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Pressão faz governo mudar consórcio
Eletronorte integraria um dos grupos, mas, por ser considerada "estratégica", é escalada pelo Planalto apenas para o pós-leilão
Aneel chegou a comunicar suspensão da licitação, mas governo conseguiu derrubar liminar na Justiça; leilão deve ocorrer na terça-feira
VALDO CRUZ
LEILA COIMBRA
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após pressões dos dois consórcios, o governo decidiu que a
Eletronorte será a operadora
da usina hidrelétrica de Belo
Monte, não participando diretamente do leilão, mas se associando ao grupo vencedor da licitação.
Segundo a Folha apurou, a
estatal estava sendo disputada
pelos dois consórcios, por ter
liderado todos os estudos e deter conhecimento do projeto
de construção da usina no rio
Xingu (PA). Eles alegavam que
o grupo que ficasse com a Eletronorte teria uma vantagem
extra no leilão.
Pelo acordo firmado entre o
governo e os dois consórcios
-Andrade Gutierrez, Vale,
Neoenergia e Votorantim de
um lado; OAS, Queiroz Galvão,
Mendes Júnior e J. Malucelli,
Bertin e Serveng do outro-, a
Eletronorte ficará com uma
participação na usina entre
30% e 35%.
Inicialmente, a ideia do governo era dividir as quatro subsidiárias da Eletrobras nos dois
consórcios. O liderado pela Andrade ficaria com Furnas e Eletrosul (participação de 24,5%
cada uma), o que acabou se
confirmando na inscrição feita
ontem. O segundo grupo teria
Chesf e Eletronorte, mas ficou
apenas com a primeira em sua
composição oficial, com participação total de 49,9%.
Quando a Eletronorte entrar, pós-leilão, a participação
das outras subsidiárias será reduzida, para que o governo não
fique com mais de 49,9% do
projeto da usina.
Pressões
A mudança ocorreu após
pressão do grupo comandado
pela Andrade para ter a Eletronorte do seu lado. Diante das
pressões vindas também do outro lado, e para evitar um desequilíbrio do leilão, o governo
optou por transformar a estatal
na "noivinha" da disputa, segundo palavras de um auxiliar
do presidente Lula.
A própria Eletronorte também reivindicava do governo
garantias de que estaria dentro
do projeto, como compensação
pelos estudos feitos e por ter ficado de fora das usinas hidrelétricas do rio Madeira (RO) -Jirau e Santo Antônio.
Com isso, o governo decidiu
deixar a estatal "de fora" do leilão, mas com a garantia de que
estará não só dentro do projeto
como será a futura operadora
da usina. Essa estratégia adotada pelo governo é permitida pelas regras do leilão.
Outras empresas, por sinal,
também demonstraram interesse em se associar ao consórcio vencedor. Entre elas, empresas com interesse em produção de energia para consumo
próprio, como a Braskem, a
Gerdau e a CSN.
Empresas de energia como a
Suez e a Cemig também negociam entrar como sócias estratégicas do grupo vencedor,
além do fundo de pensão Funcef, dos funcionários da Caixa
Econômica Federal.
Guerra na Justiça
Ontem o governo conseguiu
derrubar a liminar que suspendia o leilão. O presidente do
TRF (Tribunal Regional Federal) da 1ª Região, Jirair Meguerian, cassou a liminar concedida ao Ministério Público.
A Aneel (Agência Nacional de
Energia Elétrica) chegou a comunicar oficialmente a suspensão do leilão ontem, mas logo em seguida reabriu os trabalhos de inscrição e de depósito
de garantia dos consórcios.
O grupo composto por Chesf,
Queiroz Galvão e outras sete
empresas se inscreveu com o
nome de Norte Energia. O consórcio liderado por Andrade,
Furnas e com mais quatro empresas ficou com o nome de Belo Monte Energia.
O leilão continua marcado
para terça-feira, mas outras liminares pedindo a suspensão
da licitação podem ser concedidas. Por conta disso, a cúpula
da AGU (Advocacia-Geral da
união) em Brasília e os advogados que atuam na Justiça do
Pará ficarão de plantão durante
o fim de semana.
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