São Paulo, quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

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Governo teme impacto nas contas externas

Redução do fluxo financeiro para o país, em um cenário que já aponta para déficit em 2008, preocupa equipe econômica

Receio é o de que a queda na entrada de dólares afete diretamente a taxa de câmbio, aliada no combate à inflação nos últimos meses

Lula Marques - 20.dez.2007/Folha Imagem
Henrique Meirelles, do BC, que minimizou risco com crise nos EUA


SHEILA D'AMORIM
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A queda nas Bolsas do mundo todo nos últimos dias por conta dos prejuízos dos bancos norte-americanos -que começam a ficar mais claros com a divulgação dos balanços do quarto trimestre de 2007- acentuou a preocupação da equipe econômica com os desdobramentos da crise originada nos Estados Unidos e os impactos no Brasil.
E o principal motivo, neste primeiro momento, não é a dúvida em relação ao ritmo de desaceleração da maior economia do mundo. Segundo a Folha apurou, a equipe econômica teme que a perda de valor das empresas instaladas no país, refletidas na forte queda das ações negociadas na Bovespa, seja acompanhada de uma diminuição dos fluxos financeiros externos.
A preocupação se justifica porque isso afetaria diretamente a taxa de câmbio, aliada mais importante no combate à inflação nos últimos meses. Um corte ou uma redução forte do fluxo de recursos internacionais direcionados para aplicações financeiras seria o canal de contágio, segundo avaliação do governo, porque se daria num momento em que o Brasil deverá voltar a registrar déficit nas suas transações com o resto do mundo.
As projeções para 2008 são de um déficit em conta corrente de quase US$ 5 bilhões, após superávits sucessivos. Isso porque, enquanto as importações estão em franca ascensão, impulsionadas pelo consumo interno e o dólar mais barato, as exportações estão em desaceleração. Além disso, outras despesas como remessa de lucros e dividendos também devem pressionar os gastos.

Alta da inflação
A equipe econômica conta justamente com o dinheiro que ingressa no país para investimentos em ações, títulos e outras operações financeiras para compensar essas saídas de recursos para o exterior.
Se esse fluxo também cai, a tendência é o câmbio se desvalorizar, o que, por um lado torna as exportações mais competitivas, mas, por outro, puxa a inflação para cima.
Na avaliação de um integrante da equipe econômica, como o Brasil tem um colchão de reservas de US$ 180 bilhões e indicadores econômicos favoráveis, ainda pode avaliar melhor os desdobramentos antes de tomar medidas como o aumento de juros para evitar alta da inflação neste ano.
Apesar dessa preocupação, a equipe econômica avalia que, por enquanto, o efeito da crise norte-americana no Brasil será pequeno, não representando grandes riscos para o ritmo de crescimento brasileiro (leia texto ao lado). A expectativa é que ele fique acima de 4%.
Além disso, ainda há dúvidas sobre o cenário norte-americano. Se por um lado há riscos claros de recessão, por outro há outros fatores que podem compensar os efeitos da crise, como o período eleitoral nos Estados Unidos neste ano. Mais: a crise não deve reduzir significativamente o preço das commodities neste primeiro semestre, contribuindo para que as exportações brasileiras continuem fortes nesse setor.


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