São Paulo, quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

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VINICIUS TORRES FREIRE

O Brasil está com crédito


Tesouro capta no exterior a juros baixos e indica que há boas oportunidades de crédito para empresas

O BRASIL tomou um empréstimo de dez anos, com retorno de 4,75% ao ano para o investidor. Foram US$ 500 milhões, no mercado internacional. Para quem não acompanha essas histórias sobre o custo do dinheiro para o país, note-se que não importa o meio bilhão que o Tesouro (o governo federal) captou no exterior: é uma quantia modesta. Importante é que se trata da menor taxa em dólares da história recente do país, salvo algum engano de detalhe (o governo afirma que se trata da menor). O rendimento de um título do Tesouro americano de dez anos estava ontem em 3,6% -o governo americano está se endividando, pois, mais ou menos nessa taxa. Desculpe-se a redundância: o governo pegou dinheiro a uma taxa só 1,14 ponto percentual maior que a paga pelo governo americano.
Numa captação de maio, a diferença fora de 2,5 pontos percentuais.
Sim, sobra dinheiro barato no planeta. De resto, diminuiu o grande medo provocado pela crise. De recentíssimo, foi retirado um bode da sala das dívidas soberanas (de países), que era o caso da moratória da holding estatal das empresas de Dubai, que por ora parece mais ou menos coberta pelo rico emirado vizinho de Abu Dhabi (nem se tratava de dívida soberana, mas o caso enrolou esse meio de campo). Mas o resultado desse empréstimo brasileiro, que o mercado chama de "captação", foi muito bom. O governo funciona como "batedor" das finanças brasileiras no mercado internacional. De tempos em tempos, "testa" os mercados com suas "captações", balizando os custos de empresas e bancos devem.
Além disso, melhora a estrutura, taxas e prazos, de sua dívida. As taxas para o setor privado obviamente variam a depender da qualidade de crédito, desempenho e tamanho de cada empresa ou banco. Mas os empréstimos do Tesouro servem como um boletim meteorológico para firmas brasileiras navegarem no mercado internacional. O tempo parece bom. É uma janela de oportunidade.
O calendário do ano que vem está recheado de datas reservadas para possíveis aumentos de turbulência.
Nada dramático, afora novidades imprevisíveis, mas a incerteza fica maior lá por volta da metade do ano.
Pode haver troca de comando no Banco Central, a partir de março. Há a eleição. O primeiro trimestre vai mostrar a inclinação do governo em relação a gastos. Pela metade do ano será possível ter ideia da velocidade do aumento do deficit em transações correntes (deficit "externo", de transações de bens e serviços), o que deve ter impacto na taxa de câmbio.
A partir do segundo trimestre estará aberta a temporada de altas de juros no Brasil e até nos EUA. E pode ter um fim a tendência de o dólar perder valor diante de quase todas as moedas relevantes do mundo.

Acreditar em duendes
Na semana passada, quando saiu o "PIB menor que o esperado", ouvia-se que o resultado aliviava um pouco a pressão pela alta de juros.
Ontem, saiu o resultado das vendas do comércio de outubro, "melhor do que o esperado". O mercado levantou os juros e voltou a falar em alta já no final do primeiro trimestre de 2010, de resto pedindo um prêmio absurdo nos contratos de juros para o final do ano que vem.

vinit@uol.com.br


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