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OPINIÃO ECONÔMICA
Crescimento sem desenvolvimento
GESNER OLIVEIRA
Não resta dúvida de que a
economia está em crescimento e a um ritmo maior do que
muita gente esperava. Infelizmente esse crescimento não é sustentado. E o país está distante da
rota de desenvolvimento.
Os números desta semana permitem ilustrar esses três conceitos: crescimento, crescimento sustentado e desenvolvimento. Os
dados de produção industrial,
vendas do comércio e emprego indicam com clareza que o país está
em crescimento. Isto é, a produção de bens e serviços registrada
pelas contas nacionais está em expansão. O PIB oficial deverá crescer algo em torno de 4% em 2004.
Sabe-se naturalmente que uma
parcela grande da produção (algo
em torno a 40%) ocorre na informalidade e não é diretamente
capturada pelas estatísticas oficiais.
Para que esse crescimento possa
ser qualificado como sustentado,
seria necessário supor sua manutenção no médio prazo, para um
período de, por exemplo, cinco
anos. No entanto isso exigiria
afastar gargalos evidentes de infra-estrutura e mesmo de capacidade produtiva em geral que a
economia apresentará caso mantenha o atual ritmo de aumento
da produção nos próximos 18 meses. Isso requereria um aumento
da taxa de investimento produtivo que não está sendo verificado.
Por sua vez, o aumento da inversão produtiva exigiria juros
mais baixos e maior segurança
jurídica e estabilidade de regras,
que tampouco estão sendo obtidos. Por isso, o Brasil crescerá em
2004, mas não de forma sustentada. A média de 2003/04 deverá estar próxima a 2%, patamar que
caracterizou o fraco ritmo de expansão do Brasil nas duas últimas décadas.
O problema é ainda mais sério
quando se dá conta de que o crescimento é uma condição necessária, mas não suficiente para o desenvolvimento. Isto é, um país pode crescer rapidamente, mas não
atingir padrões razoáveis de qualidade de vida para a maioria de
sua população. Vários autores
clássicos da teoria do desenvolvimento chamaram a atenção para
o fato de que o desenvolvimento é
um processo de transformação
qualitativa da sociedade, em contraste com o mero aumento do estoque de capital e de produção
capturado pela noção de crescimento.
O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), divulgado nesta semana pelo Pnud (Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento), procura, ainda que
precariamente, oferecer uma medida de desenvolvimento. Nos termos ambiciosos do Pnud, o indicador busca "sintetizar as diversas e complexas dimensões do
processo de desenvolvimento humano". Trata-se, na prática, de
um composto de variáveis de longevidade, taxa de alfabetização e
escolarização e PIB por habitante.
O indicador é construído de forma a variar no intervalo de zero a
um. O desenvolvimento humano
medido dessa forma é tanto melhor quanto mais próximo de um.
Considera-se arbitrariamente
que um IDH superior a 0,8 caracterizaria um desenvolvimento
humano elevado. A Noruega lidera esse campeonato, com um IDH
de 0,956, segundo o Relatório do
Desenvolvimento Humano 2004,
com dados de 2002. Países com
IDH inferior a 0,5 são eufemisticamente classificados como de
"desenvolvimento humano baixo". É o caso do "lanterna" Serra
Leoa, com um IDH de 0,273. O
Brasil está no grupo intermediário, de desenvolvimento humano
médio (IDH entre 0,5 e 0,8), com
um IDH de 0,775, na 72ª posição
na classificação geral.
Países como China e Índia, que
têm apresentado ritmo invejável
de crescimento nos últimos anos,
estão bem abaixo do Brasil em
termos de IDH. A China está na
94ª posição, com um IDH de
0,745, e a Índia, na 127ª, com um
IDH de 0,595. O Brasil, por sua
vez, fica muito abaixo de vários
países latino-americanos, como
Argentina (34ª), Chile (43ª) e México (53ª).
Por mais arbitrários e discutíveis que tais indicadores possam
ser para captar um fenômeno tão
complexo quanto o desenvolvimento, a discussão que ensejam
acaba sendo útil. No caso brasileiro, em particular, serve de alerta
do longo caminho a ser percorrido para atingir níveis razoáveis
de qualidade de vida; e, mais importante, que nem mesmo as condições mínimas para uma trajetória de sucesso estão preenchidas
na atualidade.
Gesner Oliveira, 47, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia
(Berkeley), professor da FGV-EAESP, sócio-diretor da Tendências e ex-presidente do Cade.
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail - gesner@fgvsp.br
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