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ARTIGO
A agricultura e a lição de casa
EVARISTO MARZABAL NEVES
Início de ano, balanço geral. Particularmente, cada setor da economia contabiliza ativos e passivos e
seja o que Deus quiser. Nesse cenário do Plano Real, a agricultura
e o agronegócio exercitam também o seu balanço do ano que acabou.
Indicadores econômicos e estimativas evidenciam que o mundo
agrícola brasileiro vem "segurando o rojão" na dura missão da estabilidade econômica. Vejamos algumas evidências:
1) A inflação medida pelo Índice
Geral de Preços do Mercado
(IGP-M) foi de 7,74% em 97, a menor registrada desde a sua criação
em 1989. Esse índice é composto
por três outros: o IPA (Índice de
Preço por Atacado, com peso 6)
-que registrou alta de 8,07% no
ano; o IPC (Índice de Preços ao
Consumidor, peso 3) -que se elevou 7,36%; e o INCC (Índice Nacional de Custo de Construção,
com peso 1) -que cresceu 7,29%
em 97.
Como o grupo alimentação tem
o maior peso no IPC e este apresentou alta menor que o IGP-M,
credita-se aos alimentos uma das
forças de sustentação do menor
índice dos últimos oito anos.
O mesmo se pode concluir com
respeito à taxa de inflação de São
Paulo, que subiu 4,82% em 1997, a
menor taxa desde os 3,72% de
1950, segundo a Fipe. No custo de
vida dos paulistanos, o setor alimentação cresceu 3,60% em 97.
Como ele tem peso próximo dos
40%, é fácil deduzir a importância
dos alimentos no controle de preços e na estabilidade econômica;
2) O custo médio da cesta básica
em São Paulo (medido pelo Procon, em convênio com o Dieese)
chegou a R$ 117,59 no último dia
de 97, recorde no Plano Real. Em
30/06/94, na implantação do plano, o custo da cesta foi de R$
106,40.
Em três anos e meio, a elevação
foi de apenas R$ 11,19 -uma elevação de 10,52%. Nesse mesmo
período, a inflação medida pela Fipe ficou próxima dos 58%, enquanto o grupo de alimentos acumulou alta de apenas 9,37%;
3) Na balança comercial, as previsões iniciais sinalizavam um déficit que ultrapassaria US$ 12 bilhões em 97. Para surpresa geral,
deve ter ficado em torno de US$
8,5 bilhões. Outra vez, no lado das
exportações, produtos do agrobusiness brasileiro foram responsáveis por um fluxo comercial negativo menor.
As vendas de soja e subprodutos
devem somar US$ 5,6 bilhões, e as
de café, US$ 2,9 bilhões. No geral,
o Ministério da Agricultura estima
as exportações do setor em torno
de US$ 18,4 bilhões, 20,2% mais
que em 1996;
4) No outro prato da balança, segundo o Siscomex, as importações
de produtos agrícolas deverão experimentar uma queda próxima
de 3%, recuando de US$ 7,51 bilhões em 96 para os US$ 7,29 bilhões previstos para 97.
Nessas importações estão incluídos produtos animais e vegetais,
gorduras, óleos, ceras, bebidas,
fumo e outros. Considerando somente as importações de produtos
animais e vegetais (ao redor de
US$ 5,3 bilhões), o saldo positivo
da balança comercial agrícola é estimado em US$ 13,1 bilhões em 97.
Diante desses indicadores, vamos torcer pela agricultura em 98,
para que continue fazendo a lição
de casa e para que os tomadores de
decisões no país ouçam o Fórum
Nacional da Agricultura e as câmaras setoriais do setor.
Estes propõem políticas agrícolas de médio e longo prazos, que
privilegiarão, mediante vantagens
comparativas e competitivas, uma
agricultura profissional, eficiente,
capitalizada, geradora de emprego
e mais justa internamente, após
diagnosticados os pontos fortes e
fracos, as oportunidades e ameaças da agricultura brasileira.
Em suma, o fórum e as câmaras
modelam as bases da manutenção
de inflações reduzidas, de balanças
comerciais positivas e de um desenvolvimento sustentado e equilibrado nas suas mais importantes
vertentes: crescimento econômico
e bem-estar social.
Sonhos? Não, são prognósticos
reais. É preciso acreditar. Por ora,
na virada do ano, por ter feito a
lição de casa, aos trancos e barrancos, ergamos a taça e brindemos:
agricultura, saúde!
Evaristo Marzabal Neves, 56, é diretor da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz",
da USP (Universidade de São Paulo).
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