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Lula manda BB financiar habitação popular
Mesmo sem experiência no setor, Lula ordena banco a financiar imóveis à baixa renda para atingir metas de pacote habitacional
Ordem é dada após Caixa dizer que não atingirá metas do plano lulista, que prevê financiar 500 mil casas neste ano e 500 mil em 2010
KENNEDY ALENCAR
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco do Brasil irá atuar
no financiamento de imóveis
para baixa renda. Apesar de esse segmento não ser o foco do
banco, que entrou no segmento
habitacional recentemente, o
presidente Lula deu ordem à
instituição para participar como financiador do pacote de
habitação popular que deverá
ser anunciado após o Carnaval.
A decisão foi tomada depois
de Lula ouvir da Caixa Econômica Federal que ela teria dificuldade para, sozinha, levar o
mercado a atingir a meta de financiamentos do plano: 500
mil unidades neste ano e 500
mil até o final do ano que vem.
A Folha apurou que a presidente da Caixa, Maria Fernanda Ramos Coelho, disse a Lula
que seria possível financiar algo entre 300 mil e 350 mil unidades. Mas, para chegar aos
500 mil, seria necessário reforço do BB, que começou a financiar imóveis em julho, mas não
atua com dinheiro do FGTS,
principal fonte de recursos nas
operações para a baixa renda.
Isso porque não há garantia
do interesse dos bancos privados no início do processo. A
ideia do governo é fazer com
que pessoas que hoje não têm
acesso a financiamentos habitacionais sejam incluídas no
sistema bancário. Eles são o pilar do pacote do governo. Os
maiores benefícios estão sendo
direcionados para trabalhadores com renda até dez salários
mínimos (R$ 4.650), que terá
parte do custo subsidiada.
É nessa camada da população que estará a maior parte da
demanda por imóveis nos próximos 15 anos -mais de 70%,
segundo estimativas do governo- e onde Lula quer reforçar
sua base eleitoral para fazer
seu sucessor no ano que vem.
O problema é que os bancos
não têm tradição de operar
com esse público, e, como a
rentabilidade do investimento
é menor, preferem focar nas
classes mais ricas usando principalmente recursos da caderneta de poupança.
O próprio BB tem, desde o final de 2008, aprovado limite de
R$ 1 bilhão no FGTS para fazer
financiamentos direcionados
ao público do fundo. A previsão
é que o dinheiro seja usado
neste ano, e o BB já mostrou interesse em utilizar ao menos
R$ 300 milhões.
Apesar da falta de experiência do BB na habitação, o banco
vê o setor como oportunidade
de expansão na crise.
Auxiliar direto de Lula disse
à Folha que, após ouvir Maria
Fernanda, o presidente conversou com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e com o
presidente do BB, Antonio Lima Neto, para que o BB fosse
parceiro da Caixa no pacote.
O BB confirma só que usará
os recursos aprovados pelo
FGTS e diz que está em fase de
"operacionalização", adaptando os sistemas para o setor.
O pacote habitacional é visto
por Lula como uma das medidas mais importantes contra a
crise. Como a construção emprega mão-de-obra intensivamente, o pacote pode reduzir o
impacto do desemprego maior.
O interesse do BB em expandir sua atuação à habitação é
antigo. Mas o banco pretendia,
ao menos no início, atuar com
famílias de maior renda como
seus concorrentes privados.
Hoje o crédito habitacional
médio do BB é de R$ 124 mil, e
o pacote do governo quer financiar imóveis entre R$ 50
mil e R$ 60 mil.
Desde o início das conversas
no governo para começar uma
carteira imobiliária, o BB sempre deixou claro que não pretendia ocupar o espaço da Caixa, líder no setor e com larga
experiência com a baixa renda.
A experiência do BB com o
público de menor renda no governo Lula foi desastrosa. O
Banco Popular, criado no início
do primeiro mandato lulista
para promover inclusão bancária de trabalhadores informais
sem renda comprovada, teve
que ser absorvido pelo BB depois de sucessivos prejuízos.
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