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Lei de Falências, 1, tem poucos "usuários"
De junho de 2005 a maio último, só 208 empresas pediram recuperação judicial no país com base na nova legislação
Um dos motivos que
explicam a baixa adesão à
lei é que os empresários
temem expor as contas aos
credores na recuperação
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O número de pedidos de falência continuou batendo, de
goleada, o de recuperação judicial durante o primeiro ano da
nova Lei de Falências. Foram
6.443 falências requeridas de
junho do ano passado a maio
deste ano, e 208 de recuperação, segundo dados da Serasa.
"Com a nova lei, esperava-se
que ocorresse o oposto", observa Laura Bumachar, advogada
do escritório Barbosa, Müssnich & Aragão.
A recuperação judicial substituiu a antiga concordata e é
considerada um processo no
qual empresas em dificuldades
financeiras têm mais chance de
se reerguer. A lei estreou em junho do ano passado com dois
casos de grande visibilidade: o
da Parmalat -que concluiu em
maio um acordo com os credores, obtendo redução de 83% na
sua dívida- e o da Varig, que
agoniza publicamente.
Dois fatores explicam o número ainda reduzido de adesões à nova lei, segundo advogados e consultores. O primeiro
é o medo que os empresários
têm de expor suas contas aos
credores num processo de recuperação judicial -condição
básica da negociação entre as
duas partes.
"Os empresários ficaram um
pouco receosos com a lei. A
concordata era mais unilateral,
determinava quanto e quando
pagar [40% dos débitos no primeiro ano e 60% no segundo].
Na recuperação, as empresas
têm de abrir sua contabilidade
para negociar com os credores", diz Maria Isabel Alvarenga, sócia do escritório Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados.
O segundo fator que explica
por que ainda é pequeno o número de pedidos de recuperação é o fato de a lei ter sido usada para tentar ressuscitar empresas tecnicamente falidas,
como a Varig e a Vasp, segundo
especialistas.
Profissionais de grandes escritórios de advocacia relatam
que a cada novo capítulo do
drama da Varig, empresas em
dificuldades que os consultam
sobre a oportunidade de pedir
recuperação judicial desistem
desse caminho.
Advogados falencistas, investidores especializados em comprar empresas em dificuldades
e consultores de gestão consultados pela Folha foram unânimes em afirmar que o caso da
Varig não se enquadra no espírito da nova Lei de Falências.
"É preciso que a lei seja aplicada no seu espírito: pode pedir recuperação judicial a empresa que é viável, que pode pagar suas despesas operacionais", observa Bumachar.
O juiz encarregado do processo de recuperação judicial
da Varig, Luiz Roberto Ayoub,
da 1ª Vara Empresarial do Rio
de Janeiro, diz que "se não
acreditasse na recuperação da
empresa teria decretado a falência há um ano".
Desgaste
Os especialistas em falências
consideram, porém, que o processo de recuperação judicial
da aérea é uma tentativa desesperada de salvá-la "forçando" a
lei. Citam um precedente perigoso como a liberação, pela
Justiça, de recebíveis dados em
garantia a credores. Esses títulos foram vendidos pela Varig e
os recursos foram usados para
pagar o combustível necessário
para mantê-la no ar.
Outro precedente que estaria
gerando temor em relação à
aplicação da lei é o caso da
Vasp. Ela parou de voar em janeiro de 2005, teve canceladas
as concessões de todas as linhas
e está sob intervenção desde
março daquele ano. No início
de julho de 2005, entrou com
pedido de recuperação judicial.
O juiz Alexandre Alves Lazzarini, da 1ª Vara de Falências e
Recuperações Judiciais de São
Paulo, que acatou o pedido, diz
que "a Vasp não é só avião
voando. Tem uma parte enorme de manutenção em funcionamento". Para ele, a empresa
pode recuperar-se atuando como prestadora desse tipo de
serviço. "Voar, só mais tarde."
No entanto, a Vasp ainda não
conseguiu fechar seu plano de
recuperação e o total da dívida
ainda é motivo de grande discussão. Os credores acusam
rombo de R$ 5 bilhões e a empresa, de R$ 3 bilhões. São embates desse tipo que os empresários em dificuldades temem
enfrentar ao recorrer à nova lei.
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