São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2008

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Lula ataca críticos de biocombustíveis

Presidente chama de "palpiteiro" e "simplista" quem responsabiliza setor pela inflação dos alimentos em vários países

"Verdadeiro crime contra a humanidade" é descartar fontes alternativas de energia, afirma Lula, que atacou o protecionismo


LETÍCIA SANDER
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou ontem de "palpiteiros" e "simplistas" os críticos do álcool e dos biocombustíveis. Ao minimizar alertas das Nações Unidas sobre a produção de alimentos, disse que "o verdadeiro crime contra a humanidade" será descartar "a priori" as fontes alternativas de energia.
Lula também atacou o protecionismo dos países industrializados e questionou a forma de atuação do FMI (Fundo Monetário Nacional).
Concedidas em entrevista e reforçadas em discurso na abertura de Conferência da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) em Brasília, as declarações foram interpretadas como uma resposta de Lula ao relator especial das Nações Unidas para o Direito à Alimentação, o suíço Jean Ziegler.
Na segunda-feira, ele chamou de "crime contra a humanidade" a expansão dos biocombustíveis e pediu uma moratória desses projetos para evitar desabastecimento de produtos alimentícios em vários países.
No discurso, Lula rebateu: "É sempre mais fácil escolher respostas simplistas, esconder interesses econômicos e agendas políticas por trás de supostas preocupações sociais e ambientais". Antes, em entrevista, ele já havia dito que "é muito fácil alguém ficar sentado em um banco da Suíça dando palpite no Brasil ou na África".
"É importante vir aqui e meter o pé no barro para saber como é que a gente vive, para saber a quantidade de terras que nós temos e para saber a quantidade e o potencial de produção que nós temos", disse o presidente.
O petista tentou descolar a influência de biocombustíveis na produção de comida e listou seis explicações que, segundo ele, respondem pelo recente aumento global dos preços dos alimentos. São eles: a alta dos preços do petróleo, a queda na safra de vários países causada por fenômenos climáticos diversos, o aumento de preço dos fretes, as mudanças cambiais, a especulação nos mercados financeiros e a alta no consumo de alimentos em países em desenvolvimento, como China, Índia e Brasil.

Protagonistas
Tentando ocupar o posto de porta-voz dos países emergentes, Lula disse que os países mais pobres não podem ser "meros coadjuvantes" e devem aproveitar a escassez para negociar aberturas de mercados e redução de subsídios nos Estados Unidos e na Europa.
"A incapacidade de muitos países de produzir seus próprios alimentos se deve a décadas e por vezes séculos de distorções no comércio internacional de produtos agrícolas. Pesa o protecionismo. Pesam os subsídios da agricultura dos ricos, que tiram condições de competitividade do pequeno agricultor. Essas distorções criaram dependência, quando não o desmantelamento de estruturas produtivas inteiras", afirmou Lula.
O presidente voltou a defender a conclusão da rodada Doha de negociações comerciais e disse que, se não houver abertura do mercado agrícola europeu para os produtos agrícolas dos países pobres, o acordo será muito difícil. "E alguém vai ter de assumir a responsabilidade histórica", afirmou.
Visivelmente irritado, Lula chegou a ironizar o comportamento do FMI em seu discurso ao defender que os países pobres façam valer a sua lógica. "Na década de 80 e 90, cada delegado que está aqui deve ter visto no seu país descer uma delegação do FMI para dizer que tinha de fazer ajuste fiscal, tinha que cuidar dos juros, diminuir o Estado, porque senão estaria quebrado. É engraçado que eu não vi o FMI dar uma única opinião sobre a crise americana, uma única opinião. Ou seja, até quando nós vamos aceitar o papel de coadjuvantes do cenário internacional? Até quando?", questionou.


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