|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Dólar a menos de R$ 2!
Estamos ativamente engajados na exportação de produção, investimentos e empregos para o exterior
|
O ARTIGO DA QUINTA-FEIRA
passada sobre o meu "exílio"
em Washington suscitou
muitas mensagens de apoio e de incentivo. Uma leitora, entretanto,
considerou o texto infantil. Tudo
bem. Mas não se esqueça, leitora:
sem rompantes infantis, o adulto
apodrece rapidamente.
Reconheço que fiz um certo drama. O meu "exílio" por enquanto foi
curtíssimo. Já estou de volta ao Brasil, por duas semanas, acompanhando a missão anual de consultas com
o FMI.
O tema do momento é o câmbio,
claro. O debate se mostra cada vez
mais polarizado. Alguns consideram
a queda do dólar inevitável ou bem-vinda. Afirma-se que ela reflete a situação internacional e a melhora
dos "fundamentos" da economia
brasileira. Muitos lembram que o
real forte ajuda a controlar a inflação. Outros recordam que a valorização efetiva do real (isto é, em relação a uma cesta de moedas relevantes) não é tão pronunciada quanto a
valorização em relação ao dólar.
Esses argumentos têm alguma validade. Mas parece estar ficando cada vez mais claro que os custos da
valorização excedem as suas vantagens. O balanço de pagamentos continua forte. Porém a valorização persistente e crescente do real tende a
provocar uma erosão gradual das
contas externas. Essa erosão só não
é mais rápida porque o contexto
econômico mundial ainda é (até
quando?) muito favorável.
A taxa de câmbio apreciada prejudica também o nível de atividade, especialmente no setor industrial. Ela
deprime, como se sabe, a competitividades das exportações e estimula a
substituição de produção nacional
por importações.
Além disso, o real forte estimula a
migração de investimentos de empresas brasileiras para o exterior (e
desestimula investimentos estrangeiros produtivos no país). Primeiro, porque representa aumento do
poder de compra do real em termos
de moedas estrangeiras (e encarecimento do custo de investir no país).
Segundo, porque estimula as filiais
de empresas estrangeiras a transferir atividades para países com condições cambiais mais favoráveis à exportação. Até empresas de capital
nacional têm feito esse movimento
para escapar ao real forte e a outros
componentes do "custo Brasil".
Em resumo, estamos ativamente
engajados na exportação de produção, investimentos e empregos para
o exterior!
A valorização do real é inevitável?
O governo nada pode fazer, além de
proporcionar compensações tributárias e creditícias aos setores industriais mais atingidos?
No meu entender, a resposta é não
-ainda que o problema seja de difícil solução. Não é necessário nem recomendável abandonar o regime de
câmbio flutuante. Mas a primeira
providência teria que ser uma aceleração do ritmo de queda dos juros. A
taxa de juro no Brasil continua fora
dos padrões internacionais e contribui poderosamente para impulsionar a valorização do real. A redução
mais rápida dos juros traria outro
benefício: diminuiria o custo de carregar as reservas internacionais, facilitando as intervenções do Banco Central no mercado cambial.
Pode, é claro, surgir um dilema: a
taxa de juro requerida para manter a
inflação dentro da meta pode ser alta demais para evitar a apreciação
do real. Nesse caso, o Conselho Monetário Nacional deveria evitar metas ambiciosas de inflação e poderia
até flexibilizar alguns aspectos do
regime de metas. Finalmente, sempre existe a possibilidade de erguer
barreiras tributárias e de outra natureza contra a entrada de capitais
especulativos ou de curto prazo.
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. , 52, escreve às quintas-feiras nesta coluna. Diretor-executivo no FMI, representa
um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago).
pnbjr@attglobal.net
Texto Anterior: Alta do real leva preço da soja a maior patamar em 11 semanas Próximo Texto: Vinicius Torres Freire: O que faz um número redondo Índice
|