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Lula não descarta mudar poupança
Presidente diz que vai se reunir com equipe econômica para discutir alteração no cálculo da remuneração
Em NY, Lula afirma que crise traz oportunidades e que
momento é o ideal para que
países consigam resolver
problemas novos e antigos
FERNANDO CANZIAN
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em Nova York, que o governo vai analisar possível mudança no cálculo da poupança, modalidade
de investimento cuja remuneração, com a queda dos juros,
passou a ficar mais próxima da
dos fundos de investimento.
"Já mudamos outra vez [o
cálculo da poupança]. Mas não
há nada definido. Ainda vou me
reunir com a equipe econômica
para tomar qualquer decisão."
A atratividade da poupança
preocupa os fundos de investimento, pois poderia forçar uma
redução na taxa de administração cobrada do aplicador. Além
disso, com uma fuga de recursos dos fundos em direção à caderneta, o governo poderia ter
dificuldade em rolar sua dívida
-os fundos são grandes compradores de títulos públicos.
A diminuição da remuneração poderia ocorrer com uma
alteração no redutor na TR
(Taxa Referencial), que corrige
a poupança.
Lula participou ontem de seminário em Nova York no hotel
Plaza com investidores e empresários dedicado ao Brasil. O
encontro foi promovido pelos
jornais "Valor" (parceria entre
Grupo Folha e Organizações
Globo) e o diário americano
"The Wall Street Journal".
O presidente também disse
que a atual crise global é "a
grande oportunidade" para que
os países tentem resolver problemas novos e antigos.
"É pegar ou largar. Essa é a
oportunidade. Se todos nós desistíssemos no primeiro "não"
que recebemos na vida, ninguém se casava", disse. "E não
adianta marcar uma reunião
para combinar outra reunião
para fazer outra reunião. Ninguém aguenta mais isso."
Nos próximos dias, afirmou
Lula, a prioridade brasileira é
continuar evitando que a crise
se alastre e preparar a agenda
de discussões para a reunião do
G20 (grupo das 20 maiores
economias), no Reino Unido.
Questionado em entrevista
coletiva sobre medidas protecionistas que membros do G20
vêm adotando antes do encontro, Lula afirmou ser "natural"
que "cada país esteja preocupado com "suas questões". "Mas é
um equívoco achar que o protecionismo vá resolver o problema de maneira geral."
Lula disse que as prioridades
brasileiras a serem levadas à
reunião do G20 são o restabelecimento do crédito internacional (à rolagem de dívidas corporativas e ao comércio exterior); a defesa da estatização de
bancos, se necessário (para que
o crédito volte a fluir); e o combate ao protecionismo.
Lula também defendeu o fim
dos paraísos fiscais: "Eles representam o aliado fundamental do crime organizado internacional, do narcotráfico, da
corrupção e do terrorismo",
disse, em discurso durante almoço no seminário.
Lula discorreu sobre vários
temas. E procurou dar um caráter épico ao atual momento, no
qual o papel do Estado sairia
fortalecido em detrimento do
livre mercado. "O demônio de
ontem [o Estado] transformou-se no salvador de hoje", disse.
Algumas das palavras de Lula
agradaram à plateia:
"Amei a paixão de Lula no
discurso. Lembrou-me muito o
presidente [Barack] Obama.
Acredito, sim, que o Brasil esteja numa boa posição para enfrentar a crise. Tenho investimentos no país e, apesar de
ajustes a serem feitos, não posso dizer que estamos sofrendo
com a crise", disse Lisa Draeger, do Institutional Investor.
Para Mitchell Weisberg, da
Lumen Inc., empresa de consultoria econômica, "Lula posicionou muito bem o país como
líder (...) neste momento".
Para o brasileiro Gilberto
Klein, de uma firma de investimentos americana (preferiu
não citar o nome), "o discurso
de Lula é ótimo, forte, carismático. Mas essa defesa do Brasil é
algo para o longo prazo", disse.
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