São Paulo, terça-feira, 17 de fevereiro de 2004

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NEGÓCIO

Estatal, monopolista na produção e na distribuição, quer agora adquirir a distribuidora de gás liquefeito de petróleo

Petrobras oferece US$ 600 mi pela Agip

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

A Petrobras já abriu negociações para a compra da distribuidora de GLP (gás liquefeito de petróleo) da Agip do Brasil, do gigante italiano da área de energia Eni. De acordo com o que a Folha apurou, a Petrobras fez uma proposta de cerca de US$ 600 milhões para a compra da distribuidora (ex-Liquigás).
A proposta da Petrobras à Agip do Brasil foi feita por meio do Banco CS First Boston, o intermediário da transação. A proposta funciona como uma espécie de passaporte para a empresa ter acesso a todos os números da Agip do Brasil.
O banco CS First Boston estabeleceu prazo até o final de março para a estatal decidir, após a análise dos números, se irá ou não comprar a empresa. A Petrobras tem um "data room" (sala virtual) exclusivo. Procurados pela Folha, a Petrobras, a Agip do Brasil e o banco CS First Boston preferiram não se pronunciar sobre a negociação.

Estratégia
Desde o ano passado, quando começou a preparar seu plano estratégico para os próximos anos, a Petrobras tem defendido a necessidade de entrar no mercado de distribuição de gás. A empresa já detém o monopólio na produção e no transporte de GLP às distribuidoras.
Em 2003, a Petrobras chegou a negociar a compra da Shell Gas, a distribuidora de GLP do grupo Shell, mas perdeu a corrida para a Ultragaz. Com a aquisição, a Ultragaz tornou-se a líder do mercado, com cerca de 24,5% de participação.
A Agip do Brasil (ex-Liquigás) é a segunda maior empresa do setor, com 21% de participação. Até a Ultragaz ter adquirido a Shell Gas, a empresa era a líder do mercado.
Para fechar a compra da Agip do Brasil, a Petrobras terá antes de fazer uma consulta aos órgãos de defesa ao consumidor. A SDE (Secretaria de Direito Econômico) e o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) terão certamente que se pronunciar sobre a investida da Petrobras na área de distribuição de gás, já que ela é monopolista na produção e no transporte. Ao entrar na distribuição de GLP, a Petrobras terá grande poder na formação de preço do produto.
Depois de ter vetado a fusão Nestlé/Garoto, o Cade deu um sinal de que não se deixará influenciar por pressões externas nos julgamentos.
O assunto já começou a ser debatido superficialmente dentro do governo. Há uma grande preocupação, em alguns setores, sobre o avanço da Petrobras.
Outra preocupação se refere à manutenção de empregos. Caso compre a distribuidora de GLP, a Petrobras não deverá precisar de uma boa parte do atual contingente de 4.000 funcionários da Agip do Brasil.
A ofensiva da Petrobras na área de distribuição de GLP é apenas o início de uma nova fase que a empresa pretende adotar, a partir de agora. Após ter anunciado o lucro recorde de R$ 17,8 bilhões em 2003, a empresa abriu a temporada de caça aos diversos setores onde atua.
Além da área distribuição de GLP, outro setor que a Petrobras tem forte interesse é o de petroquímica. Nas próximas semanas, a estatal irá definir sua estratégia para o setor.


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