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Japão quer estimular volta de trabalhadores brasileiros
Em grave crise, país cria pacote emergencial para "retorno harmonioso" de decasséguis
Embaixador japonês vê "extrema dificuldade" para imigrantes brasileiros "como desemprego e educação dos filhos"
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Com a maior queda do PIB
em 34 anos e o fechamento de
65 mil vagas de trabalho, o Japão, segunda maior economia
do mundo, decidiu apresentar
um plano de emergência para,
em última instância, criar condições para a repatriação dos
decasséguis (brasileiros descendentes de japoneses) ao
Brasil. Estima-se que haja 320
mil deles vivendo hoje no país,
além dos 180 mil que já foram e
voltaram ao longo dos anos.
Em carta ao governo brasileiro, com data da sexta-feira, o
embaixador do Japão em Brasília, Ken Shimanouchi, admite a
"situação de extrema dificuldade em vários aspectos, como
desemprego e educação dos filhos, pela qual passam os nipo-brasileiros residentes no Japão" e enumera cinco itens de
apoio a eles.
O item quatro prevê que o governo recorrerá a três instâncias para facilitar a vida dos que
desistam de ficar no Japão e
prefiram voltar: ao país de origem, ao setor industrial e às
companhias aéreas, de forma a
criar o que ele chama de "retorno harmonioso". Não especificou, porém, qual será a contribuição do próprio governo japonês para a volta, nem a expectativa de quantos poderão
seguir esse caminho.
Desde o agravamento da crise, houve protestos de decasséguis em cidades japonesas.
Outros itens preveem facilidades para o ingresso em escolas públicas de crianças que tenham dificuldades para entrar
em escolas para estrangeiros;
apoio na busca de empregos,
inclusive com aumento de intérpretes e de centros de atendimento específico; concessão
de auxílio-moradia para os que
perderem o emprego; e criação
de um site para informações
multilíngues, com campanhas
de divulgação no exterior.
O movimento de imigração
de decasséguis para o Japão começou e recrudesceu a partir
da década de 1980, quando o
Brasil vivia grave crise. Agora, o
movimento é inverso.
O embaixador destacou na
correspondência para o governo brasileiro que o premiê, Taro Aso, que já morou no Brasil,
está empenhado em tratar diretamente da questão e criou a
Equipe para a Promoção de Políticas para Estrangeiros, instalada no seu próprio gabinete.
Foi esse grupo que preparou as
medidas.
Ao incluir a possibilidade de
retorno como item quatro, em
meio a medidas no sentido exatamente contrário, a avaliação
é que o governo japonês gostaria de enviar os brasileiros de
volta, mas sem admitir que, na
situação de hoje, são um problema a mais num mar de problemas gerados pela crise.
A queda do PIB japonês, de
3,3% nos três últimos meses de
2008, foi a maior do país desde
a crise do petróleo de 1974. Os
resultados são ainda piores do
que os já dramáticos apresentados em parte da Europa, como
Alemanha, Reino Unido e Espanha.
A explicação para a queda está, segundo os analistas, na redução de exportações, principalmente no setor de carros e
eletrônicos, fortemente atingidos pela retração internacional
e na demanda interna.
Com isso, o desemprego também cresce exponencialmente.
Como estrangeiros, os decasséguis tendem a ser os principais
prejudicados, inclusive os que
trabalham sem regulamentação em setores como construção civil e empacotamento de
marmitas.
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