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Governo teme impacto nas contas externas
Redução do fluxo financeiro para o país, em um cenário que já aponta para déficit em 2008, preocupa equipe econômica
Receio é o de que a queda na entrada de dólares afete diretamente a taxa de câmbio, aliada no combate à inflação nos últimos meses
Lula Marques - 20.dez.2007/Folha Imagem
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Henrique Meirelles, do BC, que minimizou risco com crise nos EUA |
SHEILA D'AMORIM
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A queda nas Bolsas do mundo todo nos últimos dias por
conta dos prejuízos dos bancos
norte-americanos -que começam a ficar mais claros com a
divulgação dos balanços do
quarto trimestre de 2007-
acentuou a preocupação da
equipe econômica com os desdobramentos da crise originada nos Estados Unidos e os impactos no Brasil.
E o principal motivo, neste
primeiro momento, não é a dúvida em relação ao ritmo de desaceleração da maior economia
do mundo. Segundo a Folha
apurou, a equipe econômica teme que a perda de valor das
empresas instaladas no país,
refletidas na forte queda das
ações negociadas na Bovespa,
seja acompanhada de uma diminuição dos fluxos financeiros externos.
A preocupação se justifica
porque isso afetaria diretamente a taxa de câmbio, aliada
mais importante no combate à
inflação nos últimos meses.
Um corte ou uma redução forte
do fluxo de recursos internacionais direcionados para aplicações financeiras seria o canal
de contágio, segundo avaliação
do governo, porque se daria
num momento em que o Brasil
deverá voltar a registrar déficit
nas suas transações com o resto do mundo.
As projeções para 2008 são
de um déficit em conta corrente de quase US$ 5 bilhões, após
superávits sucessivos. Isso porque, enquanto as importações
estão em franca ascensão, impulsionadas pelo consumo interno e o dólar mais barato, as
exportações estão em desaceleração. Além disso, outras despesas como remessa de lucros e
dividendos também devem
pressionar os gastos.
Alta da inflação
A equipe econômica conta
justamente com o dinheiro que
ingressa no país para investimentos em ações, títulos e outras operações financeiras para
compensar essas saídas de recursos para o exterior.
Se esse fluxo também cai, a
tendência é o câmbio se desvalorizar, o que, por um lado torna as exportações mais competitivas, mas, por outro, puxa a
inflação para cima.
Na avaliação de um integrante da equipe econômica, como o
Brasil tem um colchão de reservas de US$ 180 bilhões e indicadores econômicos favoráveis,
ainda pode avaliar melhor os
desdobramentos antes de tomar medidas como o aumento
de juros para evitar alta da inflação neste ano.
Apesar dessa preocupação, a
equipe econômica avalia que,
por enquanto, o efeito da crise
norte-americana no Brasil será
pequeno, não representando
grandes riscos para o ritmo de
crescimento brasileiro (leia
texto ao lado). A expectativa é
que ele fique acima de 4%.
Além disso, ainda há dúvidas
sobre o cenário norte-americano. Se por um lado há riscos claros de recessão, por outro há
outros fatores que podem compensar os efeitos da crise, como
o período eleitoral nos Estados
Unidos neste ano. Mais: a crise
não deve reduzir significativamente o preço das commodities neste primeiro semestre,
contribuindo para que as exportações brasileiras continuem fortes nesse setor.
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