São Paulo, quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

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Estrangeiros tiram R$ 1,9 bi da Bovespa

Diante de incertezas, investidor externo vende ações em mercados emergentes; saída no ano já é quase metade da registrada em 2007

Com temores sobre recessão nos EUA, índice da Bolsa de SP cai ao mais baixo patamar desde setembro; em 2008, desvalorização chega a 8%

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O dia ruim no mercado financeiro global puniu especialmente os emergentes. Nos Estados Unidos, cuja economia está no epicentro das preocupações de analistas e investidores, as Bolsas tiveram baixas menos intensas ontem.
A Bovespa encerrou seu pregão com desvalorização de 1,89%, após chegar a cair 3,05% no pior momento do dia. O dólar avançou 1,14%, a R$ 1,773.
Investidores internacionais optaram por liquidar mais intensamente posições em ativos de emergentes para fazer caixa ou comprar papéis do Tesouro dos Estados Unidos. Fortes baixas foram registradas em Bolsas como as de Peru (-5,38%), Rússia (-4,29%), Turquia (-2,55%) e México (-2,21%).
"Os grandes investidores estão fazendo caixa onde há maior liquidez, como no mercado brasileiro. Com tantas incertezas no cenário internacional, estão saindo de ações para levantar caixa", diz Flávio Zullo, gerente da HSBC Corretora.
O resultado das operações dos estrangeiros na Bovespa mostra bem isso: nas duas primeiras semanas do ano, o saldo de seus negócios ficou negativo em R$ 1,88 bilhão -cifra que pode ter piorado com a movimentação verificada por profissionais do mercado nos últimos dias. Em todo 2007, que foi um ano bastante negativo nesse critério, houve saída de líquida de R$ 4,2 bilhões.
A Bolsa de Valores de São Paulo já acumula desvalorização de 8% neste mês. Ontem o índice Ibovespa, a principal referência do mercado acionário brasileiro, fechou aos 58.777 pontos, o mais baixo patamar desde 24 de setembro.
Neste começo de 2008, os estrangeiros seguem como a categoria que mais negocia na Bolsa paulista -com 37,4% do total. Em seguida apareceram os investidores institucionais (como os fundos de pensão), com 30,4%, e as pessoas físicas, com 21,6% da movimentação.
O mercado não deixou de se deparar ontem com relevantes dados econômicos vindos dos EUA. O dia apenas não foi mais agitado porque o CPI (índice de preços ao consumidor americano) ficou dentro do esperado em dezembro, com alta de 0,3%. No ano, o CPI subiu 4,1%, mais elevado nível desde 1990.
A divulgação do livro bege -compilação de dados econômicos feita pelo BC norte-americano- não trouxe novidades de maior impacto, confirmando a percepção do mercado de enfraquecimento do varejo e queda no ritmo da maior economia do mundo.
Em Wall Street, o índice Dow Jones recuou 0,28%. A Bolsa eletrônica Nasdaq caiu 0,95%.
Os efeitos da crise hipotecária norte-americana, que se aprofundou no segundo semestre de 2007, têm mostrado seu poder de contaminação na economia. A queda nas vendas no varejo, divulgadas anteontem, aponta que o consumidor americano pode estar mais temeroso em relação ao futuro.
"Nos últimos dias vimos crescer a preocupação com a piora no setor de crédito como um todo, e não apenas com o segmento de subprime [hipoteca de alto risco]", diz Zullo.
A temida recessão nos EUA, se for confirmada, significará menor consumo e, conseqüentemente, lucros menores para as empresas. E, se as companhias com ações em Bolsa passam a lucrar menos, tornam-se menos interessantes para seus acionistas. Dessa forma, com a ameaça de piora do cenário, investidores têm vendido ações antes que as previsões mais pessimistas se confirmem.
Na Europa, a Bolsa de Londres perdeu 1,37%, e a de Frankfurt caiu 1,25%.
A Bolsa de Tóquio esteve entre as que mais recuaram ontem, com baixa de 3,35%.
O mercado anda tão tenso que ontem, no fim do dia, comentava-se a possibilidade de o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) antecipar sua reunião, que está marcada para os dias 29 e 30, para cortar os juros e acalmar os investidores. Os rumores fizeram as Bolsas que ainda estavam abertas, como a brasileira e a americana, diminuírem suas perdas.

Ações depreciadas
A Petrobras esteve novamente entre as que mais caíram na Bovespa. A ação da petrolífera costuma estar entre as preferidas dos investidores estrangeiros, e a saída de recursos externos a tem punido.
No pregão de ontem, a ação preferencial da Petrobras, que sozinha respondeu por quase 20% das operações, caiu 3,76%. Na semana, o papel já perdeu 8,53% de valor. A queda no preço do barril de petróleo também tem afetado as ações da Petrobras. Em Nova York, o petróleo recuou 1,15% ontem, para US$ 90,84.
Baixas mais fortes afetaram outras gigantes da Bolsa. A ação ON da CSN recuou 5,52%, seguida por Vale ON, que teve queda de 4,61%.


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