São Paulo, terça-feira, 17 de março de 2009

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BENJAMIN STEINBRUCH

Fazer o que precisa ser feito



Seis meses já se passaram desde a crise e só algumas providências óbvias saíram do papel; o país está atrasado


ATÉ A divulgação dos desastrosos dados do PIB no quarto trimestre de 2008, na semana passada, ainda havia algumas divergências sobre a forma de combate à crise econômica na área da política monetária. Setores mais conservadores temiam um possível efeito do câmbio sobre a inflação e recomendavam o corte cauteloso na taxa de juros.
Depois que foi revelada a queda histórica do PIB, de 3,6% no quarto trimestre, estabeleceu-se o consenso também sobre a questão dos juros. O corte de 1,5 ponto percentual, na quarta-feira, seguiu esse entendimento geral, na direção correta, embora com atraso e sem a intensidade suficiente.
Tomar medidas em meio à atual tormenta não exige toque de genialidade. Demanda apenas sensibilidade para seguir consensos que a crise construiu aqui e lá fora.
O primeiro deles diz respeito ao crédito, cuja escassez está na essência da crise. Ninguém discute: a tarefa número um do governo é trabalhar pelo aumento da oferta de financiamentos e redução de seus custos.
A estatística mais dolorida entre os dados do PIB foi a que mostrou queda de 9,8% no volume de investimentos no quarto trimestre. Cabe ao setor público puxar os investimentos, para recriar um ambiente favorável ao setor privado, porque sem investimentos é impossível sustentar crescimento econômico. O foco, naturalmente, deve ser em áreas cuja ativação tenha impacto social e, ao mesmo tempo, crie muitos empregos. O programa de 1 milhão de casas populares e a construção de estradas, ferrovias e outras obras de infraestrutura, que já eram importantes, são agora fundamentais. Também há consenso a respeito disso.
O terceiro consenso é sobre a redução da carga tributária. Se havia dúvidas sobre o efeito do corte de impostos, a experiência da redução do IPI dos automóveis acabou com elas. A venda de carros aumentou em janeiro e fevereiro. Detalhe: a obrigação de cortar impostos se impõe nos três níveis de governos. Em 2008, segundo estimativas, houve um aumento de um ponto percentual na carga fiscal, para 36,56% do PIB. E a maior parte do aumento veio dos municípios (21%) e dos Estados (16%). Os tributos cobrados pela União cresceram 14%.
Outro consenso é sobre a necessidade de cortar gastos públicos correntes. Na contramão, o governo vem aumentando, por exemplo, os dispêndios com servidores públicos. Só o programa de reajustes salariais vai exigir gastos adicionais de R$ 28 bilhões neste ano.
Entraves burocráticos, que são ruins em condições normais, passam a ser catastróficos em situação de crise, quando a urgência pode determinar o sucesso ou o fracasso das iniciativas.
Esses são alguns consensos. Há outros, como a exigência de acabar com picuinhas políticas do tipo "de quem é a culpa" ou "quem tem o melhor programa para nos salvar". Claro que o tema será explorado nas eleições presidenciais, mas isso é assunto para 2010. Adotar agora esse oportunismo político, tanto por parte da oposição quanto pelo governo, é um desserviço ao país. Em meio à crise violenta, o Brasil precisa de coesões.
Desde que a crise eclodiu, em setembro, ficou clara a necessidade de fazer o óbvio, aquilo que todos os países estavam fazendo. Em resumo: prover liquidez ao mercado, oferecer crédito barato, cortar juros e impostos, reduzir gastos correntes e expandir investimentos públicos.
Seis meses já se passaram e só algumas providências óbvias saíram do papel. O país está atrasado, mas não adianta lamentar. É melhor fazer logo o que precisa ser feito.

BENJAMIN STEINBRUCH , 55, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

bvictoria@psi.com.br


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