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Lucro do BNDES cai 27,4%, primeira queda em seis anos
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
O BNDES fechou 2008 com
lucro de R$ 5,3 bilhões, queda
de 27,4% em relação a 2007. É o
primeiro recuo no lucro anual
desde 2002 e o menor valor
desde os R$ 3,2 bilhões de
2005. Segundo o BNDES, dois
fatores explicam o resultado: a
redução dos "spreads" (diferença entre a taxa de captação
de recursos e a repassada aos
clientes) e a redução de receitas
com reversão de provisão para
risco de crédito. Quando uma
empresa deixa de pagar um empréstimo, o banco faz uma reserva de recursos. Em 2007, a
reversão dessas provisões chegou a R$ 1,3 bilhão, impulsionada pelo pagamento de uma dívida da AES. Em 2008, esse volume ficou em R$ 445 milhões.
Principal instrumento do governo para impulsionar os investimentos, nos últimos anos
o BNDES tem feito reduções
nas taxas cobradas nos empréstimos. No lançamento da PDP
(Política de Desenvolvimento
Produtivo), em maio último,
por exemplo, o banco anunciou
cortes com impacto de cerca de
R$ 1 bilhão até 2010, o equivalente a R$ 350 milhões/ano.
No resultado de 2008, o
BNDES diz que houve efeito da
redução de "spreads" no resultado da intermediação financeira, de R$ 4,7 bilhões em
2007 para R$ 3,8 bilhões.
O banco de fomento registrou desembolso recorde de R$
92,2 bilhões em 2008 e contou
com captação de recursos do
Tesouro, de R$ 22,5 bilhões, e
do FI-FGTS, de R$ 7 bilhões,
para complementar o "funding" e atender à demanda.
"O resultado do banco em
2008 foi bastante satisfatório,
em linha com o que se poderia
esperar de um banco de desenvolvimento que vem reduzindo
"spread" e que optou por não ser
tão ativo no mercado de renda
variável para não realizar perdas referentes a um momento
de mercado", disse Vânia Borgerth, chefe do departamento
de Contabilidade do BNDES.
Para Luis Miguel Santacreu,
analista da Austin Ratings, os
resultados mostram a estratégia do governo de estimular a
redução de taxas cobradas pelos bancos e o aumento do volume de operações. "O lucro do
BNDES é sensível à redução de
"spreads" porque eles já são baixos [no banco]. É um exemplo
de banco em atividade anticíclica. No momento em que a
economia está se retraindo, ele
fornece crédito a juros baixos."
A inadimplência do banco
permanece baixa e corresponde a 0,15% da carteira total, mas
já foi menor. Em 2007, era de
0,11%. O saldo de provisão para
risco de crédito somou R$ 4,6
bilhões, o equivalente a 13,9 vezes a carteira inadimplente.
"Nenhuma empresa quer ficar de mal com o BNDES porque sabe que ali se obtém crédito mais barato. No passado, o
banco ganhou mais porque era
um período de bonança, mas
agora é o órgão do governo para
defender o investimento", afirma Júlio Gomes de Almeida,
professor da Unicamp.
A carteira de ações do banco
ficou estável, com R$ 6 bilhões.
Em 2007, somava R$ 6,1 bilhões. "O resultado foi favorável se considerarmos os efeitos
da crise global", afirma Francisco Barone, da Ebape-FGV.
O banco vendeu o equivalente a R$ 4,6 bilhões em títulos e
ações. As principais operações
foram a venda de participações
na Arcelor Mittal, na CSN e na
Aços Villares no segundo trimestre. O patrimônio líquido
do BNDES chegou a R$ 25,3 bilhões. O patrimônio de referência -usado como parâmetro
para a definição do limite de
empréstimos para cada tomador- somou R$ 42,5 bilhões.
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