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VINICIUS TORRES FREIRE
O que faz um número redondo
"Mercado" derrubou o dólar e também a expectativa de inflação e os juros da praça. BC vai jogar a toalha da Selic?
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O PAÍS FICOU em polvorosa devido a um número redondo:
R$ 2,00. O público em geral e
econometristas de banco parecem
mesmo gostar de numerologia. Mas,
assim como usar cabelos compridos
desgrenhados e mostrar a língua
não nos transforma em Einsteins, o
dólar estar a R$ 2,009 ou R$ 1,9988,
digamos, não altera em nada o mundo das empresas ou das finanças.
O que se passa é que o "réveillon"
do dólar barato, que se convencionou ser o "piso" de R$ 2,00, coincidiu com nova onda de euforia da finança global e nacional. Ao menos
na cabeça dos povos do mercado,
cresce a chance de juros cadentes
nos EUA, enquanto no Brasil é incerto até o corte adicional de um
quarto de ponto de porcentagem na
nossa taxa aberrante. Além do mais,
duas agências de classificação da
qualidade de crédito afirmaram no
espaço de uma semana que o Brasil
parece um país menos caloteiro.
O governo foi agora tomado da
azáfama de costurar medidas que
reduzam o peso dos impostos sobre
empresas avariadas pelo real forte
(embora impostos excessivos criem
problemas para quase todo mundo).
Os povos do mercado saem-se com
salvacionismos disparatados, como
abrir "geral" o país às importações (o
que é preciso fazer, de modo planejado e inteligente, e em breve, mas
não para "resolver" o problema do
câmbio, que "melhoraria", por esse
método, apenas em caso de grande
desordem na economia real). Destamparam a caixa de disparates e esparadrapos econômicos, mais uma.
Voltaram os debates acirrados sobre os volúveis e imprevisíveis efeitos da taxa de câmbio na economia
real. Quanto mais acirrado um debate com tantas incertezas, mais certo
que estamos ainda mais no terreno
de preferências políticas sobre como deve ser a economia do país.
Diz-se que o real forte facilita a
compra de máquinas mais sofisticadas, mais baratas, e assim incrementa a produtividade nacional. É verdade, em parte. Mas a compra de
máquinas não responde apenas a
câmbio. Depende do ritmo total da
atividade econômica (PIB), industrial, depende dos setores que estão
puxando a economia etc. Associar as duas "variáveis", assim, sem mais, é propaganda, não bom argumento econômico.
Voltou a polêmica exagerada da
"desindustrialização". Debate-se o
"índice de difusão" do crescimento
pelos diversos setores industriais
(quanto mais setores estiverem
crescendo, ou crescendo tanto ou
mais quanto a média da indústria,
maior a difusão e, em tese, menores
os indícios de desindustrialização).
O índice de difusão tem crescido,
sim. Volta ao patamar de 2000 (considerado o número de setores que
cresce acima da média da indústria).
Mas, em 2000, a indústria crescia o
dobro do que cresce hoje. Há uma
difusão da mediocridade, por ora.
A vida é mais complexa do que joguinhos ideológicos com variáveis.
vinit@uol.com.br
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