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VINICIUS TORRES FREIRE
O alcoolismo de Chávez e Fidel
Teoria dos guias geniais dos povos fala do risco de fome com a difusão da cana, mas o problema é muito outro
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É UM SINTOMA de fracassomania e de pavor do mercado a
repercussão que têm merecido a teoria do alcoolismo de Hugo
Chávez e de Fidel Castro. Segundo
esses guias geniais dos povos e adeptos marginais de malthusianismos, a
difusão da indústria do álcool combustível vai provocar fome.
O aspecto intuitivo da teoria do alcoolismo explica em parte sua popularidade. Argumentos por absurdo
reforçam seu apelo: no limite, se a
cana expulsa todas as lavouras de
alimentos, há fome. Antes disso, a
progressão dos canaviais reduziria a
oferta de comida, que ficaria mais
cara e inacessível aos mais pobres.
Por fim o argumento impressiona,
de modo mais sofisticado, pelo aspecto ambiental: o planeta tem limites físicos, a expansão desordenada
da cana afetaria a biodiversidade etc.
Antes de passar ao que importa
observe-se apenas que a teoria do alcoolismo ignora o ganho de renda de
países pobres que plantariam cana
(e poderiam comprar comida, que
ainda sobra no mundo), ignora ganhos de produtividade das lavouras
e estímulos de preço (se a comida fica cara, planta-se mais comida) etc.
Mas o problema principal, por ora,
talvez seja a falta de mercado organizado e estável para o álcool, o que
pode provocar bolhas especulativas,
e uma avaliação mais precisa da concorrência (seja de outros países produtores, seja de outras tecnologias
de produção de energia).
Falta muito para que o álcool se
transforme em "commodity", mercadoria padronizada, negociada em
grandes volumes e que tenha à disposição mercados com instrumentos financeiros e recursos bastantes
para reduzir os riscos de flutuações
exageradas de preços.
Um mercado de "álcool commodity" demanda dezenas de países
consumidores e um número razoável de fontes produtoras. Além de
dúvidas sobre a tecnologia e o lobby
de empresas de combustíveis concorrentes, há empecilhos políticos
fortes à queda de barreiras tarifárias
e outras do mercado de produtos
agrícolas, álcool inclusive.
Um outro problema é de política
industrial. O país hoje lidera em termos de produtividade e de criação
de tecnologias industriais para a
transformação da cana em álcool e
energia elétrica. Mas, se o mercado
mundial de álcool der certo, o mundo vai ficar parado?
Hoje, os equipamentos brasileiros
para o setor são de ponta. Se a demanda mundial aumentar, ninguém vai desenvolver tecnologias
concorrentes? Mais: a cana pode ser
a base de uma indústria bioquímica
autóctone, o que o país jamais teve.
Vamos deixar essa peteca cair?
Por ora, a grande novidade do
boom do álcool é a chegada de capitais de risco aos negócios do setor e a
especulação crescente com o preço
da terra e de usinas prontas (duplicaram de preço em ano e meio). E a
pesquisa? O país tem núcleos excelentes de ciência e tecnologia da
agroindústria, em especial no álcool:
genética, química, engenharia. Mas
uma penada americana pode despejar recursos enormes na pesquisa e
fazer o país descer do pódio científico do setor sucroalcooleiro. E não
são apenas os americanos. Partindo
quase do zero, em menos de uma década, a China passou a colocar suas
máquinas no mercado brasileiro.
Vamos esperar a história se repetir?
vinit@uol.com.br
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