|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Sadia e Perdigão devem unificar operação
Abaladas pela crise global, as duas empresas devem unir área operacional, principalmente distribuição e logística
Sadia apenas admite que negocia "associação" com a concorrente; união deve causar demissões nas duas gigantes de alimentos
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
Após a tentativa frustrada de
compra da Perdigão pela Sadia,
em 2006, as duas empresas deverão unir forças e criar uma
estrutura para administrar a
área operacional. Essa união,
prevista para ocorrer ainda
neste mês, servirá para reduzir
custos de ambas num período
de crise e de crédito curto.
Não é compra nem fusão,
mas apenas um acordo operacional, segundo fonte ligada a
uma das empresas. Procuradas,
tanto Sadia quanto Perdigão
não deram entrevista.
A Sadia divulgou nota no início da noite admitindo negociações com "terceiros". Citou
ainda "entendimentos recentes" com a Perdigão para "algum tipo de associação", mas
ainda sem acordo.
Tanto Sadia quanto Perdigão
buscam, com a redução de custos, fortalecer o caixa para obter capital de giro. Entre as
áreas que devem ter os maiores
ganhos de sinergia, estão transporte e logística, com união de
entregas ao varejo e de centros
de distribuição.
Esse enxugamento de estrutura pode também implicar
corte de pessoal, além de retardar ou suspender projetos. No
início do ano, a Sadia anunciou
o corte de 350 trabalhadores no
setor administrativo.
Margens menores
Com a crise, os preços dos alimentos, área de atuação de ambas, caem no varejo, dificultando a recuperação das empresas.
As indústrias alimentícias também não conseguiram recuperar margens de lucro, perdidas
com a alta dos insumos no início do ano passado, quando a
economia crescia com vigor.
A parceria estratégica beneficiaria particularmente a Sadia,
que teve pesadas perdas no
mercado de derivativos (contratos financeiros de alto risco
atrelados ao dólar). No terceiro
trimestre de 2008, a Sadia teve
prejuízo de R$ 777 milhões,
causados principalmente por
derivativos e por investimentos
no banco Lehman Brothers,
que quebrou em setembro.
Para tentar fortalecer seu
caixa, a Sadia tem tentado vender ativos não-operacionais,
que somam R$ 1 bilhão. Entre
eles, a área onde funciona a sede da empresa, na Vila Leopoldina (SP), para empreendimentos imobiliários. Segundo
Luiz Fernando Furlan, presidente do conselho da Sadia,
também foi cogitada a possibilidade de venda do Banco Concórdia e de áreas de reflorestamento pertencentes à empresa.
Exposição cambial
Na última reunião com analistas de mercado, em fevereiro,
a Sadia informou que sua exposição cambial era de US$ 500
milhões, próximo a dois meses
de exportações. A empresa tinha, à época, R$ 1,7 bilhão depositados em bancos, valor
equivalente à perda da empresa
com derivativos.
A Sadia informou também, à
época, que o custo de sua dívida
tinha aumentado muito com o
episódio dos derivativos. Mas
disse ter renegociado sua dívida de curto prazo com todos os
bancos credores. O alto nível de
endividamento da empresa, somado ao risco de governança
corporativa e à grande exposição ao mercado externo, fez
com que analistas recomendassem cautela com a Sadia.
No mercado, ontem, investidores buscaram ações de Sadia
e Perdigão, estimulados por rumores de negociações entre as
duas empresas. A ação ordinária da Sadia -que tem volume
de negociação reduzido- registrou valorização de 8,24% na
Bovespa. Já sua ação preferencial, que registrou mais de
3.700 transações no pregão de
ontem, subiu 2,15%. Os papéis
preferenciais da Perdigão subiram 2,34%. A Bovespa fechou o
dia com queda de 1,05%.
Lá fora, os investidores também buscaram se antecipar às
esperadas novidades. Na Bolsa
de Madri, os papéis da Sadia
saltaram 7,61%. Em Nova York,
os ADRs (recibos de ações de
empresas estrangeiras) da Sadia encerraram com valorização de 4,8%.
Colaboraram CRISTIANE BARBIERI e FABRICIO VIEIRA , da Reportagem Local
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Benjamin Steinbruch: Fazer o que precisa ser feito Índice
|