São Paulo, quinta-feira, 17 de maio de 2007

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PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.

Dólar a menos de R$ 2!


Estamos ativamente engajados na exportação de produção, investimentos e empregos para o exterior

O ARTIGO DA QUINTA-FEIRA passada sobre o meu "exílio" em Washington suscitou muitas mensagens de apoio e de incentivo. Uma leitora, entretanto, considerou o texto infantil. Tudo bem. Mas não se esqueça, leitora: sem rompantes infantis, o adulto apodrece rapidamente.
Reconheço que fiz um certo drama. O meu "exílio" por enquanto foi curtíssimo. Já estou de volta ao Brasil, por duas semanas, acompanhando a missão anual de consultas com o FMI.
O tema do momento é o câmbio, claro. O debate se mostra cada vez mais polarizado. Alguns consideram a queda do dólar inevitável ou bem-vinda. Afirma-se que ela reflete a situação internacional e a melhora dos "fundamentos" da economia brasileira. Muitos lembram que o real forte ajuda a controlar a inflação. Outros recordam que a valorização efetiva do real (isto é, em relação a uma cesta de moedas relevantes) não é tão pronunciada quanto a valorização em relação ao dólar.
Esses argumentos têm alguma validade. Mas parece estar ficando cada vez mais claro que os custos da valorização excedem as suas vantagens. O balanço de pagamentos continua forte. Porém a valorização persistente e crescente do real tende a provocar uma erosão gradual das contas externas. Essa erosão só não é mais rápida porque o contexto econômico mundial ainda é (até quando?) muito favorável.
A taxa de câmbio apreciada prejudica também o nível de atividade, especialmente no setor industrial. Ela deprime, como se sabe, a competitividades das exportações e estimula a substituição de produção nacional por importações.
Além disso, o real forte estimula a migração de investimentos de empresas brasileiras para o exterior (e desestimula investimentos estrangeiros produtivos no país). Primeiro, porque representa aumento do poder de compra do real em termos de moedas estrangeiras (e encarecimento do custo de investir no país). Segundo, porque estimula as filiais de empresas estrangeiras a transferir atividades para países com condições cambiais mais favoráveis à exportação. Até empresas de capital nacional têm feito esse movimento para escapar ao real forte e a outros componentes do "custo Brasil".
Em resumo, estamos ativamente engajados na exportação de produção, investimentos e empregos para o exterior!
A valorização do real é inevitável? O governo nada pode fazer, além de proporcionar compensações tributárias e creditícias aos setores industriais mais atingidos?
No meu entender, a resposta é não -ainda que o problema seja de difícil solução. Não é necessário nem recomendável abandonar o regime de câmbio flutuante. Mas a primeira providência teria que ser uma aceleração do ritmo de queda dos juros. A taxa de juro no Brasil continua fora dos padrões internacionais e contribui poderosamente para impulsionar a valorização do real. A redução mais rápida dos juros traria outro benefício: diminuiria o custo de carregar as reservas internacionais, facilitando as intervenções do Banco Central no mercado cambial.
Pode, é claro, surgir um dilema: a taxa de juro requerida para manter a inflação dentro da meta pode ser alta demais para evitar a apreciação do real. Nesse caso, o Conselho Monetário Nacional deveria evitar metas ambiciosas de inflação e poderia até flexibilizar alguns aspectos do regime de metas. Finalmente, sempre existe a possibilidade de erguer barreiras tributárias e de outra natureza contra a entrada de capitais especulativos ou de curto prazo.


PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. , 52, escreve às quintas-feiras nesta coluna. Diretor-executivo no FMI, representa um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago).
pnbjr@attglobal.net


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