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VINICIUS TORRES FREIRE
Reforma política, Suécia e Namíbia
Estudo mostra que regras eleitorais não dizem muito sobre a qualidade da política e da democracia de cada país
REGRAS ELEITORAIS importam? Nosso Congresso podre
acha que sim e está para votar
uma reforma do modo pelo qual escolhemos parlamentares e partidos.
Ora votamos em listas abertas. O
eleitor escolhe seu candidato. O número de eleitos de cada partido depende, grosso modo, da soma dos
votos de todos os seus candidatos a
deputado e da fatia da votação que a
legenda obteve no total de sufrágios.
Os candidatos mais votados pelos
eleitores entram nas vagas que cabem a cada partido. Pela reforma,
existiria só o voto na legenda. Legendas mais votadas teriam mais deputados, mas os eleitos seriam escolhidos de antemão pelos partidos, que
decidiriam quem vai para o Congresso. Isto é, os partidos ofereceriam ao eleitor uma lista fechada e
pré-ordenada de candidatos.
Na inconclusiva e controversa literatura a respeito, há quem diga
que sistemas de listas abertas induzem à competição entre candidatos
do próprio partido, que assim se
preocupam mais com sua imagem
individual e em prestar favores a sua
clientela, pouco ligando para programas e fidelidade partidárias, entre outros defeitos. Tais estudos de
ciência política, comparações de estatísticas políticas de diversos países, em geral desconsideram contextos sociais, econômicos e culturais. Concentram-se no modo pelo
qual políticos e eleitores se adaptam
à norma eleitoral e dela procuram
extrair benefícios. Os politólogos
parecem pesquisar invariáveis na
relação entre sociedades, regras
eleitorais e seus efeitos na política.
Ainda assim, um dos estudos mais
completos e recentes sobre o assunto derruba essas teses já em si frágeis
sobre a relação entre modelos de voto e o Estado de bem-estar democrático. O trabalho, "Regras Eleitorais
Importam?", é do cientista político
André Marenco dos Santos, da
UFRGS (revista "Dados", dezembro/2006, grátis em www.scielo.br/revistas/dados/iaboutj.htm).
A lista aberta não está associada
à indiferença em relação a eleições
(abstenção) ou à flutuação excessiva nas preferências partidárias do
eleitorado em cada votação. Não
está associada a uma dificuldade
maior do eleitorado de avaliar o desempenho de políticos, partidos e o
efeito de suas ações. Não está associada a mais corrupção política,
que na verdade tende a ser menor
em sociedades de nível de renda e
bem-estar social maiores (bidu). A
longevidade dos partidos também
não é prejudicada pelo sistema de
lista aberta.
A lista aberta, com variações, é
adotada em lugares como Suécia,
Colômbia, Suíça, Panamá ou Brasil. A fechada, em Serra Leoa, Moçambique, Espanha ou Holanda.
Listas fechadas ou abertas não parecem dizer muito da qualidade de
sistemas políticos ou democracias.
vinit@uol.com.br
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