São Paulo, terça-feira, 17 de março de 2009

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Lula não descarta mudar poupança

Presidente diz que vai se reunir com equipe econômica para discutir alteração no cálculo da remuneração

Em NY, Lula afirma que crise traz oportunidades e que momento é o ideal para que países consigam resolver problemas novos e antigos

FERNANDO CANZIAN
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em Nova York, que o governo vai analisar possível mudança no cálculo da poupança, modalidade de investimento cuja remuneração, com a queda dos juros, passou a ficar mais próxima da dos fundos de investimento.
"Já mudamos outra vez [o cálculo da poupança]. Mas não há nada definido. Ainda vou me reunir com a equipe econômica para tomar qualquer decisão."
A atratividade da poupança preocupa os fundos de investimento, pois poderia forçar uma redução na taxa de administração cobrada do aplicador. Além disso, com uma fuga de recursos dos fundos em direção à caderneta, o governo poderia ter dificuldade em rolar sua dívida -os fundos são grandes compradores de títulos públicos.
A diminuição da remuneração poderia ocorrer com uma alteração no redutor na TR (Taxa Referencial), que corrige a poupança.
Lula participou ontem de seminário em Nova York no hotel Plaza com investidores e empresários dedicado ao Brasil. O encontro foi promovido pelos jornais "Valor" (parceria entre Grupo Folha e Organizações Globo) e o diário americano "The Wall Street Journal".
O presidente também disse que a atual crise global é "a grande oportunidade" para que os países tentem resolver problemas novos e antigos.
"É pegar ou largar. Essa é a oportunidade. Se todos nós desistíssemos no primeiro "não" que recebemos na vida, ninguém se casava", disse. "E não adianta marcar uma reunião para combinar outra reunião para fazer outra reunião. Ninguém aguenta mais isso."
Nos próximos dias, afirmou Lula, a prioridade brasileira é continuar evitando que a crise se alastre e preparar a agenda de discussões para a reunião do G20 (grupo das 20 maiores economias), no Reino Unido.
Questionado em entrevista coletiva sobre medidas protecionistas que membros do G20 vêm adotando antes do encontro, Lula afirmou ser "natural" que "cada país esteja preocupado com "suas questões". "Mas é um equívoco achar que o protecionismo vá resolver o problema de maneira geral."
Lula disse que as prioridades brasileiras a serem levadas à reunião do G20 são o restabelecimento do crédito internacional (à rolagem de dívidas corporativas e ao comércio exterior); a defesa da estatização de bancos, se necessário (para que o crédito volte a fluir); e o combate ao protecionismo.
Lula também defendeu o fim dos paraísos fiscais: "Eles representam o aliado fundamental do crime organizado internacional, do narcotráfico, da corrupção e do terrorismo", disse, em discurso durante almoço no seminário.
Lula discorreu sobre vários temas. E procurou dar um caráter épico ao atual momento, no qual o papel do Estado sairia fortalecido em detrimento do livre mercado. "O demônio de ontem [o Estado] transformou-se no salvador de hoje", disse.
Algumas das palavras de Lula agradaram à plateia:
"Amei a paixão de Lula no discurso. Lembrou-me muito o presidente [Barack] Obama. Acredito, sim, que o Brasil esteja numa boa posição para enfrentar a crise. Tenho investimentos no país e, apesar de ajustes a serem feitos, não posso dizer que estamos sofrendo com a crise", disse Lisa Draeger, do Institutional Investor.
Para Mitchell Weisberg, da Lumen Inc., empresa de consultoria econômica, "Lula posicionou muito bem o país como líder (...) neste momento".
Para o brasileiro Gilberto Klein, de uma firma de investimentos americana (preferiu não citar o nome), "o discurso de Lula é ótimo, forte, carismático. Mas essa defesa do Brasil é algo para o longo prazo", disse.


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