São Paulo, terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lucro do BNDES cai 27,4%, primeira queda em seis anos

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

O BNDES fechou 2008 com lucro de R$ 5,3 bilhões, queda de 27,4% em relação a 2007. É o primeiro recuo no lucro anual desde 2002 e o menor valor desde os R$ 3,2 bilhões de 2005. Segundo o BNDES, dois fatores explicam o resultado: a redução dos "spreads" (diferença entre a taxa de captação de recursos e a repassada aos clientes) e a redução de receitas com reversão de provisão para risco de crédito. Quando uma empresa deixa de pagar um empréstimo, o banco faz uma reserva de recursos. Em 2007, a reversão dessas provisões chegou a R$ 1,3 bilhão, impulsionada pelo pagamento de uma dívida da AES. Em 2008, esse volume ficou em R$ 445 milhões.
Principal instrumento do governo para impulsionar os investimentos, nos últimos anos o BNDES tem feito reduções nas taxas cobradas nos empréstimos. No lançamento da PDP (Política de Desenvolvimento Produtivo), em maio último, por exemplo, o banco anunciou cortes com impacto de cerca de R$ 1 bilhão até 2010, o equivalente a R$ 350 milhões/ano.
No resultado de 2008, o BNDES diz que houve efeito da redução de "spreads" no resultado da intermediação financeira, de R$ 4,7 bilhões em 2007 para R$ 3,8 bilhões.
O banco de fomento registrou desembolso recorde de R$ 92,2 bilhões em 2008 e contou com captação de recursos do Tesouro, de R$ 22,5 bilhões, e do FI-FGTS, de R$ 7 bilhões, para complementar o "funding" e atender à demanda.
"O resultado do banco em 2008 foi bastante satisfatório, em linha com o que se poderia esperar de um banco de desenvolvimento que vem reduzindo "spread" e que optou por não ser tão ativo no mercado de renda variável para não realizar perdas referentes a um momento de mercado", disse Vânia Borgerth, chefe do departamento de Contabilidade do BNDES.
Para Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Ratings, os resultados mostram a estratégia do governo de estimular a redução de taxas cobradas pelos bancos e o aumento do volume de operações. "O lucro do BNDES é sensível à redução de "spreads" porque eles já são baixos [no banco]. É um exemplo de banco em atividade anticíclica. No momento em que a economia está se retraindo, ele fornece crédito a juros baixos."
A inadimplência do banco permanece baixa e corresponde a 0,15% da carteira total, mas já foi menor. Em 2007, era de 0,11%. O saldo de provisão para risco de crédito somou R$ 4,6 bilhões, o equivalente a 13,9 vezes a carteira inadimplente.
"Nenhuma empresa quer ficar de mal com o BNDES porque sabe que ali se obtém crédito mais barato. No passado, o banco ganhou mais porque era um período de bonança, mas agora é o órgão do governo para defender o investimento", afirma Júlio Gomes de Almeida, professor da Unicamp.
A carteira de ações do banco ficou estável, com R$ 6 bilhões. Em 2007, somava R$ 6,1 bilhões. "O resultado foi favorável se considerarmos os efeitos da crise global", afirma Francisco Barone, da Ebape-FGV.
O banco vendeu o equivalente a R$ 4,6 bilhões em títulos e ações. As principais operações foram a venda de participações na Arcelor Mittal, na CSN e na Aços Villares no segundo trimestre. O patrimônio líquido do BNDES chegou a R$ 25,3 bilhões. O patrimônio de referência -usado como parâmetro para a definição do limite de empréstimos para cada tomador- somou R$ 42,5 bilhões.


Texto Anterior: Direção do BB é alvo de críticas dentro do governo
Próximo Texto: Benjamin Steinbruch: Cada passo será uma conquista
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.