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Brasil, Índia e China travam Doha, diz Bush
Emergentes precisam fazer mais concessões, afirma presidente dos EUA; Brasil critica subsídio agrícola
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
O presidente norte-americano, George W. Bush, culpou ontem o Brasil, a Índia e a China
de atrasarem a conclusão da
Rodada Doha de abertura do
comércio mundial. Bush disse
que os países emergentes precisam fazer mais concessões
nas negociações sobre bens industriais e serviços para que o
processo avance.
Para o Brasil, a lógica é inversa. "Nossa visão é diametralmente oposta. Os países desenvolvidos é que precisam abrir
mão de seus subsídios agrícolas", disse o embaixador Roberto Azevedo, negociador-chefe
do Brasil na OMC (Organização
Mundial do Comércio). Para
Azevedo, os Estados Unidos estão "na contramão" da tendência do comércio mundial, que é
a liberalização agrícola.
Em mais uma parada em sua
turnê de despedida da Europa,
Bush visitou o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown,
em Londres, e seguiu um ritual
de fim de Presidência: falar de
seu "legado". Para ele, é possível obter um acordo durante
seu mandato. "Este é o momento para completar a Rodada
Doha e para isso tem de haver
mais movimento nos setores de
manufaturas e serviços, que
permita um acordo equilibrado
e justo", disse o presidente norte-americano.
Bush faz pressão sobre os
países em desenvolvimento no
início de uma semana em que
os Estados Unidos organizam
em Genebra uma reunião para
tentar resolver as diferenças
por meio do recém-criado G12.
Ele inclui, além dos Estados
Unidos, Brasil, Austrália, Canadá, China, União Européia, Índia, Japão, Malásia, México,
Paquistão e África do Sul.
Na "defensiva"
Para Azevedo, que chega
amanhã a Genebra, foi uma declaração "defensiva" do presidente americano.
"Bush sabe que a chave para a
conclusão da Rodada são os Estados Unidos", disse o diplomata, que até setembro assume a
chefia da missão do Brasil em
Genebra, em substituição ao
embaixador Clodoaldo Hugueney, que vai para Pequim.
Azevedo destacou nas negociações desta semana na OMC
a posição ofensiva brasileira
contra o protecionismo agrícola dos países ricos.
Para ele, a recente renovação
da Lei Agrícola dos Estados
Unidos, que concede US$ 290
bilhões em subsídios, compromete a credibilidade norte-americana nas negociações.
Enquanto fica no ataque no
setor agrícola, o Itamaraty tenta proteger sua indústria, pedindo flexibilidades para setores "sensíveis". O Brasil e os demais membros do Mercosul
também não abrem mão de que
haja um padrão de cálculo especial para as uniões aduaneiras. Estados Unidos e outros
países desenvolvidos temem
que isso crie entraves na abertura comercial.
Na última sexta-feira, o diretor-geral da OMC, Pascal
Lamy, reuniu embaixadores de
30 dos principais países negociadores e disse que ainda não
havia progresso suficiente nas
negociações industriais para a
convocação de um encontro
ministerial. Lamy tenta essa
reunião desde a Páscoa.
No mesmo dia, o embaixador
dos Estados Unidos na OMC,
Peter Allgeier, admitiu que já
não há mais tempo para chegar
a um acordo sobre a Rodada
Doha antes das eleições norte-americanas que serão realizadas em novembro próximo.
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