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PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Foi bom não ter reduzido a meta
Se a meta de inflação de 2009
tivesse sido reduzida, o Copom
poderia estar, a esta altura,
cogitando aumentar os juros
EM MAIO e junho do ano passado, estabeleceu-se uma controvérsia sobre a conveniência ou não de reduzir a meta de inflação. No final de junho, o CMN (Conselho Monetário Nacional) teria que
fixar a meta para 2009. Segundo se
noticiou amplamente na imprensa,
havia duas posições no governo. O
Banco Central queria reduzir o centro da meta de 4,5% para 4% em
2009, e o intervalo de tolerância, de
2 pontos para 1,5 ponto percentual
acima ou abaixo do centro meta. O
Ministério da Fazenda se opôs a essas mudanças e a sua posição prevaleceu: o CMN manteve a meta e o intervalo de tolerância.
Em retrospecto, parece claro que
a decisão foi acertada. Não teria sido
conveniente reduzir o grau de flexibilidade do regime de metas para a
inflação. Em 2007, a variação do IPCA (índice que serve de referência)
acabou chegando a 4,46%. Como há
defasagens apreciáveis entre as variações da taxa de juro e seus efeitos
sobre a inflação, se a meta de 2009
tivesse sido reduzida para 4%, com
intervalo mais estreito, o Copom
(Comitê de Política Monetária do
Banco Central) poderia estar, a esta
altura, cogitando aumentar os juros
de novo. Alguns dos seus integrantes talvez estivessem se sentindo docemente constrangidos a apertar a
política monetária para preservar a
credibilidade do regime de metas.
Digito essa frase e paro. Nunca se
sabe. Talvez o Copom esteja pretendo aumentar os juros mesmo assim.
Mas não é provável. Os riscos de aumento da inflação não parecem tão
altos.
A economia está crescendo, mas
não em ritmo explosivo. Não temos
restrição de balanço de pagamentos.
Ainda existem margens consideráveis de desemprego e capacidade
ociosa. O investimento produtivo
está aumentando rapidamente. À
medida que esses investimentos forem maturando, aumentará a capacidade de atender a demanda crescente sem pressão sobre os preços.
As expectativas de inflação, de acordo com levantamentos periódicos
realizado pelo BC, continuam contidas, indicando inflação um pouco
abaixo do centro da meta em 2008
(4,3% nos dois últimos levantamentos).
Além disso, as medidas de tendência da inflação, os chamados "núcleos", calculados pelo BC e pela
FGV, têm ficado abaixo da inflação
dos preços ao consumidor. No acumulado em 12 meses até novembro,
os núcleos inflacionários apresentaram variação entre 3,4% e 4%. Por
exemplo, para o IPCA, o núcleo por
exclusão (que não considera preços
de alimentos no domicílio e preços
monitorados) aumentou 3,9% nos
12 meses até novembro.
Isso se explica em parte pelo fato
de que em 2007 os preços dos alimentos responderam por quase metade da variação do IPCA. O aumento da demanda doméstica contribuiu para pressionar esses preços.
Mas prevaleceram fatores do lado
da oferta, segundo avaliação do IBGE: condições climáticas desfavoráveis no Brasil (chuvas intensas no
primeiro semestre e longa estiagem
no segundo), preços elevados no
mercado internacional, aumento
das exportações estimulado pela redução da oferta em países produtores e redução de safra por baixa remuneração dos produtores em períodos anteriores.
Choques de oferta, portanto, explicam grande parte da inflação recente. Por isso mesmo é que a fixação das metas de inflação e dos intervalos de tolerância tem que ser
feita com cuidado e flexibilidade,
sem ambições exageradas.
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR., 52, escreve às quintas-feiras nesta coluna. Diretor-executivo no FMI, representa um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago).
pnbjr@attglobal.net
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