|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
Juros e salsichas
Já se disse que quem gosta
de salsicha não deve tentar
saber como é o processo de fabricação. Vale o mesmo para o
Banco Central.
Durante mais de um ano, o
presidente do BC, Henrique
Meirelles, reiterou que não caberia ao banco interferir na taxa de câmbio. Durante mais de
um ano, economistas e analistas independentes alertaram
que não existe taxa de câmbio
de equilíbrio em um quadro
em que um país, o Brasil, pratica taxas de juros insustentavelmente elevadas, e outros, como
Estados Unidos e Europa, taxas de juros insustentavelmente baixas, criando um excesso
de liquidez que está longe de se
caracterizar como permanente. Uma maneira de impedir
esse desequilíbrio seria a recomposição das reservas.
Dias depois da última afirmação do gênero, o BC anuncia que passaria a intervir no
mercado para recompor reservas. Mas Meirelles continuava
salientando que não iria influir nas cotações. Como é impossível que se recomponham
reservas -ou seja, que se aumente a demanda por dólares- sem interferir nas cotações, toca a fazer leituras esotéricas sobre o significado de
suas declarações. E a conclusão
benevolente é que Meirelles
apenas não quis definir o piso
do câmbio.
Na verdade, Meirelles julgava ser possível entrar no mercado sem influir nas cotações.
Questionado como seria esse
processo, respondeu que bastaria adquirir dólares excedentes. Questionado como definiria o percentual de dólares excedente, embatucou.
O importante é que ele acreditava, de fato, que seria possível recompor reservas sem nenhum impacto sobre as cotações. E o BC não tem nenhum
diretor com coragem suficiente
para alertá-lo sobre erros primários de análise.
Conceitual e o empírico
O método experimental -o
estudo da economia e do seu
mecanismo à luz da experiência e da observação- nunca se
fez entre nós. Os dados ou revelações oriundos da experiência
jamais tiveram qualquer significação. Uma mesma experiência que fracasse é renovada indefinidamente, desde que seja
considerada "liberal".
Não se procura saber a causa
do fracasso: se está na psicologia da população e do empresariado; se nas condições peculiares da economia e de sua
morfologia social; se nas deficiências de sua cultura política.
Insiste-se sempre, e indefinidamente, na tentativa, renovando sistemas sucessivamente,
convencidos todos de que o fracasso ocorrido antes tinha causa exclusivamente nos homens,
ou melhor, em alguns homens
-os do "partido de cima", e
que, se substituirmos esses homens, mediante uma eleição
ou mesmo uma revolução, os
"outros", os que os substituírem, mostrarão a "beleza do
regime"...
Não importa que uma experiência de mais de dez anos tenha mostrado, com rigor de
uma lei, que esses "outros", que
sucederam aos do fracasso, falharam também, e tanto quanto os outros.
Esse fracasso repetido não
impede que os substitutos continuem a insistir na experiência -à maneira das moscas
quando tentam atravessar vidraças.
O texto acima é uma livre
adaptação do livro "Instituições Políticas Brasileiras", de
Oliveira Vianna, escrito nos
anos 30.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Consumo: Gasolina "batizada" fará posto devolver dinheiro Próximo Texto: Telefonia: Apesar da crise, sobe 33% total de celulares no ano Índice
|