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Estrangeiros tiram R$ 1,9 bi da Bovespa
Diante de incertezas, investidor externo vende ações em mercados emergentes; saída no ano já é quase metade da registrada em 2007
Com temores sobre recessão nos EUA, índice da Bolsa de SP cai ao mais baixo patamar desde setembro; em 2008, desvalorização chega a 8%
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O dia ruim no mercado financeiro global puniu especialmente os emergentes. Nos Estados Unidos, cuja economia
está no epicentro das preocupações de analistas e investidores, as Bolsas tiveram baixas
menos intensas ontem.
A Bovespa encerrou seu pregão com desvalorização de
1,89%, após chegar a cair 3,05%
no pior momento do dia. O dólar avançou 1,14%, a R$ 1,773.
Investidores internacionais
optaram por liquidar mais intensamente posições em ativos
de emergentes para fazer caixa
ou comprar papéis do Tesouro
dos Estados Unidos. Fortes baixas foram registradas em Bolsas como as de Peru (-5,38%),
Rússia (-4,29%), Turquia
(-2,55%) e México (-2,21%).
"Os grandes investidores estão fazendo caixa onde há
maior liquidez, como no mercado brasileiro. Com tantas
incertezas no cenário internacional, estão saindo de
ações para levantar caixa",
diz Flávio Zullo, gerente
da HSBC Corretora.
O resultado das operações dos estrangeiros na
Bovespa mostra bem
isso: nas duas primeiras semanas do ano, o
saldo de seus negócios ficou negativo
em R$ 1,88 bilhão
-cifra que pode ter
piorado com a movimentação verificada por profissionais do mercado nos últimos dias. Em todo 2007, que foi
um ano bastante negativo nesse critério, houve saída de líquida de R$ 4,2 bilhões.
A Bolsa de Valores de São
Paulo já acumula desvalorização de 8% neste mês. Ontem o
índice Ibovespa, a principal referência do mercado acionário
brasileiro, fechou aos 58.777
pontos, o mais baixo patamar
desde 24 de setembro.
Neste começo de 2008, os estrangeiros seguem como a categoria que mais negocia na Bolsa
paulista -com 37,4% do total.
Em seguida apareceram os investidores institucionais (como os fundos de pensão), com
30,4%, e as pessoas físicas, com
21,6% da movimentação.
O mercado não deixou de se
deparar ontem com relevantes
dados econômicos vindos dos
EUA. O dia apenas não foi mais
agitado porque o CPI (índice de
preços ao consumidor americano) ficou dentro do esperado
em dezembro, com alta de
0,3%. No ano, o CPI subiu 4,1%,
mais elevado nível desde 1990.
A divulgação do livro bege
-compilação de dados econômicos feita pelo BC norte-americano- não trouxe novidades
de maior impacto, confirmando a percepção do mercado de
enfraquecimento do varejo e
queda no ritmo da maior economia do mundo.
Em Wall Street, o índice Dow
Jones recuou 0,28%. A Bolsa
eletrônica Nasdaq caiu 0,95%.
Os efeitos da crise hipotecária norte-americana, que se
aprofundou no segundo semestre de 2007, têm mostrado seu
poder de contaminação na economia. A queda nas vendas no
varejo, divulgadas anteontem,
aponta que o consumidor americano pode estar mais temeroso em relação ao futuro.
"Nos últimos dias vimos
crescer a preocupação com a
piora no setor de crédito como
um todo, e não apenas com o
segmento de subprime [hipoteca de alto risco]", diz Zullo.
A temida recessão nos EUA,
se for confirmada, significará
menor consumo e, conseqüentemente, lucros menores para
as empresas. E, se as companhias com ações em Bolsa passam a lucrar menos, tornam-se
menos interessantes para seus
acionistas. Dessa forma, com a
ameaça de piora do cenário, investidores têm vendido ações
antes que as previsões mais
pessimistas se confirmem.
Na Europa, a Bolsa de Londres perdeu 1,37%, e a de
Frankfurt caiu 1,25%.
A Bolsa de Tóquio esteve entre as que mais recuaram ontem, com baixa de 3,35%.
O mercado anda tão tenso
que ontem, no fim do dia, comentava-se a possibilidade de o
Fed (Federal Reserve, o banco
central americano) antecipar
sua reunião, que está marcada
para os dias 29 e 30, para cortar
os juros e acalmar os investidores. Os rumores fizeram as Bolsas que ainda estavam abertas,
como a brasileira e a americana, diminuírem suas perdas.
Ações depreciadas
A Petrobras esteve novamente entre as que mais caíram na Bovespa. A ação da petrolífera costuma estar entre as
preferidas dos investidores estrangeiros, e a saída de recursos
externos a tem punido.
No pregão de ontem, a ação
preferencial da Petrobras, que
sozinha respondeu por quase
20% das operações, caiu 3,76%.
Na semana, o papel já perdeu
8,53% de valor. A queda no preço do barril de petróleo também tem afetado as ações da
Petrobras. Em Nova York, o
petróleo recuou 1,15% ontem, para US$ 90,84.
Baixas mais fortes afetaram outras gigantes
da Bolsa. A ação ON
da CSN recuou
5,52%, seguida por
Vale ON, que teve
queda de 4,61%.
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