe C cresceu de
16% para 45%.
"Há um novo mercado interno sendo criado pela melhora
na situação dos mais pobres. E
a desigualdade cai visivelmente
com o crescimento mais robusto da economia", afirma o economista Antonio Delfim Netto.
Em termos regionais, a passagem da classe D/E para a C
foi mais acentuada no interior
do que nas regiões metropolitanas e maior no Nordeste, no
Norte e no Centro-Oeste. Nessas regiões, os impactos do
crescimento tendem a ser mais
fortes, dado o número de pobres que concentram.
No Sul, onde os programas
sociais têm menor penetração,
foi pequena a migração das
classes D/E para a C nos três
anos e seis meses iniciais de governo Lula. Mas, nos 17 meses
seguintes, ela veio com força (a
classe D/E encolheu de 30%
para 18%), coincidindo com a
recuperação do predominante
setor agrícola na região.
Nos Estados mais ricos do
Sudeste, o encolhimento da
classe D/E foi de 35% para 17%.
Hoje, mais da metade (51%) da
população da região pertence à
classe C. Outros 31% estão na
classe A/B.
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