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COMÉRCIO INTERNACIONAL
Fabricantes de papel cartão estariam vendendo o produto para brasileiros a preços predatórios
Brasil investiga dumping de chilenos
SÉRGIO LÍRIO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil abriu investigação para
verificar se os fabricantes chilenos
de papel cartão, usado na confecção de embalagens, adotaram
práticas de dumping (preços predatórios para ganhar mercado)
em suas vendas para o Brasil.
A Secretaria de Comércio Exterior iniciou as investigações a pedido dos fabricantes nacionais,
que acusam as indústrias do Chile
de vender seus produtos no Brasil
abaixo do preço de custo.
O processo ainda está em fase
inicial. O governo brasileiro enviou questionários com pedidos
de informações às autoridades e
empresários chilenos envolvidos
no imbróglio.
Os produtores nacionais também receberam o questionário. O
prazo para a resposta é de 40 dias.
Caso se comprove prática de
dumping, o Brasil pode adotar
barreiras tarifárias contra os produtos chilenos, de acordo com as
normas da OMC (Organização
Mundial do Comércio).
A disputa pode ser longa. Todas
as partes têm amplo direito de defesa. Mesmo se o Brasil decidir
impor barreiras tarifárias aos fabricantes vizinhos, o Chile pode
recorrer à OMC.
No documento que deu origem
às investigações, os fabricantes
nacionais alegam haver "um quadro de ameaça de dano à indústria doméstica decorrente das importações chilenas".
Na conclusão do documento, a
secretaria afirma que a análise dos
dados "indicou a existência de indícios de que as importações originadas do Chile, alegadamente a
preço de dumping, representam
danos à indústria doméstica".
Meteoro
A ameaça aos produtores brasileiros estaria expressa no crescimento meteórico das importações do Chile e no comportamento dos preços do papel cartão.
Segundo os dados apresentados
pelos fabricantes brasileiros, a tonelada do produto caiu de US$
744 para US$ 571 entre 98 e 99,
apesar de uma recuperação geral
dos preços de papel no mercado
internacional.
No mesmo período, as importações do Chile tiveram um salto
surpreendente de 2.261%, mesmo
com a desvalorização do real, que
tornou os produtos externos mais
caros.
Só para comparar: as importações de outros países, por estarem
mais caras, caíram 21%.
O aumento também surpreende quando comparado a outros
indicadores. No período, o consumo interno recuou 2,5%. Resultado: entre 97 e 99, a participação do
produto chileno no consumo total feito no Brasil saltou de 0,1%
para quase 3%.
O assunto tem sido tratado com
cuidado pelos fabricantes brasileiros. Eles tentaram convencer o
governo a impor barreiras imediatas, mas o Ministério do Desenvolvimento decidiu seguir as
regras da OMC, que indicam a
abertura de uma investigação.
Os produtores querem barrar o
crescimento dos chilenos antes
que eles dominem uma fatia expressiva do mercado.
Eles desconfiam que o preço
menor dos chilenos seria forma
de escoar os produtos de uma nova unidade que entrou em funcionamento no ano passado e incorporou mais 150 mil toneladas ano
à produção do país.
Até 98, o Chile produzia apenas
48 mil toneladas, insuficientes para atender o seu próprio mercado.
Para alguns clientes dos produtores de papel cartão nacional, a
tentativa de impor barreiras aos
vizinhos seria uma forma de pressionar por aumentos de preços.
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