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MUDANÇA DE HÁBITO
Cresce a venda de macarrão instantâneo e carne de porco
Brasileiro corta gasto com
alimentação e come pior
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Nem frango nem arroz e feijão.
O prato do brasileiro neste ano é
mais uma mistura de macarrão
instantâneo e carne suína, dois
dos produtos que tiveram recorde
de vendas em 2002. Para beber,
sai o refrigerante e entra o suco
pronto. Mas essas mudanças nos
hábitos de consumo não elevaram os gastos nas lojas.
Pelo contrário. Um estudo mostra que o consumidor trocou os
produtos para gastar menos.
Com base nos dados do Instituto Nielsen, cruzados com os do
Instituto Brasileiro de Pesquisas e
Desenvolvimento Comercial, é
possível revelar o que o brasileiro
está levando para casa assim como a quantidade, e, com base nos
resultados, traçar alterações nos
costumes de compra.
A venda de massa instantânea,
por exemplo cresceu 22,3% de janeiro a março. Supermercados
ouvidos pela Folha constataram
estabilidade nessa demanda nos
meses de abril e maio. Essa taxa
apurada no ano é elevada.
No mesmo período analisado,
as lojas registraram uma elevação
bem menor (0,4%) nas vendas de
itens alimentícios em geral, incluindo o arroz e o feijão, segundo
a Abras (Associação Brasileira de
Supermercados).
"Com o veloz empobrecimento
da população, não dá para o brasileiro manter na despensa aquilo
que tinha antes", diz João Carlos
Lazzarini, diretor de varejo da AC
Nielsen. "É natural que sejam feitas trocas temporárias."
As mudanças fizeram o consumidor desembolsar menos. Levantamento do Instituto Brasileiro de Pesquisas e Desenvolvimento Comercial, com mais de 5.000
pessoas em supermercados, mostra que o gasto médio de compra
por tíquete caiu de R$ 55,15 em
2000 para R$ 44,80 no ano. Mas o
número de itens comprados subiu de 22,6 para 30,7.
Segundo ranking da Nielsen, o
"miojo" ocupa a quarta colocação
entre os produtos com maior expansão no volume de vendas no
Estado de São Paulo. Perde para o
suco pronto (24,7%) e para salgadinhos em pacote, fabricados por
empresas como Elma Chipps e
Yoki. Para esse produto, a expansão foi de 77,4%.
A "farra do porco"
No mesmo período, os fornecedores de alimentos como Sadia e
Seara, apresentaram um crescimento acelerado no abate e venda
de carne de porco para o mercado
interno. Frango e carne registraram, ao mesmo tempo, queda na
venda aos supermercados segundo balanço das companhias.
A maior fornecedora do país, a
Sadia, apurou expansão de 21,3%
nas vendas físicas (em toneladas)
de suínos até março em relação ao
mesmo período de 2001. A venda
de aves e de industrializados (carne bovina, assados e grelhados)
caiu 17,8% e 6,4%, respectivamente. O dinheiro que entrou no
caixa da empresa, com a venda de
carne suína, cresceu 78%.
Na Seara, empresa do sul do
país, foi preciso abater 430 mil cabeças de suínos -26,8% mais do
que em 2001- para atender a demanda no início do ano. Ao mesmo tempo, a venda de 22,2 mil toneladas de frango no primeiro trimestre foi 7,7% inferior ao comercializado no mesmo período
do ano passado.
Segundo Lazzarini, pesquisa
realizada em 2001 mostra que a
classe média gasta 18% de sua
renda mensal com a compra de
alimentos. As classes de menor
poder aquisitivo gastam, em média, 40%. Quando os salários ficam comprimidos, como agora, a
saída é escolher outros produtos
nas prateleiras, diz.
Por isso, analistas do setor acreditam que a receita com a venda
de suínos continuará a rechear o
caixa das companhias no segundo trimestre. A demanda não
caiu, e não há elevação de preços
desse item. A Fipe, que apura as
variações preços no país, verificou quedas nos valores do quilo
dessa carne de janeiro a abril. Isso
ajuda a manter a procura pelo
produto elevada. Algo que as
companhias já começam a chamar de a "farra do porco".
"Sabemos que o frango continua sendo um produto barato.
Mas a verdade é que o preço da
carne suína também está atraente.
O brasileiro está descobrindo esse
produto", diz Martinho Moreira,
diretor da D'Avó Supermercados.
Renda deprimida
Lojas e fornecedores não se arriscam a dizer, entretanto, que a
busca de produtos mais baratos
atingiu muito as "commodities"
como o arroz e o feijão. Segundo a
Folha apurou com dois fornecedores, existem quedas na comercialização seguidas de ligeiras elevações.
Há compras em menor escala
-de marcas mais baratas- e a
despensa acaba sendo recheada
pelo macarrão, afirmam. Para a
Perdigão, entretanto, essa substituição não é verificada.
"O que achamos que poderá alterar o perfil das compras é um
constante aumento no desemprego. Ainda não verificamos substituições naquele nível que tivemos
no início dos anos 80", afirma Antonio Zambeli, diretor de marketing do grupo.
O que incentivou as trocas de
produtos naquela época foi a forte
recessão econômica vivida pelo
país. O problema é que, nos últimos doze meses, a forte queda na
massa salarial abriu espaço para
que esse movimento se repetisse,
afirmam analistas. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o rendimento
dos trabalhadores sofreu uma
queda real de 6,3% nos 12 meses
terminados em fevereiro.
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