São Paulo, sábado, 17 de junho de 2000


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COMÉRCIO INTERNACIONAL
Fabricantes de papel cartão estariam vendendo o produto para brasileiros a preços predatórios
Brasil investiga dumping de chilenos

SÉRGIO LÍRIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil abriu investigação para verificar se os fabricantes chilenos de papel cartão, usado na confecção de embalagens, adotaram práticas de dumping (preços predatórios para ganhar mercado) em suas vendas para o Brasil.
A Secretaria de Comércio Exterior iniciou as investigações a pedido dos fabricantes nacionais, que acusam as indústrias do Chile de vender seus produtos no Brasil abaixo do preço de custo.
O processo ainda está em fase inicial. O governo brasileiro enviou questionários com pedidos de informações às autoridades e empresários chilenos envolvidos no imbróglio.
Os produtores nacionais também receberam o questionário. O prazo para a resposta é de 40 dias.
Caso se comprove prática de dumping, o Brasil pode adotar barreiras tarifárias contra os produtos chilenos, de acordo com as normas da OMC (Organização Mundial do Comércio).
A disputa pode ser longa. Todas as partes têm amplo direito de defesa. Mesmo se o Brasil decidir impor barreiras tarifárias aos fabricantes vizinhos, o Chile pode recorrer à OMC.
No documento que deu origem às investigações, os fabricantes nacionais alegam haver "um quadro de ameaça de dano à indústria doméstica decorrente das importações chilenas".
Na conclusão do documento, a secretaria afirma que a análise dos dados "indicou a existência de indícios de que as importações originadas do Chile, alegadamente a preço de dumping, representam danos à indústria doméstica".

Meteoro
A ameaça aos produtores brasileiros estaria expressa no crescimento meteórico das importações do Chile e no comportamento dos preços do papel cartão.
Segundo os dados apresentados pelos fabricantes brasileiros, a tonelada do produto caiu de US$ 744 para US$ 571 entre 98 e 99, apesar de uma recuperação geral dos preços de papel no mercado internacional.
No mesmo período, as importações do Chile tiveram um salto surpreendente de 2.261%, mesmo com a desvalorização do real, que tornou os produtos externos mais caros.
Só para comparar: as importações de outros países, por estarem mais caras, caíram 21%.
O aumento também surpreende quando comparado a outros indicadores. No período, o consumo interno recuou 2,5%. Resultado: entre 97 e 99, a participação do produto chileno no consumo total feito no Brasil saltou de 0,1% para quase 3%.
O assunto tem sido tratado com cuidado pelos fabricantes brasileiros. Eles tentaram convencer o governo a impor barreiras imediatas, mas o Ministério do Desenvolvimento decidiu seguir as regras da OMC, que indicam a abertura de uma investigação.
Os produtores querem barrar o crescimento dos chilenos antes que eles dominem uma fatia expressiva do mercado.
Eles desconfiam que o preço menor dos chilenos seria forma de escoar os produtos de uma nova unidade que entrou em funcionamento no ano passado e incorporou mais 150 mil toneladas ano à produção do país.
Até 98, o Chile produzia apenas 48 mil toneladas, insuficientes para atender o seu próprio mercado.
Para alguns clientes dos produtores de papel cartão nacional, a tentativa de impor barreiras aos vizinhos seria uma forma de pressionar por aumentos de preços.


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