São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Petróleo pode elevar saldo a US$ 70 bi

Se capacidade de megacampos for confirmada, setor terá peso muito maior no PIB, mas analistas descartam dependência

Área de petróleo responde por estimados 9% do PIB e poderia chegar a até 15%, mas sem reduzir diversificação da economia

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

As descobertas na camada pré-sal levarão o país à condição de grande exportador de petróleo e aumentarão o peso do setor no PIB, mas, ainda assim, a economia brasileira se manterá diversificada e não será fortemente dependente das vendas externas do produto, dizem especialistas.
Se num horizonte de dez anos o país conseguir exportar 2 bilhões de barris/dia de óleo, obteria um saldo comercial total de US$ 70 bilhões (a preços de hoje), estima Edmar Almeida, especialista do Grupo de Economia da Energia da UFRJ. A previsão do saldo da balança comercial para este ano de explosão de importados é de cerca de US$ 30 bilhões.
A cifra, diz, é elevada, mas não traria uma forte dependência. "A economia vai crescer como um todo, os outros setores também vão se expandir. Não imagino que o Brasil tenha um grau de dependência como o da Venezuela, por exemplo."
Segundo os dados mais recentes disponíveis da ANP (Agência Nacional do Petróleo), o setor petróleo como um todo correspondia a 8,11% do PIB em 2004. Tal número está em torno de 9% atualmente, diz Almeida. "O percentual vai crescer, mas não chegará a 50% do PIB. Não teremos um cenário como o dos países árabes. Pode ficar em 15%, 20%, no máximo."
Para Álvaro Ribeiro, diretor da petroleira portuguesa Partex, o país só terá benefícios com a expansão da produção de petróleo. Ele estima que até 2030 a produção de óleo chegará a 3 milhões de barris, o que vai gerar um excedente a ser exportado de 1 milhão de barris/dia -cifra que não projeta ainda boa parte das descobertas realizadas na camada pré-sal. "O que é muito bom com o atual cenário de preço", diz.
Ribeiro não acredita num arrefecimento rápido das cotações -que vêm batendo recordes, acima dos US$ 100 o barril, pelo aumento da demanda e como refúgio da crise financeira.
Para Almeida, o país terá benefícios na área fiscal pelo aumento da arrecadação e reduzirá sua vulnerabilidade externa se passar à condição de grande exportador de petróleo.
O especialista acredita, porém, que existe uma probabilidade de o preço do petróleo cair, embalado pelo menor crescimento econômico mundial e pela passagem do período mais tenso do conflito no Iraque. "A história mostra que os preços não se sustentam altos por tanto tempo."
Mesmo num cenário de queda de preço, Almeida não vê um forte impacto para a economia brasileira, que se manterá aquecida graças ao dinamismo de outros setores.
Segundo ele, existem novas fronteiras exploratórias de petróleo no Brasil, no Canadá e na África que devem sustentar o aumento da produção mundial de petróleo -premissa que abre espaço para a redução das cotações.
Em estudo, o BNDES avalia, entretanto, que a produção de petróleo está próxima do seu pico -o que manterá os preços do produto pressionados- e recomenda o investimento em outros combustíveis.
Considerando todas os elos da cadeia, o peso do PIB do setor de petróleo passou de 5% no período de 1998 a 2003 para 8,11% em 2004. Segundo o último dado disponível do IBGE, a extração de petróleo e gás natural (parte apenas do PIB do setor) cresceu 11,7% em 2005 e se recuperou da queda de 1,9% de 2004.
A expansão foi maior do que a média do PIB industrial em 2005 -2,1%. Mas alguns setores também tiveram desempenho positivo, como minério de ferro (12,5%), produtos farmacêuticos (12,6%) e equipamentos de informática. Esses ramos compensaram quedas expressivas de outros segmentos, como eletrodomésticos (4,6%) e vestuário (4,7%) no período.
Mais recentemente (em 2006 e 2007), porém, ramos como as indústrias automotivas e de máquinas e equipamentos também tiveram altas expressivas, segundo pesquisas do IBGE.


Texto Anterior: Chineses cobram abertura maior de economias da América Latina
Próximo Texto: Comissão da Câmara ouvirá diretor da ANP
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.