São Paulo, terça-feira, 17 de março de 2009

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VINICIUS TORRES FREIRE

Começou mal, mas não acabou



Previsões para o PIB 09 ficam catastróficas, as exportações ainda desabam, mas ainda se pode atenuar o problema


EM MARÇO de 2008, a média dos economistas de bancos e consultorias dava o chute informado e calculado de que o PIB do ano cresceria entre 4% e 4,5%. Foi 5,1%, talvez batesse em quase 6% não fosse a hecatombe mundial de setembro. Mas tais estimativas não são um concurso de tiro ao alvo, nem têm como sê-lo. Quem as compra ou vende pelo valor de face é tolo ou esperto ao contrário. Essa rápida memória serve para temperar os anúncios entre díspares e catastróficos sobre o PIB de 2009.
A previsão mais chocante foi a do banco Morgan Stanley: queda de 4,5%. Desastre semelhante ocorreu no Brasil em apenas duas ocasiões, desde que existem medidas ou estimativas retroativas do crescimento do PIB (isto é, com boa vontade, faz menos de um século). Em 1981, quando o mundo ainda afundava devido aos choques do petróleo e à maior alta de juros da história americana. E em 1990, no Brasil da hiperinflação e da posse de Fernando Collor, quando o dinheiro de empresas e cidadãos foi confiscado.
Trata-se de eventos muito improváveis. Mas, por se acreditar demais em probabilidades e devido a outras loucuras e espertezas, o mundo viveu quatro crises financeiras graves desde 1997. Como as primeiras crises não foram suficientemente arrasadoras (em especial para o mundo rico), acabamos nesta lama.
Enfim, é para ficar em pânico com tais previsões? Sim e não. Primeiro, as bússolas econômicas estão mais tortas do que de costume. A reviravolta do final de 2008 foi tão grande que os modelos, para nem falar de modos de pensar à vera, foram à breca. Segundo, as estimativas estão mais dispersas. Os economistas do Itaú estimam queda de 1,5% do PIB. Na média das previsões recolhidas pelo Banco Central, a previsão é ainda de alta de 0,6%. Com tal dispersão, pode ser que uma bússola dissesse que estamos indo para o Alasca, mas chegaríamos à Nova Zelândia. Colombo navegava de modo mais preciso. Terceiro, faltam mais de nove meses para o final do ano.
Mas já se foi um quinto do ano e as exportações brasileiras estão 22% abaixo do nível de 2008. As da indústria, 30% abaixo. As exportações equivalem a 12,5% do PIB, mas as exportações de manufaturas equivalem a mais de 40% do "PIB da indústria", embora não se possa ponderar o peso do comércio externo no PIB industrial por meio de uma regra de três. O crédito mal melhora.
O desemprego industrial vai contaminar outros setores, embora a indústria de transformação seja apenas 16% do PIB. Mesmo que pacotes fiscais e financeiros comecem a funcionar no resto do mundo, isso ainda levará tempo. A produção industrial e o comércio desabam no planeta.
Os cortes de juros no Brasil são um ligeiro refresco e farão efeito bem mais tarde (embora poupem gasto público). A reação do investimento público (do governo) é lerda, se houver. Enfim, é possível, aliás necessário, acelerar medidas para atenuar o problema (a fim de evitar quebras de boas empresas e problemas ou retração ainda maior dos bancos): juro baixo e mais investimento. Mas a maior parte da derrocada econômica já está contratada. Medidas alopradas, como gastar a torto e a torto, apenas vão prejudicar uma eventual recuperação.

vinit@uol.com.br


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