São Paulo, quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

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PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.

Foi bom não ter reduzido a meta

Se a meta de inflação de 2009 tivesse sido reduzida, o Copom poderia estar, a esta altura, cogitando aumentar os juros

EM MAIO e junho do ano passado, estabeleceu-se uma controvérsia sobre a conveniência ou não de reduzir a meta de inflação. No final de junho, o CMN (Conselho Monetário Nacional) teria que fixar a meta para 2009. Segundo se noticiou amplamente na imprensa, havia duas posições no governo. O Banco Central queria reduzir o centro da meta de 4,5% para 4% em 2009, e o intervalo de tolerância, de 2 pontos para 1,5 ponto percentual acima ou abaixo do centro meta. O Ministério da Fazenda se opôs a essas mudanças e a sua posição prevaleceu: o CMN manteve a meta e o intervalo de tolerância.
Em retrospecto, parece claro que a decisão foi acertada. Não teria sido conveniente reduzir o grau de flexibilidade do regime de metas para a inflação. Em 2007, a variação do IPCA (índice que serve de referência) acabou chegando a 4,46%. Como há defasagens apreciáveis entre as variações da taxa de juro e seus efeitos sobre a inflação, se a meta de 2009 tivesse sido reduzida para 4%, com intervalo mais estreito, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) poderia estar, a esta altura, cogitando aumentar os juros de novo. Alguns dos seus integrantes talvez estivessem se sentindo docemente constrangidos a apertar a política monetária para preservar a credibilidade do regime de metas.
Digito essa frase e paro. Nunca se sabe. Talvez o Copom esteja pretendo aumentar os juros mesmo assim. Mas não é provável. Os riscos de aumento da inflação não parecem tão altos.
A economia está crescendo, mas não em ritmo explosivo. Não temos restrição de balanço de pagamentos.
Ainda existem margens consideráveis de desemprego e capacidade ociosa. O investimento produtivo está aumentando rapidamente. À medida que esses investimentos forem maturando, aumentará a capacidade de atender a demanda crescente sem pressão sobre os preços.
As expectativas de inflação, de acordo com levantamentos periódicos realizado pelo BC, continuam contidas, indicando inflação um pouco abaixo do centro da meta em 2008 (4,3% nos dois últimos levantamentos).
Além disso, as medidas de tendência da inflação, os chamados "núcleos", calculados pelo BC e pela FGV, têm ficado abaixo da inflação dos preços ao consumidor. No acumulado em 12 meses até novembro, os núcleos inflacionários apresentaram variação entre 3,4% e 4%. Por exemplo, para o IPCA, o núcleo por exclusão (que não considera preços de alimentos no domicílio e preços monitorados) aumentou 3,9% nos 12 meses até novembro.
Isso se explica em parte pelo fato de que em 2007 os preços dos alimentos responderam por quase metade da variação do IPCA. O aumento da demanda doméstica contribuiu para pressionar esses preços. Mas prevaleceram fatores do lado da oferta, segundo avaliação do IBGE: condições climáticas desfavoráveis no Brasil (chuvas intensas no primeiro semestre e longa estiagem no segundo), preços elevados no mercado internacional, aumento das exportações estimulado pela redução da oferta em países produtores e redução de safra por baixa remuneração dos produtores em períodos anteriores. Choques de oferta, portanto, explicam grande parte da inflação recente. Por isso mesmo é que a fixação das metas de inflação e dos intervalos de tolerância tem que ser feita com cuidado e flexibilidade, sem ambições exageradas.


PAULO NOGUEIRA BATISTA JR., 52, escreve às quintas-feiras nesta coluna. Diretor-executivo no FMI, representa um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago).
pnbjr@attglobal.net


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