São Paulo, terça-feira, 17 de junho de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

Quem quer dinheiro?


Expectativas de inflação continuam a piorar; governo pagava ontem 15% ao ano a quem financia a sua dívida

O GOVERNO tomava ontem dinheiro emprestado a pouco mais de 15% ao ano num dos seus papéis -trata-se da Letras do Tesouro Nacional (LTN) com vencimento em julho de 2010, título da dívida pública prefixado. Descontada a taxa de inflação esperada pelo mercado para os próximos 12 meses, o papel renderia uns 9,7% no primeiro ano. Ou ainda mais, caso a inflação caia daí em diante. Faz um ano, o governo pagava cerca de 10,5% no mesmo papel que venceria dali a dois anos, com taxa real esperada de pouco menos de 7%.
Não se trata das taxas para as quais o mercado olha a fim de fazer seus negócios e definir os pisos dos juros da "praça" -por falar neles, a taxa de juros do contrato futuro de janeiro de 2010 (o DI) estava ontem em horrorosos 14,92% ao ano. Mas os juros dos títulos do governo são, óbvio, um reflexo do ânimo da praça e o preço que o governo paga para tomar dinheiro novo. São ainda um sinal de como se deterioram cada vez mais as expectativas de inflação no país. O "mercado", quem financia a dívida do governo, pede juros mais altos e um "extra" maior pela incerteza a respeito da inflação.
Enfim, e o que interessa aqui, os números dão o que pensar para o investidor comum um pouco mais agressivo, que pende entre Bolsa e renda fixa nas suas aplicações de curto prazo. Dá ainda mais o que pensar para o investidor que aplica diretamente na dívida pública, via Tesouro Direto, em vez de recorrer ao serviço dos bancos (isto é, em vez de aplicar em fundos e deixar uma fatia dos juros mais a taxa de administração para os bancos).
No curto prazo, o governo voltou a dar muito dinheiro. Seria preciso esperar que a Bolsa fosse ao patamar de 77 mil pontos daqui a um ano para "compensar" o rendimento dos títulos do Tesouro, num cálculo rudimentar, com a diferença de que o papel do governo não corcoveia feito a Bolsa. Enfim, o título do governo tem rentabilidade alta, risco quase zero e variação nenhuma (se a aplicação é mantida até o vencimento). Sim, o Ibovespa já foi a 73.500 pontos neste ano. Tem analista de mercado que ainda aposta em Ibovespa a 80 mil pontos em dezembro.
Pode ser, pode ser até melhor, pode não ser. Um cidadão mais conservador e que procura motivos mais "fundamentais" para a direção do mercado (o que no curto prazo também por vezes dá errado, ressalte-se), colocaria a ponta das barbas de molho. A tendência dos juros é de alta no Brasil e no mundo. Juros planetários em alta podem (atenção: PODEM) conter o ânimo dos preços das commodities, como petróleo e ferro, isto é, Petrobras e Vale, as puxadoras do samba-enredo e do valor da Bolsa brasileira.
Este texto NÃO É recomendação de investimento. É apenas uma breve notícia e um lembrete de que as taxas de juros estão de volta a um nível pavoroso.

vinit@uol.com.br


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