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Captação da poupança triplica em junho
Volume aplicado nos 7 primeiros dias úteis já supera o de todo o mês de maio; com queda da Selic, caderneta rende mais que fundos
Como 65% da poupança vai para o crédito imobiliário, bancos têm dúvidas se conseguem emprestar todo o volume excedente captado
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Menos de um mês após o governo anunciar mudanças nas
regras da poupança para 2010
com o objetivo de impedir a migração de recursos dos fundos
de investimento, triplicou a
captação diária média de recursos da caderneta, o investimento mais popular no país.
Nos primeiros sete dias úteis
de junho, a poupança somou
R$ 2,018 bilhões (média diária
de R$ 288,4 milhões) em novos
depósitos, já descontados os saques, segundo o Banco Central.
O volume é maior que toda a
captação líquida de maio, que
foi o melhor mês do ano para a
caderneta, quando os depósitos
líquidos somaram R$ 1,881 bilhão (R$ 94 milhões diários).
O boom nas aplicações na
poupança ocorre no momento
em que a maioria dos fundos de
investimento DI (que seguem a
Selic, hoje em 9,25%) já perde
em rendimento para a poupança. Só os fundos que cobram taxas de administração inferiores
a 1,25% conseguem ser competitivos em relação à caderneta.
Com retorno menor, os fundos DI perderam R$ 2,284 bilhões, e os de renda fixa, R$
1,696 bilhão nos primeiros sete
dias úteis do mês, segundo a
Anbid (associação dos bancos
de investimento).
Se a poupança mantiver o
mesmo ritmo de captação, poderá terminar junho com aporte de mais de R$ 6 bilhões.
Compulsório
Como 65% dos recursos são
aplicados, obrigatoriamente,
no financiamento imobiliário,
alguns bancos começam a se
preocupar se conseguirão emprestar todo esse dinheiro -os
recursos não emprestados são
recolhidos com rendimento zero no Banco Central sob a forma de depósito compulsório.
Os bancos reivindicam redução no direcionamento obrigatório de 65% dos recursos da
poupança para o financiamento habitacional. As instituições
dizem que, se o aumento na
captação continuar, terão recursos mais do que suficientes
para o setor. Argumentam ainda que poderiam aplicar o excedente em títulos públicos, diminuindo a pressão sobre a rolagem da dívida pública.
Líder na poupança brasileira,
a Caixa Econômica Federal
tem notado esse forte crescimento das aplicações desde
meados de maio, quando o governo propôs a mudança nas
regras da poupança. A partir de
janeiro de 2010, saldos superiores a R$ 50 mil terão incidência
de Imposto de Renda; até esse
limite, a poupança segue isenta
e com juro de 6,17% mais TR.
Segundo Fabio Lenza, vice-presidente da área de pessoa física da Caixa, o banco prioriza a
captação na poupança para financiar o setor imobiliário. "A
captação cresceu em junho,
mas está tudo dentro do esperado. Se vier mesmo um negócio muito extraordinário, vai
ser uma situação nova, a que todo o país terá de se adaptar."
O banco Santander Real afirma que, por enquanto, não vê
dificuldades para o cumprimento dos 65% de direcionamento. "Supondo que haja um
aumento na captação, deveremos continuar direcionando o
previsto pela legislação", afirmou o banco, em nota.
Para Fabio Nogueira, diretor
da Brazilian Mortgages, financeira especializada em crédito
imobiliário, dificilmente os
grandes bancos deixarão os recursos excedentes da poupança
"morrerem no compulsório".
Nogueira lembra que as instituições podem aplicar esse excedente em papéis que financiam indiretamente o setor
imobiliário como recebíveis.
"Antigamente, os bancos ficavam preocupados com a captação porque achavam que não
teriam como aplicar. Hoje, há
muitas opções. É saudável a
economia ter mais dinheiro para habitação", disse.
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