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Lula ataca críticos de biocombustíveis
Presidente chama de "palpiteiro" e "simplista" quem responsabiliza setor pela inflação dos alimentos em vários países
"Verdadeiro crime contra a humanidade" é descartar fontes alternativas de energia, afirma Lula, que atacou o protecionismo
LETÍCIA SANDER
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou ontem de
"palpiteiros" e "simplistas" os
críticos do álcool e dos biocombustíveis. Ao minimizar alertas
das Nações Unidas sobre a produção de alimentos, disse que
"o verdadeiro crime contra a
humanidade" será descartar "a
priori" as fontes alternativas de
energia.
Lula também atacou o protecionismo dos países industrializados e questionou a forma de
atuação do FMI (Fundo Monetário Nacional).
Concedidas em entrevista e
reforçadas em discurso na
abertura de Conferência da
FAO (Organização das Nações
Unidas para Agricultura e Alimentação) em Brasília, as declarações foram interpretadas
como uma resposta de Lula ao
relator especial das Nações
Unidas para o Direito à Alimentação, o suíço Jean Ziegler.
Na segunda-feira, ele chamou de "crime contra a humanidade" a expansão dos biocombustíveis e pediu uma moratória desses projetos para
evitar desabastecimento de
produtos alimentícios em vários países.
No discurso, Lula rebateu: "É
sempre mais fácil escolher respostas simplistas, esconder interesses econômicos e agendas
políticas por trás de supostas
preocupações sociais e ambientais". Antes, em entrevista, ele
já havia dito que "é muito fácil
alguém ficar sentado em um
banco da Suíça dando palpite
no Brasil ou na África".
"É importante vir aqui e meter o pé no barro para saber como é que a gente vive, para saber a quantidade de terras que
nós temos e para saber a quantidade e o potencial de produção que nós temos", disse o presidente.
O petista tentou descolar a
influência de biocombustíveis
na produção de comida e listou
seis explicações que, segundo
ele, respondem pelo recente
aumento global dos preços dos
alimentos. São eles: a alta dos
preços do petróleo, a queda na
safra de vários países causada
por fenômenos climáticos diversos, o aumento de preço dos
fretes, as mudanças cambiais, a
especulação nos mercados financeiros e a alta no consumo
de alimentos em países em desenvolvimento, como China,
Índia e Brasil.
Protagonistas
Tentando ocupar o posto de
porta-voz dos países emergentes, Lula disse que os países
mais pobres não podem ser
"meros coadjuvantes" e devem
aproveitar a escassez para negociar aberturas de mercados e
redução de subsídios nos Estados Unidos e na Europa.
"A incapacidade de muitos
países de produzir seus próprios alimentos se deve a décadas e por vezes séculos de distorções no comércio internacional de produtos agrícolas.
Pesa o protecionismo. Pesam
os subsídios da agricultura dos
ricos, que tiram condições de
competitividade do pequeno
agricultor. Essas distorções
criaram dependência, quando
não o desmantelamento de estruturas produtivas inteiras",
afirmou Lula.
O presidente voltou a defender a conclusão da rodada Doha
de negociações comerciais e
disse que, se não houver abertura do mercado agrícola europeu para os produtos agrícolas
dos países pobres, o acordo será
muito difícil. "E alguém vai ter
de assumir a responsabilidade
histórica", afirmou.
Visivelmente irritado, Lula
chegou a ironizar o comportamento do FMI em seu discurso
ao defender que os países pobres façam valer a sua lógica.
"Na década de 80 e 90, cada delegado que está aqui deve ter
visto no seu país descer uma
delegação do FMI para dizer
que tinha de fazer ajuste fiscal,
tinha que cuidar dos juros, diminuir o Estado, porque senão
estaria quebrado. É engraçado
que eu não vi o FMI dar uma
única opinião sobre a crise
americana, uma única opinião.
Ou seja, até quando nós vamos
aceitar o papel de coadjuvantes
do cenário internacional? Até
quando?", questionou.
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