São Paulo, terça-feira, 17 de junho de 2008

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Brasil, Índia e China travam Doha, diz Bush

Emergentes precisam fazer mais concessões, afirma presidente dos EUA; Brasil critica subsídio agrícola

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

O presidente norte-americano, George W. Bush, culpou ontem o Brasil, a Índia e a China de atrasarem a conclusão da Rodada Doha de abertura do comércio mundial. Bush disse que os países emergentes precisam fazer mais concessões nas negociações sobre bens industriais e serviços para que o processo avance.
Para o Brasil, a lógica é inversa. "Nossa visão é diametralmente oposta. Os países desenvolvidos é que precisam abrir mão de seus subsídios agrícolas", disse o embaixador Roberto Azevedo, negociador-chefe do Brasil na OMC (Organização Mundial do Comércio). Para Azevedo, os Estados Unidos estão "na contramão" da tendência do comércio mundial, que é a liberalização agrícola.
Em mais uma parada em sua turnê de despedida da Europa, Bush visitou o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, em Londres, e seguiu um ritual de fim de Presidência: falar de seu "legado". Para ele, é possível obter um acordo durante seu mandato. "Este é o momento para completar a Rodada Doha e para isso tem de haver mais movimento nos setores de manufaturas e serviços, que permita um acordo equilibrado e justo", disse o presidente norte-americano.
Bush faz pressão sobre os países em desenvolvimento no início de uma semana em que os Estados Unidos organizam em Genebra uma reunião para tentar resolver as diferenças por meio do recém-criado G12. Ele inclui, além dos Estados Unidos, Brasil, Austrália, Canadá, China, União Européia, Índia, Japão, Malásia, México, Paquistão e África do Sul.

Na "defensiva"
Para Azevedo, que chega amanhã a Genebra, foi uma declaração "defensiva" do presidente americano.
"Bush sabe que a chave para a conclusão da Rodada são os Estados Unidos", disse o diplomata, que até setembro assume a chefia da missão do Brasil em Genebra, em substituição ao embaixador Clodoaldo Hugueney, que vai para Pequim.
Azevedo destacou nas negociações desta semana na OMC a posição ofensiva brasileira contra o protecionismo agrícola dos países ricos.
Para ele, a recente renovação da Lei Agrícola dos Estados Unidos, que concede US$ 290 bilhões em subsídios, compromete a credibilidade norte-americana nas negociações.
Enquanto fica no ataque no setor agrícola, o Itamaraty tenta proteger sua indústria, pedindo flexibilidades para setores "sensíveis". O Brasil e os demais membros do Mercosul também não abrem mão de que haja um padrão de cálculo especial para as uniões aduaneiras. Estados Unidos e outros países desenvolvidos temem que isso crie entraves na abertura comercial.
Na última sexta-feira, o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, reuniu embaixadores de 30 dos principais países negociadores e disse que ainda não havia progresso suficiente nas negociações industriais para a convocação de um encontro ministerial. Lamy tenta essa reunião desde a Páscoa.
No mesmo dia, o embaixador dos Estados Unidos na OMC, Peter Allgeier, admitiu que já não há mais tempo para chegar a um acordo sobre a Rodada Doha antes das eleições norte-americanas que serão realizadas em novembro próximo.


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