São Paulo, quinta-feira, 17 de maio de 2007

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Lula quer redução mais rápida de juros

Meirelles prometera que dólar não cairia abaixo de R$ 2; para presidente, não há motivo para BC manter ritmo atual

Petista diz que dólar baixo "é bom" para "quem vive de salário", mas setores do governo temem custo político no médio prazo

KENNEDY ALENCAR
LEANDRA PERES

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar de dizer publicamente de que não pressiona o Banco Central, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em conversas reservadas nos últimos dois dias que o presidente do BC, Henrique Meirelles, perdeu o discurso para não acelerar a queda da taxa de juros.
Segundo a Folha apurou, Lula disse que Meirelles no início do ano, em reunião na qual respondeu a preocupações suas com o câmbio, afirmou que a cotação do dólar não chegaria a menos R$ 2. Foi o que aconteceu anteontem, após seis anos.
Para Lula, não haveria razão para o BC manter o ritmo de redução da Selic em 0,25 ponto percentual por reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), realizada a cada 45 dias. Hoje a Selic está em 12,5% ao ano. A próxima reunião será em 5 e 6 de junho.
Lula tem dito que fará sua parte. Como afirmou em entrevista coletiva anteontem, preparará medidas tributárias para compensar setores que mais sofrem com o câmbio. Mas diz que o BC precisa fazer a sua: cortar mais rapidamente os juros altos que atraem capital estrangeiro em busca de alta remuneração.
Lula espera que a taxa real de juros (Selic menos a inflação) esteja em dezembro em cerca de 6% ao ano. Ou seja, uma Selic nominal em torno de 10%. Publicamente, Lula procurou mostrar despreocupação com o câmbio: "É bom para uns, ruim para outros, mas, certamente, para quem vive de salário é bom", disse o presidente ontem.
Setores do governo já manifestam preocupação com um eventual custo político da forte valorização do real, que poderia enfraquecer a influência do presidente na escolha de seu sucessor.
No curto prazo, 2007, a situação já estaria dada. Os impactos continuarão limitados a alguns setores da economia, como têxteis, calçadista e moveleiro. A demanda interna aquecida e o crédito em alta seriam mais que suficientes para garantir que o PIB cresça os 4,5% projetados pelo governo.
A persistência de uma moeda valorizada começaria a ser sentida na economia real, de acordo com esses auxiliares, em meados de 2008.
O prejuízo se alastraria por setores industriais que hoje geram muitos empregos, com corte de vagas, embora, no primeiro trimestre deste ano, por exemplo, o emprego na indústria cresceu 3,5% -melhor resultado desde o primeiro trimestre de 2005.
O impacto mais forte sobre o crescimento se aprofundaria em 2009 e 2010, este o último ano do segundo mandato e no qual haverá eleição. Lula estaria, de acordo com essa visão, lidando com uma economia combalida e não com o cenário de crescimento vigoroso que projeta agora.
Os auxiliares de Lula que trabalham com esse cenário negativo argumentam que a trajetória dos juros fixada pelo BC é a variável fundamental de ajuste.


Colaborou PEDRO DIAS LEITE , da Sucursal de Brasília


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