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Crise reduz arrecadação em R$ 11 bilhões
Governo federal deixou de recolher, entre janeiro e março, receita equivalente ao gasto anual com o Bolsa Família
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A arrecadação federal caiu,
em março, pelo quinto mês
consecutivo. No primeiro trimestre, o recolhimento de tributos foi R$ 11 bilhões menor
do que o do mesmo período de
2008. Significa que o governo
deixou de arrecadar, em três
meses, o valor gasto em um ano
com o programa Bolsa Família.
A queda na arrecadação é reflexo da crise internacional sobre a economia brasileira. Se as
empresas têm faturamento
menor, por exemplo, o recolhimento de tributos também cai.
Além disso, a Receita Federal
calcula que deixou de recolher
R$ 3,1 bilhões com as desonerações concedidas no pós-crise: a
redução do IPI (Imposto sobre
Produtos Industrializados), do
IOF (Imposto sobre Operações
Financeiras) e a nova tabela do
IR das pessoas físicas.
Com as desonerações anteriores, a renúncia fiscal soma
R$ 6,5 bilhões no primeiro trimestre, pelos cálculos do fisco.
Apesar do desempenho ruim
do primeiro trimestre, a intensidade da queda da arrecadação
foi menor em março do que nos
outros meses pós-crise. Em relação a março de 2008, a redução real da receita (descontados os efeitos da inflação) foi de
1,1%, somando R$ 53,2 bilhões.
Sem descontar a inflação, ou
seja, pelo cálculo chamado de
preços correntes, a arrecadação
subiu 4,43% em março.
A equipe técnica da Receita
admite que a melhora não reflete recuperação da economia
brasileira, e sim um fator atípico: a postergação do pagamento dos impostos anuais que incidem sobre o lucro. Ou seja,
ainda não é possível prever a
tendência de 2009, disse o
coordenador-geral de estudos,
previsão e análise da Receita,
Marcelo Lettieri.
"Ainda não dá para dizer que
houve recuperação da arrecadação. Em abril, poderemos ter
uma ideia do comportamento
neste ano. Agora, não tem mágica. Ninguém tem dúvida de
que essa é a maior crise da nossa geração", afirmou Lettieri.
Francisco Lopreato, especialista em contas públicas da Unicamp, acredita em recuperação
econômica, ainda que lenta.
"Conforme o ano vai avançando, a crise [econômica] vai reduzindo seus efeitos. Podemos
chegar ao fim do ano em uma
situação ainda muito ruim, mas
apontando para resultados melhores em 2010."
Lettieri explicou que, no ano
passado, as empresas estavam
com dinheiro em caixa e, assim,
preferiram pagar em janeiro os
tributos sobre o lucro (CSLL e
IR). Neste ano, com menos dinheiro em caixa, deixaram o
pagamento para março, mês do
vencimento, o que inflou os números em comparação ao mesmo período do ano passado.
O setor de veículos, beneficiado pela desoneração, pagou
90,9% menos de IPI em março.
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